sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Crônica - Sweet Home



Durante as duas últimas semanas, uma notícia foi destaque nos meios de comunicação, o suposto desaparecimento do cantor e compositor Antônio Carlos Belchior, já “encontrado” numa pequena vila no Uruguai.
Algumas coisas começaram a sobrevoar minha mente, a primeira: porque a família demorou dois anos para procurá-lo? No mínimo estranho. E o mais curioso ainda foi de onde o alarme soou nada menos que do Fantástico, qual o interesse da Rede Globo no eterno “rapaz latino americano”? Uma vez que este há muito tempo não era se quer lembrado, jogada de marketing? Talvez, tudo é possível à verdade é se foi ou não nunca saberemos. O fato concreto é, muita gente que se quer sabia da existência de Belchior, ficou no mínimo curioso em saber quem é o homem que mobilizou não só a Rede Globo, como também emissoras concorrentes. E o quando foi encontrado, não quis ser resgatado mostrando-se inclusive irritado com tal intromissão em sua vida.
O episódio condiz com suas composições, onde o autor e intérprete deixa claro que não deseja ser seguido, quer viver decidir por onde, quando ir e com quem partir, cabendo apenas a ele decidir o caminho a ser seguido, então em nenhum momento Belchior traiu seus princípios e muito menos o que escreveu e cantou a vida toda.
Em suas músicas Belchior retratou como poucos a situação do migrante, que parte de sua terra em busca de melhores condições de vida e quando chegavam encontravam uma realidade bem diferente da vida maravilhosa que era “vendida” a essas pessoas. Também se faz presentes a solidão, a dor da partida, mas diferentemente de outros autores, não há lamentações ou arrependimentos em suas composições, em suas denúncias de maus tratos (físicos e morais) sofridos por todo aquele que não se enquadra nos ditos padrões sociais; o negro, a mulher, o pobre, o homossexual, o migrante, transparecem um alto grau de esperança e anseio por mudanças, no que há de mais íntimo do ser humano.
Numa sociedade que prega a exaltação de uma vã filosofia que esquece o humano, valoriza o frívolo e cada vez mais nos obriga a ser e agir como robôs, qual valor e interesse poderiam ter um artista do quilate de Antônio Carlos Belchior? Continuo sem entender, só tenho que concordar com suas composições “esses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem..”. porque vivemos a ” Divina Comédia Humana onde nada é eterno...”

Giliane de Silva Moura
rockgirl611@hotmail.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Giliane,

muito pertinente seu artigo. Ele nos traz uma coisa muito séria a se pensar: o papel da mídia na construção e "destruição" dos heróis.

Parabéns

Francisco

4 de setembro de 2009 às 13:18
Vinícius Rennó disse...

Mesmo que a mídia brasileira tenha suas ações apenas visando o lucro, há de se concordar que ela nos fez um grande favor nos lembrando deste ícone da nossa música popular.

4 de setembro de 2009 às 18:47
Anônimo disse...

Giliane, Gostei muito da sua crônica. Nossa sociedade tão materialista determina prazo de validade pra tudo., nem nossos idolos escapam. Quem sabe a propagação que causou esse suposto sumiço, não seja uma nova oportunidade para que nós o veja atuante novamente.

Bjs

Cleo

5 de setembro de 2009 às 00:57

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