domingo, 16 de agosto de 2009

Sou infeliz, mas tenho marido

Rosana Banharoli*
Ontem, sábado, 15 de agosto, por razões que desconheço e, que não me acrescentará em nada saber o porquê, se comemorou o Dia do Solteiro.
Ao tomar conhecimento de mais esta data comemorativa, nesse nosso Brasil, uma mistura dos sentimentos de raiva e alegria me bombardeou. Esclareço: raiva por achar que esta comemoração ironiza os solteiros e, claro, alegria por achar que valoriza os solteiros.
Enquanto resolvo... será que mesmo estando no séc.XXI (2009), é possível que mocinhas e mocinhos, minas e brothers, não saídos de um romance lírico do passado (hoje saem dos games com maior facilidade), ainda acreditam no senso-comum de melhor estar mal acompanhado do que só?
Prefiro acreditar que não. Eu, que acredito no poder da Cultura & Educação para libertar e construir cidadãos autônomos, responsáveis, embasados em conhecimento e autoestima e, conseqüentemente sabedores, principalmente do que não querem, repito: - não pode ser.
Quando se opta pela própria companhia, opta-se pela melhor e boa companhia. Sentir os prazeres da entrega sem cobrança, da mesa posta, o degustar de um bom vinho, de ouvir quantas vezes forem necessárias a canção preferida. De desarrumar a casa, a cama, a vida e começar tudo de novo, em sua companhia?, ah!, melhor acompanhado? Talvez, se a escolha for consciente de que para você, o melhor! e não o que vier é lucro.
Não é nosso direito esquecer de nós. É nosso dever nos enriquecer de escolhas e nos deliciar com elas, devagarinho, sutilmente, sem alardes, posto que a concorrência é grande.
Demais é só se cumprimentar e descobrir que estará sempre bem acompanhado. Solidão é artigo do passado, démodê e, solteiro é só pra quem quer e pra quando e, até quando quiser.
Ah! Sou infeliz, mas tenho marido é uma comédia estrelada por Marieta Severo.


NINHO

Rosana Banharoli

Nas barbas do frio,
percorri a noite.

Vi crianças soltas ,
no tempo, em estrados
de concreto aparente.

Ouvi gritos histéricos
e tambores, sussurros
e devaneios.

Insólita e só,
dancei Mozart e
declamei Hilda Hilst.

Desci às entranhas
e senti vida em galhos secos
e folhas soltas.
É inverno!


Rosana Banharoli é assessora de Imprensa da Contemporâneos- Revista de Artes e Humanidades e coordenadora do Blog ContemporARTES. Formada em Jornalismo, atua como free-lancer em trabalhos de revisão de texto. Cursa a Escola Livre de Literatura em Santo André. Representante da sociedade civil como suplente em Literatura no Conselho Municipal de Cultura de Santo André.
Sua poesia Ninho é menção- honrosa no Mapa Cultural de São Paulo 2007/2008, publicada na revista literária virtual, A Cigarra. Desenvolve projetos com as secretarias de Educação e Cultura, voltados à revalorização da Cidadania e à preservação e reconhecimento do Patrimônio Histórico e Cultural através da Literatura.
rosana_banharoli@hotmail.com.br

5 comentários:

Francisco Guilherme disse...

Belo poema...Parabéns Rosana

16 de agosto de 2009 às 13:01
Giliane disse...

Boa sacada. As pessoas precisam entender que há várias maneiras de se ter uma boa companhia e na maioria delas somos nós mesmos.

É como diz a música "ficar sozinho é pra quem tem coragem..."

16 de agosto de 2009 às 18:15
Ana Dietrich disse...

Ro, então o passarinho resolveu fazer asas e avoou... fico feliz por esse seu primeiro vôo aqui no contemporARTES, espaço seu, espaço nosso. Orgulhosa e feliz! bjs

17 de agosto de 2009 às 00:28
Francisco Guilherme disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Francisco Guilherme disse...

Bom, eu já dei minha opinião sobre o poema. Agora vamos ao texto em si.

Na minha opinião tem uma questão complicada ai: o uso da expressão "entrega sem cobrança".
Digo isso pelo seguinte: vivemos um período complicado em termos de relações humanas. Evoca-se cada vez mais as relações abertas e descompromissadas. Isso é perigoso porque estamos nos tornando objetos uns dos outros: só recorremos as pessoas quando há algo de bom pra oferecer. Quando isso acaba, simplemente não damos razão pra continuar. Deixamos algumas coisas que são fundamentais:, lealadade, tolerância com os defeitos e crença na redenção das pessoas.

19 de agosto de 2009 às 14:15

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