domingo, 13 de novembro de 2011

Marketing Pessoal


            Resolvi aderir à moda do marketing apelativo de auto-promoção. Enviei uma mensagem à minha namorada, pelo celular, dizendo: “Prezada, tenho o prazer de anunciar que a senhorita foi contemplada com a maravilhosa honra de jantar comigo. Passe no supermercado mais próximo, compre o que for necessário para cozinhar, pague, prepare tudo e entregaremos seu prêmio inteiramente grátis, às 20h”. A bronca na ligação quase encerra um relacionamento de três anos.
            Tentei mais uma vez. Enviei emails a alguns amigos com o anúncio de uma viagem maravilhosa pelo litoral brasileiro, na companhia do Rei Roberto Carlos, por um preço mínimo, parcelado em tantas vezes que é preciso reencarnar para terminar de pagar. O link, clicado por várias vítimas, dava direto no meu blog, que estava entregue às moscas. Agora, não sei o que acelerou mais: o número de visitas do blog ou o número de comentários que tenho que apagar por conta dos termos pouco cavalheirescos usados pra me definir.
            Na falta de leitores no blog, melhor conseguir alguns compradores para o mais novo e empacado livro que lancei. Ligo para o primeiro, aleatoriamente escolhido na agenda:
            – Boa tarde, senhor. Gostaria de informar ao senhor que o senhor foi sorteado e ganhará, inteiramente grátis, o mais novo lançamento da nossa editora, pagando somente o frete no valor de...
            Telefone batido na cara, disco para o próximo número.
            – Boa tarde, senhora. É com grande prazer que informo que a senhora foi escolhida entre nossos clientes Vip e receberá em sua residência um exemplar do mais novo sucesso editorial. Para isso...
            Faço mais seis ou sete ligações. Todas encerradas ainda na primeira fala. Verifico. Esqueci de configurar meu celular para não enviar meu número na hora das chamadas. Me sinto um palhaço: fingindo telemarketing com meu número piscando na tela de cada um dos meus “clientes”.
            Tento propaganda em áudio. Gravo uma mensagem anunciando a venda do meu carro, e rodo com o próprio, tocando a gravação no último volume. Apedrejado ainda na vizinhança, volto correndo. E escuto, na volta:
            – Coitado, conheci quando criança. Agora está aí, perdido na vida!
            Arrisco panfletagem para ganhar seguidores nas redes sociais, outdoor na janela de casa para vender alguns móveis antigos, e “homem-placa” (eu mesmo) a fim de arrecadar fundos para a causa social “Me salve”. Fracasso!
            Depois de tanto apelar, irritei muita gente. Meu telefone agora não para de tocar, com antigos amigos e desconhecidos, de posse de minhas propagandas, querendo me xingar. Parece um 0800, Serviço de Atendimento ao Consumidor. Tento continuar no rumo, e finjo transferir as ligações para o setor de reclamações. O difícil é ter o fôlego para simular a musiquinha de espera até cansar o “consumidor” a ponto de desligar... “Você vai estar tendo muito o que aprender conosco ainda, senhor...” diz a telefonista de marketing da minha consciência...



 Ivan Bilheiro é graduando em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), tendo cursado também disciplinas na faculdade de Teologia do Instituto Teológico Arquidiocesano Santo Antônio (ITASA). Graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Escritor, tem textos publicados em jornais, sites, revistas e periódicos científicos. Fez curso na área de contação de histórias e recebeu prêmios por produções literárias.


A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

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