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Paixão dos diabos.




Quero falar de paixão. Muitos consideram paixão algo irresistível, mas apenas aqueles que não tem familiaridade com ela. Pros apaixonados de plantão, a paixão, velha conhecida, tem outra cara.
De qualquer modo, é verdade, ela é deliciosa, faz a gente subir até às nuvens. Mas nem sempre compensa, e quem logrou experimentar a subida, e não muito tempo depois, a queda, sabe do que eu estou falando.
É um troço forte demais, arrebata. Mas não é irresistível. Sempre se pode resistir, se se usar a cabeça.
Mas é claro que é preciso um histórico de paixões pra ter esta "noção". Pros apaixonados de primeira viagem é exatamente assim e pensam logo: pra quê resistir a algo tão incrivelmente bom? 
E eu digo, pelo mesmo motivo que se resiste à cocaína, por exemplo. 
A paixão é extasiante, é delirante, é surpreendente - mas engana. 
Dá a impressão de que por ela podemos mover o mundo e todas as coisas, e a nós mesmos (coisa tão difícil de acontecer, já que vivemos uma vida toda para, precipuamente, mudar a nós mesmos e evoluir, e não conseguimos). A paixão, por igual, raramente nos faz mudar a nós mesmos ou algo fora de nós.
Agora, resistir à paixão, sim. Está aí uma coisa que faz mudar a nós mesmos e o mundo.
E há também prazer, talvez não o mesmo, em intensidade, em curto espaço de tempo, mas mais compensador e com certeza mais duradouro, na renúncia.
Eu posso dizer essas coisas, porque sou uma apaixonada. Não falo de coisas que ouvi dizer ou que li, são coisas que senti na pele. Muitas vezes a paixão me guiou os passos, mas as escolhas compensatórias da minha vida (da minha vida), não foram fruto de paixão, de domínio do instinto sobre o raciocínio, não!
Ao contrário, foram fruto de escolhas pensadas, pés mantidos no chão, por mais que a cabeça, e o coração, avoe....
Escrevi uma frase na parede uma vez e ela dizia: " eu não sei voar, isso é ilusão/ ninguém pode andar com os pés fora do chão" . É de uma música que eu gosto e a escrevi pra não esquecer exatamente isso. Não adianta ficar mudando de rumo, seguindo o trajeto das paixões, que são voláteis e muitas vezes nos conduzem a um redemoinho sem começo e nem fim e que não vão a lugar nenhum.
Pra ser feliz, a experiência me ensinou que é preciso mais que essa entrega, é preciso conhecer nossas carências e nos livrar dos contos de fadas, porque a vida não precisa ser séria, sem diversão ou alegria, mas não dá pra viver à deriva, à mercê de paixões que vêm e vão, sem um norte.
Nada impede que, pela nossa vontade, o barco da vida mude de direção, mas não podemos ser fantoches de nossos instintos, joguete de ilusões.
Pés no chão não impedem a mente aberta. Mas ajudam muito a evitar quedas que possam nos ferir e a quem amamos.


Paixão parece doença 
Num click, remete a um paraíso
Que se desvanece ao se formar

Mas quem pode vencê-la? 
Perdem-se as estribeiras
Enlouquece-se o pensar 

Um demônio sem dono
Castigando a vontade 
Escravizando o corpo (delírio)

Uma obsessão sem juízo
Calvário de sonhos, delícias
Cujo destino não raro 

É o abismo.



ouça esta música e entenda com o coração o que não está dito.





Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no Facebook e no Twitter e a página Lári Prosa e Trova no Facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.


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O bom da era digital.




