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Colunista: Katia Peixoto |
Hoje, na Coluna As Horas
vamos conhecer o trabalho de Victor Farrel, escultor em pedra que está
empenhado em estruturar uma metodologia para ensinar às técnicas dessa prática tão antiga e encantadora: moldas pedras. Para partir
de um esboço em desenho bidimensional e chegar a uma escultura tridimensional é preciso criatividade,
técnica e energia física. Escultura em pedra exige do artista visual muita
destreza, aptidão, concentração e um objetivo principal, tornar o material bruto numa obra de
arte. São horas projetando, quebrando, moldando um material denso e resistente
que ao ser manuseado provoca nuvens de pó esbranquiçadas que se espalham por todo o ambiente. Porém, ser escultor
de pedra é conviver com o pó e com a energia resistente da pedra, ossos do oficio que Farrel parece tirar de letra. Dito assim, evidencia-se as questões difíceis à enfrentar para quem quiser se aventurar nessa prática, porém existe o outro lado, é
difícil conhecer alguém que não admire essas majestosas obras de arte que surgem a cada dia com o novo fôlego. Um dia destes, Victor confessou que todos amam as esculturas mas que o amor costuma não se estender aos escultores....
Victor Farrel, natural de
Porto Alegre, vive em São Paulo e enfrenta as pedras para exprimir seus
sentimentos. As pedras que passam pelo seu ateliê, na Vila Mariana, nunca mais
serão as mesmas pois entram como pedras e saem como arte. Porém, seu interesse
como artista vai além do realizador, ele quer também desenvolver uma metodologia
para essa prática e com ela poder motivar outras pessoas, até mesmo crianças, na incrível tarefa de moldar pedras.
Aluno do último semestre de
Visuais da Faculdade Paulista de Artes (FPA), Victor cursou a disciplina
Prática de Ensino I e II a qual leciono na FPA e se empenha em
estruturar uma metodologia para esculpir pedras. No mês de julho realizou oficinas durante um mês com a contribuição dos colegas de classe, fotografando as etapas pode monitorar passo-a-passo assim sistematizando-as.
A primeira parte do trabalho
começa a surgir e a dar bons resultados. Vamos ver....
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Esculturas de Victor Farrel |
INTRODUÇÃO
Texto: Victor Farrel
Fotos: Equipe das oficinas
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FIG. 1. A pedra que será esculpida. |
Como qualquer linguagem
artística, a escultura demanda o emprego de técnicas que ao serem aplicadas
levam ao resultado almejado. Sem entrar em questões de habilidades individuais
prévias, o aluno que pretende esculpir em pedra precisa percorrer um caminho para
que haja um crescimento contínuo, que deve ser aprimorado, diminuindo assim, as
probabilidades de erros, possíveis acidentes e as frustações inerentes ao processo que podem levar o aluno
a desistir precocemente do fazer escultórico.
Assim como na linguagem do
desenho, o trabalho envolve a produção de formas geométricas básicas (o cubo, a
pirâmide e a esfera) proporcionando ao aluno, em seu primeiro contato com a
escultura, o conhecimento elementar para a produção de formas mais complexas no futuro, assim como
variações de estilo.
Nesta etapa serão abordados
os materiais de suporte da obra, aquela que vai materializar a ideia em pedra
(mármore e granito); as ferramentas (utilizadas
desde a antiguidade e as desenvolvidas atualmente); os processos de
corte e quebra da pedra, seu desbaste e acabamento.
No término da oficina espera-se que os alunos adquiram uma familiaridade com os materiais e com
as ferramentas, bem como o domínio das
técnicas, de forma a permitir que a criatividade
possa brotar sem os empecilhos do desconhecimento técnico.
PASSO A PASSO
PRIMEIRA ETAPA
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FIG.2. Algumas ferramentas sobre o bloco a ser esculpido |
Foram apresentados os
materiais e as ferramentas utilizadas durante a oficina. Também ficou
estipulado que seriam empregados o granito e o mármore como materiais de
suporte da obra a ser realizada.
Há novas ferramentas que
surgiram graças ao emprego da energia elétrica e novos materiais tecnológicos.
A escultura em pedra exige equipamentos
de segurança e foi necessário explicar a importância da sua utilização.
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FIG.3. Material de proteção |
SEGUNDA ETAPA
Ferramentas utilizadas desde
a antiguidade:
Na atualidade foram
introduzidas as ferramentas elétricas,
as pneumáticas (que utilizam ar comprimido como propulsor), as diamantadas
(serras e lixas) e também ferramentas como ponteiros com pontas de vidia ou
diamantadas, assim como as utilizadas nas brocas para concreto e outros
materiais duros.
