sábado, 5 de setembro de 2009

Mídia, Amor e Sexo

Coluna Lara Carlette


Amor é novela e Sexo é cinema?
Perdoe-me os queridos Rita Lee e Arnaldo Jabor, mas, nenhuma coisa nem outra. Amor e Sexo é o novo programa, estreado na semana passada rede Globo de televisão, apresentado por Fernanda Lima.
O diretor de Amor e Sexo, Ricardo Waddington, em entrevista cedida ao portal G1, ressalta que "Está faltando sexo na comédia brasileira. De uns anos para cá, o nosso cinema encaretou, ficou denso, não sabe mais brincar com a sexualidade, que é tão característica na nossa cultura. Essa caretice que vemos aí é uma sexualidade importada. Estamos na contracorrente, temos uma posição ideológica, queremos mostrar que dá até para falar de tabus como o sexo a três sem ser pornográfico", diz.
E o diretor não deixa de ter razão. A sexualidade na mídia brasileira, principalmente nas telenovelas, é utilizada mais como um artifício de atração do público, apelativa e pornográfica, do que explorada no âmbito da educação sexual, o que acontece em menor freqüência.
A temática não era abordada tão diretamente pela emissora desde os tempos do programa "TV Mulher" (1980), em que Marta Suplicy falava abertamente sobre sexo. Mas o assunto, de forma alguma “desapareceu da mídia”.
“Como eu faço para chegar ao orgasmo?” “Tenho vergonha de me masturbar. Será que é mesmo errado?” “Perdi a ereção outro dia. E agora?” “Minha parceira reclama que eu ejaculo rápido demais. Será?” Dúvidas e inquietações como estas, freqüentes entre homens e mulheres, são levantadas em programas como o Altas Horas, Nigth Sex, Ondeon TV, entre tantos outros.
Culturalmente, acredito que a “mineirice”, no quesito sexual, é algo comum do brasileiro. Ele “come quieto”. É fogoso na cama e atrapalhado com as palavras, o que ajuda a entender o sucesso da pornografia e a forma como são encarados os programas de educação sexual.
Então, a mídia coloca a boca no trombone para falar SEXO, quebrar tabus e desmistificar o assunto. O que existe, na verdade, é uma necessidade de falar continuamente sobre ele e mostrá-lo de maneira obsessiva, o que dá indícios de que sexualidade é, ainda, algo muito mal resolvido na vida das pessoas.
Sexo continua sendo um peso carregado pela sociedade, conseqüência de fortes tradições culturais e religiosas. Então a mídia, fala, fala, fala... e o sexo tenta ser naturalizado. Alguns consideram banalização, outros promiscuidade, eu acredito na educação sexual e nada mais. Se ainda existem problemas com isto, vamos resolvê-los, o que não necessita da utilização de pornografias.
A mídia, dotada de um “discurso pedagógico” (Foucault) tem este “poder” de ditar regras, ou melhor, ditar tendências, o que também pode ser utilizado em prol da educação em variadas áreas do conhecimento, inclusive a sexual.
Fato é que problemas e dúvidas sobre a temática são recorrentes entre adultos, jovens, crianças e idosos. Ou será que a história da cegonha ainda cola?
A TV neste sentido, por meio de programas de educação sexual, pode servir de bom exemplo às famílias, em benefício deste tipo de diálogo dentro de casa, partindo do entendimento que sexo faz parte da vida de todos, e ponto. O que não deve acontecer é que programas com este formato sejam os únicos a esclarecerem dúvidas, principalmente no caso de crianças e adolescentes.
Saindo do mundinho televisivo, o sexo é muitíssimo pautado, e cai entre nós, bem mais diretamente, nas revistas, principalmente as femininas. Experiências, dúvidas, confissões, posições e assim por diante, atraem os olhares de um grande número de mulheres.
Temos, contudo, que considerar a utilização do sexo nestas revistas com um produto, uma prática que tem passo a passo, que pode ser “apimentada” com isto ou aquilo, criando uma identidade do sexo como algo “assim ou assado” para chegar “ali ou lá”, enquanto, na verdade, é uma prática íntima.
Mas não podemos mesmo desconsiderar que este tipo de representação do sexo, já ganhou o público, tanto na TV, quanto nos meios impressos.
Na verdade, toda mulher lê disfarçadamente os conteúdos sexuais das revistas na sala do dentista, e desejam, também disfarçadamente, que os homens também leiam. Enquanto eles, bem... eles acham que sabem de tudo.
Entre tantas idas e vindas, eis o sexo. Trocadilhos a parte, Sexo está presente no cotidiano do cidadão comum, da ciência e da mídia. Educar, seja para o que for, nunca é demais!
Lara Carlette escreve quinzenalmente no ContemporARTES.
laracarlette@gmail.com

1 comentários:

Anônimo disse...

O artigo de Lara traz uma discussão muito interessante para os dias de hoje, em que nossa relação com o outro se vê permeada de intermediários e obstáculos.

Todavia, certas questões ficaram de fora poderiam ajudar ainda mais esse debate. E mais: certas colocações esbarram no senso comum e empobreceram um pouco o debate. Como é o caso da sentença:"Na verdade, toda mulher lê disfarçadamente os conteúdos sexuais das revistas na sala do dentista, e desejam, também disfarçadamente, que os homens também leiam. Enquanto eles, bem... eles acham que sabem de tudo."

Penso que se queremos uma relação de dialógo entre os universos masculino e feminino esse tipo de colocação- mesmo sendo discontraida- deve começar a ser evitada. A não ser que não se queria DE VERDADE esse diálogo.

Pois bem,uma das questões que -ao meu ver - ficaram de fora da coluna foi as seguinte:

O estudo dessa contradição: as mídias divulgam o sexo, entretanto ele ainda continua circunscrito ao plano da privacidade individual. Só para ilustrar, citemos o grande cantor e compositor John Lennon, que dizia" NOS ESCONDEMOS PARA FAZER AMOR ENQUANTO A VIOLÊNCIA É PRATICADA Á LUZ DO DIA"

Outra questão: essa contradição é ainda mais evidente quando se fala em relacionamentos ditos modernos onde, se o sexo não é a principal coisa acaba se tornando algo sem o qual - acredita-se - que relações não se sustentam, ou seja - a sobreposição do sexo em relação ao sentimento.

Pra encerrar, retomo a questão do diálogo entre os universos feminino e masculino dizendo que se de fato houvesse uma perspectiva de dialogo não entremeada por segredos e esconderijos, a vida sexual poderia ser melhor aproveitada e a mídia perderia seu poder de "influencia" sobre essa questão.

Abraços

Francisco

5 de setembro de 2009 às 12:59

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