Ganhei um Kindle de aniversário. Achei sensacional uma tecnologia pra leitura de livros de verdade - qualquer um que se queira e quantos se quiser. Porque a tecnologia tem que servir pra isso mesmo, pra gente se informar melhor sobre o que verdadeiramente importa, carregar pouco peso e ter acessos facilitados como nunca se viu.
É claro que o livro em papel sempre terá seu charme. Assim como escrever à mão imprime à escrita um passo mais brando e uma reflexão única, o livro em papel é uma coisa física, algo que se pode apalpar, cheirar, mover. Mas também é verdade que ocupa muito espaço na casa de um bom leitor, e apesar de não ser uma decoração ruim (acho lindo estantes e pilhas de livros) e ser uma recordação interessante, principalmente se você lida com ele (eu, a despeito do protesto destemperado da maioria dos escritores, dobro a pontinha da folha da parte que me interessa), com marcações, dedicatória ou o que for, isso acaba sendo pouco diante do fato de que, em desuso, é um objeto a mais pra juntar poeira (ao que sou totalmente contrária, acho que livro tem que estar na ativa, ser trocado, emprestado, circulando).
O mesmo não acontece com o livro virtual, você pode ter muitos mais do que os teria físicos e não precisa de prateleira nenhuma mais para acomodá-los. Além do que (o que achei maravilhoso), pode fazer destaques e ter acesso imediato a dicionários, inclusive quando estiver lendo uma obra em outra língua, sem trabalho de parar, abrir o dicionário e consultar o vocábulo. Tudo muito rápido, muito moderno, num plim.
Pra quem faz trabalhos então, esplêndido. Pode-se consultar, após ler a obra e fazer os destaques, apenas as notas, e isso facilita demais hem?!.... Dá pra ler a obra sossegado, sem prejuízo de entendimento pra ficar anotando as passagens que irá utilizar e copiar apenas depois, com tudo separadinho lá no livro digital. Fiquei apaixonada.
Penso que ler os livros que se quer ler também ficou bem mais fácil. Afinal, não é sempre que a gente encontra na livraria aquela obra clássica, menos comercial. 
Por tudo isso, penso que por aí é o futuro sabe. Aplicar essas tecnologias a favor do conhecimento, do progresso do ser e da humanidade, e não para investigar a vida alheia ou expor nossas mentiras pessoais, de como somos inevitavelmente invejáveis  e felizes.
Neste passo, fiquei gratamente surpresa em encontrar um aplicativo chamado audio livros, acho que da Google. Pra quem tem memória auditiva, como eu, isso é inexplicavelmente gratificante. Pena que ainda não encontrei esses áudios com matéria de direito que não pareçam lidos por uma máquina (acho que é preciso ouvir as obras e histórias o mais próximo possível de uma conversar informal ou uma aula presencial, e isso ainda está a caminho, pelo menos na área do Direito -- a minha).
Outra coisa que me surpreendeu e alegrou, foi encontrar aplicativos para aprendizado de línguas! Bom gastar os minutos vazios com uma passada no Babel, por exemplo, em vez de perder minutos importantes (que se transformam em horas, e depois em dias), na rede social. Aprender alguma coisa nos intervalos de folga, pra variar.
Enfim, voltando ao assunto dos livros digitais, eu penso que não será o fim dos livros convencionais, mas estes precisarão ser mais caprichados e trazer mais que apenas a história para ir para casa do leitor do futuro. 
Acho que os livros em papel serão como uma relíquia, uma obra que a gente gosta muito e quer "ostentar" na prateleira da sala, quer obter um autógrafo do autor, ver notas de rodapé, ilustrações ou fotos.
Mas o bom desse tal de livro digital é que aumenta (e bem) as chances de nos tornarmos mais  e melhores leitores. Viva a tecnologia!


se os livros vivos, com sequelas do contato de quem os leu, me encantam, é por causa deste filme.




Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no Facebook e no Twitter e a página Lári Prosa e Trova no Facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.



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DESISTA



Um mundo íntimo com dificuldades de dizer não, de fechar portas: é o que vislumbramos hoje, pelo menos aqui no Brasil.
Uma época de muito acesso e permissão, fronteiras abertas pelas redes sociais e rede mundial de computadores, perdido com isso, muitas vezes, o exercício do não, o saber fechar portas, o sabor da renúncia.
Lembro de um livro em que o personagem, menino nordestino, faz uma promessa e deixa de comer rapadura. E sente com esta privação do doce um imenso prazer, verdadeiro poder, como se a disposição de privar-se de algo bom, (talvez essencial, se considerada sua dieta), fizesse sentir-se melhor, mais capaz, menos susceptível e de alguma forma conectado com o Misterioso, com este Algo a Mais que rege o destino e do qual geralmente estamos distantes.
Hoje temos dificuldade com o não. Dificuldade em ouvi-lo, dificuldade em dizê-lo. Um contrassenso considerando que deixamos cordas ao acaso, ligando-nos a um e outro que às vezes nem conhecemos, porque essa dificuldade demonstra que apesar da quantidade de laços, não sabemos enxergar quantos caminhos há por trilhar, gostamos ainda, em nome do amor, de insistir. 

Não

Num mundo
Em que se quer tudo
Em que tudo é opção
Difícil dizer
"Não"
Mas existe 
Poder na renúncia
Força na definição
_ Segue seu caminho!
"Não"
Dito em voz alta
Ou em palavra escrita
Corta como espada
Defende como guarita
"Não"
Num mundo sem divisas
Em que tudo é opção
Basta!
"Não"
Num mundo 
De pontes e escadas
Cancelas jamais cerradas
Retrinjo
: não!
E erijo nas escolhas
E renúncias que exerço
Um forte de intenções
Cerzidas 
No q tenho
E abstenho: "Não".

(Lári Germano, "Não")

