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As Representações Masculinas na Contemporaneidade


MASCULINIDADES SUBALTERNAS

Vou iniciar aqui uma discussão que trabalharei melhor em outra ocasião e na companhia de Rafael Aragão, que vem discutindo as representações masculinas na contemporaneidade. O que motivou essa primeira incursão foi a reação da Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal contra a campanha publicitária "Hope ensina", que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a "melhor maneira" de contar más notícias ao marido. Hoje, antes do fechamento dessa coluna, o site da Folha de São Paulo consultava os leitores sobre o fato, se achavam que a peça publicitária "promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual". Dos 5681 votos, 56% acham que sim, o comercial ofende a mulheres.


O que queremos discutir aqui é que ele não ofende somente às mulheres, mas a todos nós que estamos pensando e trabalhando por uma sociedade que quebre a barreira binária de gênero. E esse esforço não pode estar restrito apenas à Academia, ao contrário, precisa ser incorporada em nosso dia-a-dia.

Poderia iniciar, pois, parafraseando a máxima de que, para nós, pós-estruturalistas, a identidade está situada no campo da diversidade, do movimento, da alteridade e da diferença, em contraposição à idéia de identidade como permanência, embora reconheça que na sociedade contemporânea ainda se faça forte o apego à definição das identidades.


Nesse sentido, o que a propaganda tem de ruim e perigoso? É que as práticas sociais cristalizadas e preconceituosas, reproduzidas nas diferentes instituições, são a sinalização e a materialização da concepção que desconsidera a diversidade como característica básica dos indivíduos. Quando se pressupõe que todos tem que ser idênticos uns aos outros, aqueles que não se enquadram na igualdade almejada são situados fora do mundo social. A concepção da identidade permeada pela idéia da igualificação consolida a existência de processos de segregação.


Fausto Rodrigues de Lima assinala que a propaganda discrimina também os homens, afinal, “como todo projeto de dominação e preconceito, a discriminação de gênero, embora baseada numa suposta inferioridade feminina, atinge a todos, porque cria regras "naturais" para o comportamento dessa ou daquela pessoa, baseando-se apenas em seu sexo. Adeus, individualidade e diversidade”, diz o Promotor de Justiça do Distrito Federal. E mais, “nós, homens do século 21, somos seres pensantes. Não queremos prover ninguém, almejamos unir esforços. Se por acaso nossa renda for insuficiente ou nula, que nos respeitem. Gostamos, sim, de sexo, mas não pensamos nisso 24 horas por dia. Nos interessa o futebol mas também o balé, a música, a arte, a poesia. E choramos, sim.”


A fala-desabafo de Fausto Rodrigues de Lima articula e dialoga com a principais correntes de pensamentos masculinistas, as que indagam o padrão tradicional de identidade masculina e oferece aos sujeitos masculinos novas maneiras de ser homem.


Assim, a propaganda é infeliz porque soa anacrônica, fala de e para uma mulher que quer fugir do jogo binário, da subordinação e, também, é infeliz porque insinua um interlocutor masculino igualmente ultrapassado.




Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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CULTURA CONTEMPORÂNEA



A DIÁSPORA MASCULINA NA CULTURA CONTEMPORÂNEA

Acabei de colocar um ponto final no meu artigo de Pós-Doutoramento e vou partilhar um pouco do que apresentei lá, alguns pontos que vem tomando meu tempo nos últimos anos. O Artigo intitulado “Masculinidades Precárias” fala de sobre homens, especialmente um tipo identidade masculina que venho colocando tanto no horizonte das práticas políticas como na esfera da reflexão teórica crítica.
Além de serem apresentados em inúmeros debates, encontros, conversas, leituras, atividades e lutas, dos quais pude participar – ou presenciá-los apenas –, tais pontos são reflexões mediadas pela minha própria experiência como homem contemporâneo que tem atravessado algumas fronteiras sociais e simbólicas, entre a vivência cotidiana em nossa sociedade machista e sexista e minha formação acadêmica multidisciplinar.


O corpo central da experiência, que dá margem à costura dos pontos apresentados a seguir, define-se basicamente pela pesquisa desempenhada no Estágio de Pós-Doutoramento em Literatura e Crítica Literária da PUC de São Paulo onde pude desenvolver o projeto “Cartografias do desejo e novas sexualidades: aspectos da cena contemporânea dos anos 90 e depois”. Nesse Projeto, devo destacar, além das leituras de textos de dramaturgos não publicados brasileiros e estrangeiros, também o envolvimento em uma rede de debates e ações em torno da questão das masculinidades.
A partir dessas experiências, então, proponho a primeira pista para essa coluna, a construção de um ponto de partida ou de observação para interrogar a identidade masculina contemporânea. Quem somos nós, os homens que habitam o século XXI? Ou, o que é essa tal masculinidade? Eu vou começar posicionando essa problemática.
Não é meu objetivo reconstituir aqui a história do movimento feminista com todas as suas nuanças, contradições e impasses, o que importa, sobremaneira, é ressaltar o papel que o movimento feminista teve na des-hierarquização e da despotencialização das identidades sociais em todo o mundo, afinal, é fácil perceber junto com Tomaz Tadeu da Silva que “afirmar (um)a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre ‘nós’ e ‘eles’. Essa demarcação de fronteiras, essa separação e distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de poder” (DA SILVA, 2009, p. 82).


Mas na contramão desse movimento, há aqueles que conspiram para complicar e subverter a identidade, provocando uma desconstrução ou desnaturalização da mulher como entidade imóvel, ou melhor, imobilizada pelo peso do patriarcalismo, das convenções e das estruturas sociais opressivas. No bojo dessas lutas, a masculinidade foi reconduzida à sua diversidade e variação histórica. Aprendeu a perceber que existem muitas formas diferentes de masculinidades que se multiplicam pela história e pelas culturas.
Também aprendeu a perceber as diferentes versões de masculinidades concorrentes, ou ao menos coabitantes, no ambiente sociocultural das sociedades modernas. Algumas dessas versões são identificadas com as estruturas sociais dominantes, algumas apenas parcialmente e outras francamente subordinadas às estruturas e representações dominantes sobre o masculino ou delas marginalizadas. Nesse caso, seria possível falar em masculinidades hegemônicas ou hegemonizadas e em subalternas ou subalternizadas.

O teatro e o cinema tem sido fortes aliados na representação do homem contemporâneo. Filmes como “Shortbus”, “Shelter”, “Plata Quemada”, por exemplo, tem sido importantes na construção simbólica de uma sociedade menos engessada, menos dura. Nessa projeção, nos dizem que há outras maneiras de ser homem, que não precisamos nos sentir marginalizados por não seguirmos uma norma. Os estudos masculinistas são libertadores, contribuem para uma sociedade menos machista, misógina e homofóbica.


Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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