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FIG. 4. As ferramentas |
TERCEIRA ETAPA
O corte da pedra
Para cortar um bloco de
pedra, seja ele um pequeno pedaco (como o que foi utilizado para ilustrar o
processo) ou grande (bloco com varias toneladas ), o processo e o mesmo.
Primeiro, deve-se fazer furos a cada 10 cm um do outro em linha reta, com
profundidade variada de acordo com o tamanho de nosso bloco. Depois disso,
coloca-se os ponteiros ou pixotes (pequenos ponteiros), fixando-os na pedra,
para que, depois de golpeados, em sequência, com uma marreta bem pesada. Mas o
processo exige que se faca cada golpe alternadamente, ou seja, bate-se no primeiro,
falha o segundo, bate o terceiro, falha o seguinte e na volta golpeia-se os que
ainda não foram martelados. Esse procedimento assegura que não haja uma
rachadura num local não desejado. Esse processo e utilizado tanto nas pedreiras
como nos ateliês.
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FIG.5. Pedra bruta |
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FIG.6. Após perfurar 10 com numa linha reta colocar os pixotes e os ponteiros |
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FIG.7. Com a marreta golpeamos alternadamente cada um dos pixotes |
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FIG.8.... até que a pedra se parta ao meio |
QUARTA ETAPA
A confecção de um cubo em
granito
A partir do pedaço de granito
já cortado, escolhemos uma face que será a base do mesmo. Utilizando uma serra
mármore (ferramenta elétrica que utiliza discos diamantados) faz-se vários
sulcos paralelos e que atinjam uma profundidade que nos leve a um plano, não
importando a superfície acidentada do bloco. Eles são dispostos paralelamente
de ½ em ½ cm. Depois com o auxilio de um ponteiro e de uma marreta quebra-se as elevações que resultaram dos
sulcos, com o gradilho, vamos procurar
limpar a superfície, com ele deve-se retirar as pontas que restaram da ação do
ponteiro sobre a pedra, o gradilho é uma ferramenta que prepara a superfície
para o acabamento, podemos usar também uma lixadeira quando esta superfície for
livre de detalhes. Esse passo deixa a superfície muito lisa para receber a ação
das lixas diamantadas, utilizadas até o polimento final da peça.
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FIG.9. Com a ajuda do esquadro desenhamos uma das faces do cubo |
A partir da finalização da
face escolhida como base, deve-se empregar um esquadro, uma régua escala e giz
de cera. Com eles desenhamos um quadrado,
lembrando aos participantes que o cubo tem 6 faces e todas são iguais, o
que exige que se verifique se cada face cabe em qualquer um dos lados do bloco
de pedra. Com a serra mármore corta-se na linha marcada com o giz de cera, ou
seja, o quadrado - que a partir de agora
será a base e também um dos lados do cubo. Repete-se a operação até que
as seis faces estejam concluídas.
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FIG.10. Com a serra mármore são feitos cortes sobre as arestas |
Um passo que deverá ser
repetido sempre para obtermos uma superfície plana e acabada será feito com o auxilio de uma
serra-mármore, com ela iremos cortar linhas paralelas na pedra, dependendo do
caso podemos cruzar linhas perpendiculares as anteriores, e depois com a ajuda
de um ponteiro iremos retirar o material que não vamos utilizar.
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FIG.11. Em cada face são feitos cortes paralelos que serão extraídos com os ponteiros |
Outro recurso utilizado em superfícies
planas como as faces de um cubo, é a utilização da bolçardes que é uma espécie
de marreta porem com as faces com dentes , com ela depois de tirarmos todo o
material desnecessário para nossa peça, iremos golpear as superfícies, até que a superfície
esteja toda em um mesmo padrão.
Após termos acabado todas as
faces do cubo ,passamos para as fazes de acabamento, e em primeiro lugar iremos
passar um disco diamantado de desbaste, partindo então para as lixas
diamantadas, que são numeradas - 60, 100, 200, 400, 800,1500, 3000. Estas são
aplicadas com a politriz à úmido, ou seja, com água.
Esta é a aparência do cubo
após passarmos o disco de desbaste diamantado.
Este é nosso cubo após
finalização com as lixas diamantadas.
Victor Farrel, escultor em pedras, natural de Porto Alegre, vive em São Paulo onde cursa o sexto semestre de Artes Visuais na FPA.
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona na FPA- Faculdade Paulista de Artes e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.