Isso seria muito bom, se eu estivesse falando do amor correspondido (que maravilhoso é, e também perdido, o "não" dito pra defender o ser amado!, ao amor em curso poucos querem se dedicar com tamanho afinco quanto ao amor findo) - mas falo do amor perdido, do amor que partiu, nos deixou ou merece por nós ser deixado.
Há hoje um milhão de formas, livros, consultas sobre o amor, sobre manter o amor, sobre reconquistar o amor e não me lembro de ter visto por aí fórmulas e ajuda para aqueles que, acreditando sentir amor, precisam de um apoio pra fechar a porta, respeitar a vontade do outro (ou falta de vontade) e seguir a própria vida.
As pessoas têm até dificuldade em ouvir isso de um amigo, desconfiadas da sinceridade dele, afinal, "tudo" deve ser feito em nome do amor e poucos dominam que dá pra terminar um relacionamento ou ainda aceitar o término de uma relação, amando, principalmente se não foram autores da iniciativa de pôr fim à relação ou precisem fazê-lo para extinguir o sofrimento.
Não é coisa fácil de se fazer, está claro. No passado, ainda que a dificuldade maior fosse a mesma (a separação, o desgarrar do outro, a construção de uma nova rotina e principalmente o aceitar a rejeição, porque sim, não somos unânimes, nem todos irão gostar de nós), era mais fácil  fechar portas.
Hoje a falta de uma análise sincera dos próprios sentimentos e a falta de propriedade em encarar que a perseverança nem sempre vence nestes casos (na maioria das vezes só maltrata), faz com que pessoas que precisam esquecer e reconstruir a vida persistam, por exemplo, em manter o contato virtual com a pessoa que se foi, dificultando uma reconstrução da própria história principalmente se nutrem esperança, (porque para o esperançoso parece nunca chegar ao fim as artimanhas de esperar o arrependimento do outro, que voltará para si, qualquer dia, finalmente ciente do equívoco da decisão de não prosseguir ao seu lado ou disposto à transformação necessária para a continuidade do relacionamento).
Temo-nos em alta conta e é muito difícil aceitar que alguém que tanto nos quis ou que pouco nos queria, mas que queríamos muito, de repente (ou não tão de repente assim), já não nos queira. E tudo o que desejamos ouvir do outro para quem desabafamos é: lute, persevere, persista, use uma tática, agora outra, raiva, ciúme, indiferença, não, indiferença  não, brigue, use as crianças, difame, chore, implore, corrija seus atos passados, etc., etc., etc..
Poucos amigos terão coragem de dizer a verdade neste mundo de mentiras e de pouco autoconhecimento, apesar da tamanha exposição: DESISTA. Porque tudo o que o amoroso implacável não pode ouvir é a verdade: aprenda a respeitar a escolha do outro, viva sua vida e não faça mais nada, não chore, não grite, não ligue, não implore, não comente nas redes sociais, e isso, não apenas para não lhe dar ibope, mas sim para VOCÊ seguir em frente.
Ninguém quer ouvir que pra seguir em frente é preciso desistir e fechar a porta. Porque nestes dias sem fronteiras virtuais, parece que desconhecemos haver outros caminhos, outros milhares de caminhos, outros milhares de pares. Apesar do amor líquido, a insistência no convívio, ainda que virtual, nos deixa incapazes de coisa extremamente necessária se é preciso esquecer: MUDE O FOCO.
Mude o foco não para que o outro tenha ciúme (o que certamente vai acontecer, mas não vem ao caso), mude o foco não para que o outro volte correndo (o que raramente acontece, a não ser para garantir que você está ali a amá-lo e não porque realmente quer rever a decisão), mude o foco pra sobreviver, pra se reinventar, pra se refazer. Mude o foco por você.
E se pra isso for preciso cortar o contato, que se dane o que pensam seus contatos em comum, talvez eles também tenham que rodar por um tempo. [Não se envergonhe: era assim que as coisas se davam há pouquíssimo tempo atrás e não há necessidade alguma de continuar a se ligar a quem já não faz parte de nós, ou de quem precisamos, ainda que momentaneamente (ou não), nos separar].
Ainda somos donos de nós mesmos, apesar  dessa transcendência virtual. Como aquele(a) que nos rejeitou, também temos direito de escolha, temos direito de exercer o não e, isso, quando você se apega, dá um prazer imenso e uma autonomia sem preço.
Às vezes a gente tem que lançar mão da indiferença, às vezes apenas do amor próprio, mas acho difícil romper sinceramente sem o ímpeto da raiva (uma raiva sem vingança, apenas para ser forte), que nos compele a sair do buraco, a não ter dó de nós mesmos. Aquela primeira marcha com força suficiente pra pôr o motor a andar em outra direção (e não em marcha-ré).
Isso não quer dizer arrumar outro(a). Provavelmente seja necessário um tempo só.
Isso quer dizer arrumar outros afazeres, talvez refazer o círculo de amigos (ou reaproximar-se do antigo), ingressar finalmente naquela aula de dança ou curso de inglês sempre adiados, cuidar da dieta, comprar umas roupinhas, renovar a autoestima, enfim e, muito importante, se proteger, na medida do possível, do que não pode ainda suportar - e pra isso é necessário ter coragem de encarar que nem sempre o que a gente sente é o que é considerado correto pelos outros. Aliás, em caso de sobrevivência, o julgamento do outro não deve contar nem um pouco e vamos combinar, hoje em dia, está tudo "upside down".
Enfim, estas são palavras de alguém que já desistiu antes e portanto sabe que há vida no fim do túnel - como há!, principalmente se houver coragem para se reinventar e rever velhos padrões e escolhas (o que não é fácil, sequer indolor, mas vale a pena).
Na primeira vez que tive que fazer isso, e estava naquele chove não molhe de quem não ousa fechar a porta apesar de extremamente ferida, revelando assim ainda estar nas mãos do outro, uma amiga verdadeira, odiada momentaneamente, lançou a pergunta: Você tem que decidir: você quer reconquistar ou quer esquecer? 
E é esta a primeira recomendação que faço, pergunte-se isso, e, acrescento, se concluir que quer reconquistar, tem que se perguntar por quê, pois pode ser apenas orgulho ferido e que nem queira realmente de volta as coisas de antes, - e aí não vale a pena.
Quando decidir esquecer, então desista, e deguste o prazer e poder em dizer "Não".









Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no Facebook e no Twitter e a página Lári Prosa e Trova no Facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.


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Amor-compromisso.




O que é o amor? Todos falam que o sentem, mas há muita gente que não sabe o que diz.
O amor está rarefeito, está difícil de conciliar com a individualidade inflada e com tempos de muita oferta de comunicação e relações relâmpagos.
Também com nossas deficiências de entrega pra o quê não traz nenhuma garantia de dar algo em troca e que demanda muito investimento, (o que significa além de emoções, tempo e dinheiro).
O tema do amor sempre ronda meus pensamentos, gostaria de descobrir por que ele vem, por que ele vai, por que às vezes pensamos amar e depois descobrimos que se tratava de outra coisa, se existe alguma maneira de prevenir-se de decepções, de perdas que devastam e ainda assim entregar-se para o amor.
São temas bons de filosofar, bons de poetizar, mas muito pouco eficientes na vida real. A fala mais verdadeira é que, na verdade, temos pouca ou nenhuma garantia da maioria das coisas desta vida e o amor é dentre todas, aquele mais enigmático (e inevitável). Não adianta racionalizar.
Mas nos últimos tempos, li em uma literatura de ajuda que amor é compromisso. E isso bateu forte em mim, como algo que faz muito sentido.
O amor então não seria aquela emoção que não nos deixa dormir nem comer direito, tão pouco aquela adoração que sentimos por outra pessoa ou uma atração irresistível, que às vezes nos conduz ao céu, às vezes a verdadeiro abismo. Sequer a afinidade seria amor.
Se amor é compromisso, amamos coisas que nunca sabíamos e explica-se porque ninguém duvida que o amor dedicado aos pais ou aos filhos é o amor da melhor espécie, amor verdadeiro e infinito.
Acho que está em falta o compromisso com o outro. Com as mudanças na comunicação e a possibilidade que nos foi apresentada de relacionar-nos com muitas pessoas ao mesmo tempo (ainda que com cada uma de maneira singular), fomos perdendo a essência do amor que não acaba, que é fundado em compromisso. Não compromisso por compromisso, como algo formal. Falo do compromisso que vem de dentro, do âmago, e que envolve muito mais que formalidades. O compromisso de cumplicidade, de querer bem e de não desistir no primeiro obstáculo só porque há muitas possibilidades pelo mundo e a vida é curta.

"amor aerado parece
que perde a força, perece
e a prece ronda 
em vento, a boca
até que o eu te amo 
em silêncio
padece".

Muita gente vai questionar esta fala, não é muito poético pensar que um trabalho que a gente nem gosta, mas com o qual é comprometido, envolve amor. Acho necessário ir bem fundo pra compreender esta fala. Perceber que em pequenas e grandes coisas que a gente considerava não envolver amor, há puro exercício de amor e que outras que a gente considerava tão relevantes e poéticas nada mais são que matéria abstrata, matéria ilusória, daquelas com que são construídas as decepções e o medo de amar.
Por outro lado, algumas pessoas vão se identificar, vão compreender e vão tranquilizar-se, concluindo que suas vidas estão mais repletas de amor do que jamais poderiam pensar.
Falar de amor está em alta. As pessoas são levadas a acreditar que há amor em tudo, que o amor está dissipado, que é possível amar o outro e todas as coisas, muitas pessoas ao mesmo tempo e que o compromisso com alguém ou algo prejudica esse exercício de amor involuntário e amplo.
Mas pr'aqueles que não veem sentido nesta fala e que se sentem esvaziados com a incroncretude dos novos tempos com esse amor esparso e etéreo dissipado entre o tudo e o nada, pensar no amor como compromisso pode ser um alento e tanto.


ouça esta canção e entenda com o coração, coisas que não foram ditas.




Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no Facebook e no Twitter e a página Lári Prosa e Trova no Facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.

P.S.: Para adquirir o livro Cinzas e Cheiros, independente, entre em contato com a autora pelo email: slariger@hotmail.com. Remessa pelo Correio.
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Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada.



Cresci ouvindo falar do meu cabelo, quase sempre pejorativamente. Os amigos do meu pai chamavam-me de Biro-biro; na escola, os colegas, de miojinho, esponjinha, Globetrotters e outros tantos mais que provavelmente esqueci. Nos primeiros anos de escola, se eu usava o cabelo solto, os meninos brincavam de esconder coisas dentro dele, lápis, borracha e eu, pra não ficar pior a situação, aderia à brincadeira, inserindo também objetos na minha cabeleira crespa e rindo da minha própria condição de portadora de cabelo ruim, como cabe a qualquer pessoa inteligente que seja vítima de apelido ou motivo de piada (se não pode vencê-los, junte-se a eles).


