quarta-feira, 9 de março de 2011

Café, tropas de muares e ferrovia




De imediato não é fácil se explicar sobre o desenvolvimento de São Paulo... em relação aos fatores naturais, o solo desta cidade é considerado como um dos piores do estado. Caio Prado Jr cita, em relação a São Vicente e Santos, que os terrenos são baixos, mangues e pântanos inférteis para o cultivo agrícola, somente depois das construções das drenagens que melhorou a incidência de endemias. Já o planalto apresenta condições mais favoráveis para o povoamento, terras altas e clima temperado diferente do litoral que o clima é tropical.


Antes da expedição de Martim Afonso, o primeiro donatário da província de São Paulo, no começo da colonização oficial do território paulista já existiam europeus instalados na região escolhida pelos primeiros colonos, a vila de Santo André, a povoação era conhecida como Borda-do-Campo devido o lugar ser a trajeto a caminho do mar que constitui um campo. Em 1553 Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil, erigiu a vila com a denominação Santo André da Borda do Campo, mas, estava mais exposta a invasões por ser formada na orla da mata diferente de São Paulo que é compreendido no planalto.

Caio Prado Jr. aponta que São Paulo é privilegiado principalmente os cursos de água pelo Tietê, também pelo acesso ao rio Tamanduateí. Apesar da maioria dos rios não fossem fáceis de navegar, se tratava de melhor via de São Paulo. O povoamento se deu a partir do Tietê, para cima e para baixo, explica que São Paulo tem um importante sistema hidrográfico e relevo que contribuiu para sua contribuição para sua colonização e supremacia.

O principal fator econômico que atraiu a ocupação dos colonos no planalto foi a existência de varias tribos indígenas, uma abundante mão-de-obra, fato anterior ao tráfico negreiro, em meio aos interesses ocorreu um evidente deslocamento da população do centro litorâneo para o planalto, uma ocupação intensa diferente de outras regiões do Brasil. Os Campos de Piratininga foi considerado o primeiro lugar ocupado por portugueses, lugares que foram preparados para a instalação humana, lugar que serviu para o abrigo de várias tribos, sendo uma das zonas mais provisórias do litoral entre todo o planalto meridional brasileiro e os colonos vicentinos encontraram esta região descampada do planalto para se instalarem.

Partindo do pressuposto que “O homem busca no ambiente suas necessidades básicas, transforma a natureza para sobreviver, um processo de transformação do ambiente primitivo conduzida pelo próprio homem para cultivar campos, traçar e construir caminhos, desenvolver ferramentas para facilitar o processo de produção e lugares para a moradia. Este projeto de pesquisa possui como objetivo documentar através de texto e imagens a capacidade do gênero humano em função de sua atividade prática transformar a sociedade em que vive. O dinamismo das relações sociais devido à ação humana em conjunto determina as mutações ocorridas em todo contexto histórico, mas se torna necessário mostrar também que infelizmente na sociedade atual esta capacidade estrita do ser humano se encontra submissa ao julgo do capital. Por isso através do cotidiano nos deparamos com uma sociedade em que os valores e tradições são inseridos como perene o que remete a concluir que definitivamente os indivíduos se relacionam num mundo estático, em que as mudanças se encontram na jurisdição de algo maior e, principalmente, externo ao conjunto dos homens.” (ROSMANINHO e COSTA) buscamos investigar os impactos posterior ao funcionamento da primeira ferrovia em solo paulista, com base nas transformações no modo de organização do trabalho e no desenvolvimento desigual da distribuição territorial.

Realizamos um levantamento de dados históricos para explicar que as mudanças na natureza são realizadas pela atividade do próprio homem, com o objetivo de ir além das aparências imediatas e de acordo com os dados pesquisados evidenciar sensivelmente a constituição dos fatos, na busca do que o dinamismo das relações sociais proporcionou na aparente paisagem, uma análise com base em um meio crucial para as mudanças ocorridas no Brasil: à ferrovia, um meio eficaz para circulação de mercadorias, o que determinou a vinda de muitos estrangeiros e impulsionou o processo de produção industrial.

Escoamento de mercadoria pela ferrovia...

Através desta análise demonstrar que a concessão da malha ferroviária em 1854 com o intuito de interligar o oeste de São Paulo ao Porto de Santos foi determinada primeiramente para o escoamento de mercadorias de forma mais eficaz, alem cenário propício à efetivação do país como um mercado consumidor em potencial. A expansão da monocultura cafeeira no Brasil foi crucial para a introdução da ferrovia como um meio da circulação de mercadorias decorrente ao interesse ascendente de procura do mercado consumidor.

O cultivo do café e da borracha foi significativo na América Latina no panorama da economia mundial, sendo o Brasil o principal produtor do café. Devido a falta de uma ampla rede bancária os europeus organizaram o sistema bancário e o financiamento das exportações e as construções de vias voltadas para a articulação nos portos na América Latina. No século XIX a Inglaterra foi o país que investiu no mundo inteiro, em 1890 os capitais externos eram por volta de 50% voltados para títulos e empréstimos a governos, 45% eram aplicados na construção de ferrovias, portos, minas e serviços urbanos.

Anterior a chegada da estrada férrea no Estado de São Paulo as condições de transporte eram obsoletas para o escoamento do café o que remete a pesquisar sobre as tropas de muares e o desenvolvimento do comércio nas proximidades do trajeto, como por exemplo, a Parada Pouso da Tropa de Lágrimas, compreendida na atual cidade de São Caetano, e Parada dos Meninos, na atual cidade de São Bernardo do Campo, os tropeiros seguiam a caminho do mar do interior até o Porto de Santos com esse transporte rudimentar, o tempo de viagem era longo e desgastante o que determinou a construção de locais de repouso, de cultivo de produtos para o consumo imediato e do comércio. Nos fins do século XIX o volume da demanda do café chegou a um patamar que mesmo com diversas dificuldades a utilização do percurso chegou a colocar em risco a Mata Atlântica ao atender as necessidades mercantis vigentes neste período.

Pouso dos tropeiros

Os interesses econômicos estavam voltados para ampliar a produção do café para ser exportado, alguns dos principais produtos com procura de consumo a nível mundial foram facilmente exportados pela ferrovia, deste modo, o principal foco da ferrovia era operar em função do mercado mundial, a via férrea São Paulo Railway ligava o interior paulista com o Porto de Santos, o primeiro transporte ferroviário no Estado de São Paulo inseriu e distribuiu com eficácia também a produção inglesa.

A economia brasileira neste momento passa a concentrar e se basear estritamente na monocultura cafeeira, o trabalho no processo de produção era baseado na mão-de-obra escravista. Para os ingleses efetivar abolição do trabalho escravo proporcionaria de fato a resolução da problemática em relação ao mercado consumidor brasileiro, fator que permite ser constatado pelo grande interesse inglês em investir e aperfeiçoar o sistema ferroviário do país para potencializar o processo de circulação das mercadorias inglesas e a exportação não apenas o café, como também extrativismos vegetal e mineral, fontes de energia e matérias-primas principalmente voltadas para a construção civil, insumos provenientes da Mata Atlântica.

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