quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Utopias concretas



Hoje, quando olho para trás e vejo a caminhada da revista até aqui, eu me emociono. A revista completou, recentemente, dois anos de existência e é uma dessas coisas que acontecem em nossa vida, que chegam devagar, mas que logo tomam a proporção que lhe és cabida....

A revista veio para encher meu cotidiano de um sabor doce, mas um doce meio almiscarado com temperos exóticos de regiões distantes do mundo. Os diálogos, as pontes que se estabelecem entre seres humanos e pensamentos, sempre me emocionam. Gosto de lembrar que a equipe de editores hoje é composta de 21 pessoas, entre estudantes, profissionais e amantes das artes e humanidades. Geografia, História, Dança, Jornalismo, Literatura; áreas que se encontram representadas por indivíduos criativos, ousados e livres... pois, no fundo, essa é a maior função da revista, a liberdade... Acredito que houve uma união entre essas almas, no meio de diferenças lingüísticas com turbilhão de contemporaneidades e assim, nos encontramos.

Para mim, historiadora que se dedicou tanto tempo ao nazismo, uma revista que pretende traçar reflexões sobre as artes e humanidades é um desafio, daqueles que só de a gente pensar, já quer se armar com faca até os dentes. Ela me obriga a sair de uma posição cômoda de historiadora tradicional, ultra-feminista e militante anti-racista para tentar a enxergar o mundo com os olhos lavados de artista, como da bailarina Maiza Tempesta, nossa entrevistada da quarta edição.

Com a revista passei a acreditar que mesmo realidades tão duras como o holocausto atingem com mais precisão as profundezas do ser humano quando transportadas ao âmbito da arte. O horror, a dor, a tragédia, tudo é ainda, na sua essência, extremamente artístico e na transgressão de suas infinitas linguagens se tornam ainda mais potentes.

Termino minha coluna, de hoje, com pinturas do muro de Berlim, cujos 20 anos de sua queda são comemorados nesse ano. São imagens grafitadas por 100 artistas do mundo inteiro, e que fazem parte da Galerie East Side (www.eastsidegallery.com). O pedaço do muro de quilômetro e meio que ainda está de pé forma a galeria, hoje considerada uma das maiores ao ar livre. Dois lados do muro, duas moedas, enquanto que o lado ocidental era totalmente pintado com inscrições, muitas delas que expressavam a revolta com o muro, o oriental permaneceu com sua árida cor cinza. Que elas sejam minha singela homenagem àqueles que não se calaram perante as barreiras concretas entre seres humanos.

Dica de leitura – Entrevista com Maiza Tempesta
Eu tenho uma palavra chave que acho que conduz meu trabalho que é o entusiasmo, através do entusiasmo do elenco eu o entusiasmo para que ele produza da maneira que eu quero, então a pessoa estimulada e entusiasmada ela produz muito, eu nunca desmotivo ninguém, pelo contrário, motivo até o fim, se não dei o exato resultado eu mostro para a pessoa o quanto ela cresceu, mas o estímulo e o entusiasmo são as chaves.
http://www.revistacontemporaneos.com.br/n4/pdf/entrevista.pdf.


Ana Maria Dietrich, editora-chefe da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades, escreve às quartas-feiras quinzenalmente no ContemporARTES.
contemporaneosufv@yahoo.com.br

2 comentários:

Francisco Guilherme disse...

Ana, parabéns não só pela inciativa de estimular estudos mais sérios sobre a arte mas também por se permitir essa abertura pessoal para o entendimento da arte que é, em sua essência, a forma poética de se entender a vida.

Parabéns, que a revsita dê frutos e alentos para os comprometidos de verdade com o sonhos humano:a felicidade.

19 de agosto de 2009 às 14:30
Antonio Gasparetto Júnior disse...

Olá, Ana!

A revista vem crescendo e vai continuar cada vez mais!
É muito gostoso esse diálogo entre as várias áreas do estudo de humanidades, a Contemporâneos é uma prova viva e histórica dos benefícios!

Abraço

22 de agosto de 2009 às 22:36

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