Eu, com dois aninhos.
Não guardo mágoas desse período não, porque superei essas dificuldades e outras, conduzida também, acredito eu, por esse esforço inicial. Acho que se o bullying que todos da minha época de alguma forma sofreram, se por um lado atrasa o desenvolvimento e emperra algumas pessoas de desenvolver as possibilidades de mundo para um ser humano (infinitas), por outro lado, a mim, adiantou o dom de lidar com frustrações e superar condições externas impostas, fazendo com que, a partir do momento em que soube enfrentá-las e não me rendi aos rótulos, eu desenvolvesse muito cedo forças que me são essenciais hoje e que me permitiram amadurecer antes.
Não que eu ache que as crianças tenham que passar por isso, nem que  bullying seja algo parte de nós, nada disso. Acho que a partir do momento que tivermos uma educação pra habilitar a humanidade e não apenas as utilidades do aprender, essas práticas serão cada vez mais raras. E acho, inclusive, que já estamos nesse caminho, à medida em que, hoje, o cabelo enrolado, o cabelo crespo, o cabelo afro, o carapinha, o cabelo qualquer que ele seja, não tem aval pra ser tachado de "cabelo ruim".

É sinal de mistura de raças, miscigenação, permissão pra misturar o preto com o branco e com o índio e saber lidar com o próprio cabelo, assumir as raízes, usar o creme certo, o shampoo certo, o cabeleireiro certo, é o caminho, e não o contrário. Tudo como forma de assumir um movimento lindo e necessário de encarar as diferenças e se auto-assumir, abraçando com isso muitas outras causas humanas que mesmo em meio às dificuldades do mundo atual, de extremismos, fanatismos e iminente retrocesso ideal, deve continuar a ser causa de envolvimento e luta.
Há alguns anos, depois do surgimento da chapinha e das escovas progressivas e definitivas, pelas quais também passei, em data não muito remota, o crespo está voltando com tudo. E as pessoas se unem pra cultivá-lo, saber cuidar dele e empoderar-se na prática de assumir-se e à diversidade. Há grupos na internet e em redes sociais de que produtos usar, como usar, qual creme pode, qual cabeleireiro ir, que cortes e etc., recursos que antes não tínhamos, e isso é maravilhoso.


 Quando criança, era um trauma pra mim ir ao cabeleireiro, eles deixavam claro ser um sacrifício pentear meu cabelo,  desembaraçá-lo e era um dia de terror para mim e para eles. Eu era vítima de todo tipo de chacota dentro e fora do salão. 
Além das escovas e pentes: instrumentos de tortura usados para endireitar o cabelo (geralmente a partir das próprias mães), o que mais doía era que esse tratamento nos dizia que havia algo de errado em nós, algo de que se envergonhar.

Então, quando vejo essas mulheres brasileiras maravilhosas hoje em dia, brancas, morenas ou negras, com seus cabelos cacheados, crespos, afros, bem cortados, volumosos, maravilhosos, bem cuidados, vem-me uma sensação de pertencimento e uma gratidão por estar vivendo, apesar das idas e vindas deste nosso mundinho, dias melhores.



Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.



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Observação: as fotos usadas neste post foram encontradas aleatoriamente, na rede.
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Caminho



Sonhos....
São feitos pra se materializar? ou simplesmente conduzem a gente adiante?
Ambas as coisas, você sabe.
A gente nem sempre concretiza os sonhos, mas se a gente caminha na direção deles,  isso faz realizar coisas (nem sempre as que nos motivaram, mas esse caminho.... nesse caminho... vamos encontrando os feitos para os quais estamos determinados).
Tenho feito algumas coisas que sempre quis, outras que nunca tinha sonhado também, e destas, algumas coisas estão em stand by esperando o tempo certo de acontecer, mas continuo me movendo na direção delas e, hoje em dia, mais atenta aos detalhes e sinais e aos pequenos e inesperados acontecimentos , na expectativa de nos surpreender por aí, estando apenas à espera de atenção, compreensão e maior conexão com o todo.
Há muitos assuntos concretos pra serem falados, coisas eminentemente políticas, causas humanas de grande peso para serem debatidas e penso ser muito importante que pensemos, que falemos, que ajamos no sentido das causas nobres sempre suspensas, no aguardo de dias melhores. 
Mas a realidade é que os meios de comunicação todos tem seu foco voltado para essas causas, debatem exaustivamente assuntos, levando muitas vezes a reações que provocam exatamente o contrário do esperado: ao invés do progresso, retrocesso.
Por isso falo de assuntos ligados ao que está dentro, não necessariamente filosóficos ou esotéricos, apenas propondo um mergulho de si mesmo, coisa imprescindível pra quem quer e sabe ser primordial mudar o mundo que está aí - também sonho, também caminho... (poesia).
Como pôr em prática essa mudança, como dar passos nessa estrada de transformação imprescindível e luta, sem estarmos dispostos individualmente, cada um, a encontrar-se consigo? A um olhar poético sobre todas as coisas?
Sejamos poesia, apesar de todos os temas, de toda revolta, de toda urgência...!
: que sabemos haver nas coisas mais simples - no resgate da infância e das pequenas doçuras, do saber viver e da justiça que nos escapa pelos dedos, apesar de todos os conceitos, de tamanha informação. Sejamos poesia.


