sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As Representações Masculinas na Contemporaneidade


MASCULINIDADES SUBALTERNAS

Vou iniciar aqui uma discussão que trabalharei melhor em outra ocasião e na companhia de Rafael Aragão, que vem discutindo as representações masculinas na contemporaneidade. O que motivou essa primeira incursão foi a reação da Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal contra a campanha publicitária "Hope ensina", que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a "melhor maneira" de contar más notícias ao marido. Hoje, antes do fechamento dessa coluna, o site da Folha de São Paulo consultava os leitores sobre o fato, se achavam que a peça publicitária "promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual". Dos 5681 votos, 56% acham que sim, o comercial ofende a mulheres.


O que queremos discutir aqui é que ele não ofende somente às mulheres, mas a todos nós que estamos pensando e trabalhando por uma sociedade que quebre a barreira binária de gênero. E esse esforço não pode estar restrito apenas à Academia, ao contrário, precisa ser incorporada em nosso dia-a-dia.

Poderia iniciar, pois, parafraseando a máxima de que, para nós, pós-estruturalistas, a identidade está situada no campo da diversidade, do movimento, da alteridade e da diferença, em contraposição à idéia de identidade como permanência, embora reconheça que na sociedade contemporânea ainda se faça forte o apego à definição das identidades.


Nesse sentido, o que a propaganda tem de ruim e perigoso? É que as práticas sociais cristalizadas e preconceituosas, reproduzidas nas diferentes instituições, são a sinalização e a materialização da concepção que desconsidera a diversidade como característica básica dos indivíduos. Quando se pressupõe que todos tem que ser idênticos uns aos outros, aqueles que não se enquadram na igualdade almejada são situados fora do mundo social. A concepção da identidade permeada pela idéia da igualificação consolida a existência de processos de segregação.


Fausto Rodrigues de Lima assinala que a propaganda discrimina também os homens, afinal, “como todo projeto de dominação e preconceito, a discriminação de gênero, embora baseada numa suposta inferioridade feminina, atinge a todos, porque cria regras "naturais" para o comportamento dessa ou daquela pessoa, baseando-se apenas em seu sexo. Adeus, individualidade e diversidade”, diz o Promotor de Justiça do Distrito Federal. E mais, “nós, homens do século 21, somos seres pensantes. Não queremos prover ninguém, almejamos unir esforços. Se por acaso nossa renda for insuficiente ou nula, que nos respeitem. Gostamos, sim, de sexo, mas não pensamos nisso 24 horas por dia. Nos interessa o futebol mas também o balé, a música, a arte, a poesia. E choramos, sim.”


A fala-desabafo de Fausto Rodrigues de Lima articula e dialoga com a principais correntes de pensamentos masculinistas, as que indagam o padrão tradicional de identidade masculina e oferece aos sujeitos masculinos novas maneiras de ser homem.


Assim, a propaganda é infeliz porque soa anacrônica, fala de e para uma mulher que quer fugir do jogo binário, da subordinação e, também, é infeliz porque insinua um interlocutor masculino igualmente ultrapassado.




Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.

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