é preciso burilar as palavras
investigar a si mesmo
(imprescindível memória
inescusável sentimento)
...
é preciso estar em silêncio
não se apartar da estrada
é preciso seguir, ir embora
ficar dentro estando fora
não ter medo, tendo medo
...
é preciso ensaiar os dias
e as falas
sem esquecer da tristeza
sabendo que tudo o que é hoje
amanhã passa
seja bom, ou seja menos
...
mas depois que se apresenta
por um instante, o inteiro
pra sempre fica a lembrança
do pouco que vale a pena
do muito que nos sustenta
...
é preciso estar atento 
(vida adentro)
estar onde esteja apenas
mas não esquecer 
(nem um momento)
do inteiro, uma vez, o inteiro.

(larissa germano)


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Ser



Há tantas exigências para com o modo de andar a vida... Quase todos sabem o itinerário a ser seguido, o script está pronto e até as conquistas que você deve fazer para ser "alguém", estão socialmente definidas: estudos, bom emprego, casamento, carro, casa, filhos, casa na praia.... Preferencialmente, nesta ordem - é o que se espera para pessoas bem sucedidas.
E quando a vida segue de um jeito diferente, e quando seu modo de andar não bate com esse roteiro perfeito, parece então tratar-se de uma pessoa perdida, de uma pessoa com dificuldades e grande probabilidade de não dar certo. O que faz presumir que as pessoas que sabem seguir o script são equilibradas, resolvidas e mais felizes.
Na prática, entretanto, não é isso o que se vê. Seguir a sequência preordenada desses patamares sociais traz sim, a alguns, tranquilidade. Mas a grande maioria das pessoas, esteja ou não subindo esses degraus, traz em si uma turbulência e uma dificuldade que é própria do ser humano. Porque ter todas as coisas ou conquistar tudo o que se pode, não é garantia de satisfação, sequer de realização do Ser.
O Ser só se sustenta, sendo. E isso requer além de vivência, muita auto-observação, inclinação para analisar, compreender e aprender com erros e acertos e também generosidade com a luta alheia - tão árdua quanto a sua -, livrando-se de julgamentos e determinismos (a inútil habilidade de resolver a vida do outro).
Eu tenho travado a minha batalha valendo-me do ensinamento de Ferreira Gullar, de que a vida é uma grande invenção.
E apesar de não corresponder exatamente às expectativas do entorno, com grandes deficiências e dificuldades, uma sensibilidade muito aguçada que às vezes atrapalha e uma veia passional para com as questões cruciais da minha constituição, sei que as conquistas que fiz não são materiais, sequer podem ser monetariamente avaliadas: esta luta comigo mesma, que travo todos os dias, impossível de renunciar e que tenho corajosamente encarado, ainda que a subestimem aqueles cujo desenho da vida é menos subversivo.
Antes que tudo Sou. E quanto mais isso se reafirma em mim, menos desejo corresponder ao que se espera e mais compreendo que para mim a trajetória não poderia ter sido outra, e me aceito. A partir daí, e só então, sinto-me pronta para outras conquistas.
Talvez, quem sabe, aquelas por que tanto esperam "as pessoas na sala de jantar".


Ps.:  Das coisas que Sou, sou antes mulher. Inconformada e indignada com o machismo velado de homens e mulheres, com a tolerância odiosa ao comportamento abusivo e criminoso contra o direito ao corpo e a vontade das mulheres e deixo aqui minha nota de repúdio ao estupro coletivo noticiado esta semana contra uma mulher (contra todas as mulheres). É necessário atinar que esta é uma briga atual, que há muito a ser feito em matéria de pensamento e consciência com relação a questão da mulher (moralismos e códigos de etiqueta a serem superados para que se alcance uma situação de equidade entre homens e mulheres), atitude e combate nas situações de abuso e crime contra a mulher e que a luta pela dignidade da mulher coaduna com a  luta em prol da dignidade humana. O Sou só prevalecerá no dia em que cada um possa Ser o que é - dia em que a palavra Deus será usada para fortalecer e agregar pessoas e não o contrário. E em que nenhuma justificativa, desculpa ou palavra será levantada em defesa de atrocidades cometidas contra o Ser Humano.




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Pacto com a vida




Admiro as pessoas que têm mão boa pra planta.
Hoje tem vídeo, manual de instrução e muita informação acessível pr’aquele que deseja cultivar um jardim.
Mas sempre houve quem sabe lidar com as plantas por instinto, sem formação.
Essas pessoas sabem que planta dá em que lugar, se elas gostam de sombra ou de sol, de pouca ou muita água. E toda planta, na mão desses dedos verdes, “dão bem”.
Eu penso que essas pessoas de mão boa têm na verdade é olho bom. Não passam pela plantinha sem dedicar uma boa olhada, observar se estão bem ou não, se estão secas ou encharcadas, murchas ou viçosas. A pessoa boa de planta, é boa de observação.




E passa a acontecer um movimento no quintal da ‘pessoa de mão boa pra planta’, como se as plantas se conversassem e recomendassem às novas que chegam, que se comportassem igualmente bem. E assim, recomendadas, as plantas, por pacto entre elas e entre elas e o jardineiro, vingassem, verdejassem e brotassem sempre mais, e juntas.
Por pacto. Como se a partir de um acordo de vontades, sob regência do bom jardineiro, a vida urgisse, o verde ressaltasse.
A partir da boa vontade, da atenção, do olhar, a planta faz pacto de florescimento, vicissitude e beleza.
Daí pensar que com as demais coisas da vida, também possa ser assim. Que maravilhosos jardins e grandes florestas possam surgir de uma observação mais atenta, de um movimento em direção à alma das coisas e das pessoas, impulsionando o flamejar da alma do mundo, não só com relação às plantas, mas acerca de qualquer manifestação de vida.
Contamos com o conhecimento daqueles que trazem naturalmente, no espírito, o olhar cuidadoso e a sensibilidade que aguça esse desejo de resplandecer e germinar nos seres ao redor. 
Mas todo ser carrega em si o potencial de promover pactos de vida. Basta redirecionar o olhar, dedicar atenção ao cerne das coisas, ao que verdadeiramente importa, para despertar, ao seu redor, o desejo de pactuar com a promoção da vida, (que está intrínseco em cada coisa desde o momento de sua criação).










Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.



Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no facebook e no twitter e a página Lári Prosa e Trova no facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.
PS.: As fotos exibidas neste post são do fotógrafo amador, cultivador de orquídeas e também meu tio, Nelson Germano, de Sorocaba-SP.

Para adquirir o livro Cinzas e Cheiros, independente, entre em contato com a autora pelo email: slariger@hotmail.com. Remessa pelo Correio).

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A solidão das próprias ideias.



Hoje é um dia de muita importância para o país, todos sabemos que está em processo o impeachment da presidente... não é fácil, muitas opiniões divergentes e neste pé a maioria quase absoluta já tem formada sua convicção a respeito do que considera melhor e não me cabe tecer qualquer comentário ou doutrinar a respeito.
Contudo, é difícil não falar sobre isso, é difícil ficar em silêncio num momento tão decisivo e todos: mesmo os naturalmente comedidos, sentem um pouco o nó na garganta e, talvez, no coração, de ver rechaçada por praticamente metade da nação, suas opiniões políticas - pois é assim que estamos hoje, tanto faz se insertos na esquerda (qualquer grau de esquerda) ou na direita (também em qualquer grau. Um único pensamento que se adeque a um dos lados já é suficiente para que você seja incluído em um grupo mesmo que divirja de outras muitas coisas daquele grupo, todos sabemos).
Eu particularmente, principalmente neste último ano, tenho aprendido muitas coisas. Poderia ter sido um aprendizado "colado" da convivência de pessoas mais ligadas do que eu na espiritualidade ou apreendido de uma religiosidade qualquer, mas não foi. Foi um aprendizado, como a maioria dos aprendizados eficazes, oriundo da dor, solidão e trabalho. E dele adveio um conhecimento muito novo, de dentro para fora, portanto, real, a respeito do silêncio.
Sou uma pessoa voltada para o silêncio, não sou avessa à minha própria companhia, é necessário para mim ouvir a voz do coração, caminhar sozinha no parque, estar perscrutando a mim mesma enquanto escrevo uma poesia ou uma história. Mas também adoro a companhia alheia, especialmente se ela me enaltece, se ela me alegra, deixa a vida mais easy. E ser aceita, para mim, como para a maioria das pessoas, era uma coisa importante, estar integrada com o grupo...
Contudo, a vida inteira tive que lidar com a rejeição, com a não-aceitação do outro ou do grupo, sempre com um sentimento de decepção e, talvez, de revolta. Mas nos últimos tempos isso tem se transformado. Tenho me apropriado de um conhecimento que diz que essa relação com o outro é muitas vezes prazerosa, mas não essencial. Que a relação vital é a vertical, do indivíduo para o ser superior que o orienta, e não a horizontal. E isso tem me fortalecido muito:  não ser imprescindível a aprovação do outro e até o convívio, é libertador e, de certa forma, vai ao encontro do que eu já fui, uma menina um pouco solitária, ensimesmada e, até por isso, incompreendida e algumas vezes excluída.
Não importa! A relação verdadeira, a que importa, a que engrandece e sustenta é divinal. É encontrada no silêncio e na prece e o que se procura fora, no céu, no espaço, não está lá, mas dentro, e o caminho mais fácil de alcançá-la é estar atento e conectado com a própria essência, sem medo da exclusão, da ausência ou da incompreensão do outro.
Falo isso porque casa bem também com os acontecimentos políticos de hoje e deste período do Brasil e com o fato de sermos rechaçados nas nossas opiniões hoje, por uns ou por outros, às vezes sozinhos na nossa convicção dentro do grupo a que "pertencemos", seja porque adeptos da ideia de outro grupo ou porque, simplesmente, não compartilhamos de tudo o que esse grupo argumenta.
Que possamos no dia de hoje e cada vez mais, conectar-nos com o deus interno, ouvir a voz do silêncio, a verdadeira espiritualidade, a opinião do nosso íntimo e estarmos seguros de que a solidão é ilusória: quando nos apropriamos dela o que surpreendentemente descobrimos é a libertação e a autonomia do ser.
Como seres cada vez mais autônomos, que formemos nossa própria opinião, que não nos sejam vendidas ideias prontas e que tenhamos cada vez mais coragem de encarar a solidão de pensar por si mesmo.
Boa sorte ao país!






Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no facebook e no twitter e a página Lári Prosa e Trova no facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.

Para adquirir o livro Cinzas e Cheiros, independente, entre em contato com a autora pelo email: slariger@hotmail.com. Remessa pelo Correio).


  

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Catracas da desconfiança.



Está acontecendo hoje um fenômeno ao contrário da confiança e uma prova disso é a colocação de catracas em lugares em que antes não havia. Surpreendentemente, principalmente iniciativa de comércios bem localizados, com público "selecionado", em que apuseram catraca na entrada e na saída e com saída apenas permitida mediante a colocação do cartão de pagamento devidamente quitado. Parece uma aparelhagem muito bonita e moderna, mas é coisa da Idade Média, totalmente na contramão de lugares desenvolvidos, em que a confiança no cidadão é parte da estrutura (lembre-se que em muitos lugares da Europa, por exemplo, o próprio cliente põe a gasolina, faz e paga suas compras em muitos mercados pegue-pague e ele mesmo valida o cartão do metrô, não havendo catraca nem mesmo na plataforma).


Por aqui parte-se, ao contrário, do pressuposto de que todo mundo vai passar a perna no estabelecimento, no Governo, no colega, por isso as técnicas de controle, dando a impressão aos cidadãos de que devem fazer algo da maneira correta simplesmente porque não há jeito de fazerem diferente e não apenas pelo fato de que fazer a coisa certa é o certo a ser feito e ponto. Como se não havendo os mecanismos de controle, a distinção entre o certo e o errado não ficasse tão clara e a infração fosse menos proibida, e não é por aí.
Uma vez estive no Rio de Janeiro num verão muito quente e fui pegar uma prainha, não tinha guarda-sol nem cadeiras, mas lá isso não é problema, porque há barracas que alugam de tudo, até piscininhas. Peguei duas cadeiras, um guarda-sol e consumimos algumas bebidas. A mulherzinha dona da barraca não anotou nada.


 A praia estava apinhada de gente e cada um chegava e pedia e ela dizia pode pegar ali fia (fio), as cadeiras que precisa, e aparecia um menino pra pôr o guarda-sol. Ela não  anotava nada (nada absolutamente), e aquele monte de gente entrando, saindo, pegando, pagando, nossa, olha, quem quisesse largar tudo ali e sair sem pagar, era moleza. Mas, sabe, esse não é o objetivo, não é? O objetivo ao "contratar" um serviço não é passar a perna em quem está fornecendo, mas acertar o combinado, é o sistema que deveria viger em sociedade que se diz civilizada e aquela senhorinha, com aquele tanto de cliente que a tratava por tia e devia estar ali todos os fins de semana, sabia disso ainda que inconscientemente, "confiava" na contraprestação do seu serviço, porque não havia porquê as pessoas não cumprirem com o combinado (ou havia?).
Parece que quanto mais há esse controle, essa demonstração de desconfiança, menos as pessoas sentem-se intimamente obrigadas com as suas consciências a cumprir com seu dever, o qual vai ficando condicionado ao mecanismo de controle e se separando de seu verdadeiro sentido.
Eu acho um horror essas catracas, sou contrária mesmo às catracas de ônibus, sem aquilo, todos poderiam usar todas as portas e não ficava aquele empurra-empurra, aquele atravessamento do carro inteiro até chegar à porta de saída, apenas para que o empresário tenha certeza super absoluta de que cada pessoa que entrou naquele carro pagou a sua passagem e não lhe passou a perna. Muito ruim.
E na contramão, a sociedade também não confia nas suas instituições, representantes e naqueles que fornecem serviços. 


Assistimos hoje, principalmente, uma desconfiança crescente com relação à imprensa e ninguém mais sabe em quê pode acreditar e a maioria desmoraliza os informes, passando a acreditar em verdades "criadas", preferindo confiar no colega da rede social,o que não se pode admitir, porque todo mundo é parcial e uma imprensa livre, ainda que tenha se tornado motivo de piada nos dias de hoje, é pilar de um Estado Democrático, imprescindível, e deixar de acreditar nela também nos vulnerabiliza demais - passamos a acreditar em quê, em quem?, quem é o detentor da verdade (talvez aquele a quem a notícia não esteja favorecendo). 
Estamos navegando num mar de desconfianças, tempestade com ondas vindas de todos os lados, em que o índice de confiança no cidadão é diretamente proporcional ao índice de confiança social, e isso afeta tudo: os investidores também não confiam no país para investir seus recursos e a economia vai de mal a pior. 
Temos que virar este jogo, antes que seja tarde. Se você, dono de padaria, estiver pensando em aparelhar seu estabelecimento com uma senhora catraca, pense melhor.




Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no facebook e no twitter e a página Lári Prosa e Trova no facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.
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