sábado, 24 de outubro de 2009

Até quando

Coluna Aline Vilaça


Em meio a livros, cd´s, dvd´s, filmes, shows, excelentes intérpretes, seja providos de guitarras, gaitas, sapatilhas ou descalços a cada etapa da pesquisa do Projeto de Extensão Jazz com Jazz nos apaixonamos cada vez mais pelos encantos, as relações sociais, e as imagens de tudo que permeia a história do Jazz Dança e Música. Mas também somos inundados de uma revolta ardente ao nos depararmos com o racismo de outrora e, impressionantemente o de agora.
Assim, sem ( infelizmente) neste artigo contar do que se trata o Jazz com Jazz, gostaria de explicitar alguns incômodos. Durante as leituras, apreciações de vídeos, discussões e aulas de dança, começamos a observar que mesmo podendo afirmar que o Jazz enquanto cultura e arte construída nos EUA, foi uma maneira de expressão de uma população intensamente reprimida e segregada e que ao longo dos anos legitimou estes afro descendentes e os ajudou a construir a identidade e auto estima que permitiu este ano eleger Obama, não foi capaz de extinguir o preconceito e o racismo do país.
Não são vistos mais “Strange Fruit´s” pendurados pelas árvores, nem cordinhas separando os últimos acentos do transportes urbanos, mas ainda podemos encontrar absurdos como o retratado no documentário “Prom Night in Mississipi” (baile de formatura em Mississipi), a seguir citações do artigo publicado na FOLHA DE S. PAULO no domingo 26 de julho de 2009.
Filme acompanha baile misto nos EUA
Documentário da HBO retrata preconceito racional a partir de formatura de negros e brancos no Mississipi
Até o ano passado, eles não tinham direito de participar do baile de formatura com os brancos, apesar de representarem 70% dos alunos. Na prática, a escola tinha dois bailes de formatura, um de brancos e outro de negros, cada um com seus respectivos reis e rainhas.

O “apego às tradições” foi a justificativa empregada por parte dos pais de alunos brancos que resolveram manter um pequeno baile em separado. Eles evitam a palavra racismo. (LAGE, FOLHA DE S. PAULO)

O absurdo continua na reportagem quando o autor cita que o ator Morgan Freeman em 1997 ofereceu pagar pelo baile todo, se os alunos aceitassem fazer o baile integrado, e a oferta foi RECUSADA!
Agora eu pergunto, onde foi o Jazz que não conseguiu unir essa população? E agora sem jogar a responsabilidade toda a arte, pergunto: onde está a racionalidade humana, que permitiu tamanha ignorância (para não ser mais ríspida), no país que ao unir brancos e negros, já sabe, que proporcionou o nascimento de uma expressão artística tão rica, tão honesta, tão verdadeira, tão virtuosa como o Jazz? Por favor, alguém me diz cadê?!!!!

Outro incomodo que encontramos, está na reportagem Choque de Realidades de Denyse Godoy, onde alunos da Unipalmares mostram um pouco da realidade racial do país, um dos alunos Luiz Henrique Ferreira lembra que

Quando o grupo circulava pelos prédios, as pessoas pensavam que éramos uma comitiva de algum país africano fazendo uma visita”
Por isso, devido à parceria com a faculdade – o pioneiro foi o Itaú -, as instituições financeiras passaram a preparar seus funcionários para lidar com a nova realidade de escritórios mais coloridos.
(GODOY, FOLHA DE S. PAULO)

Será que não podemos acreditar que possa haver profissionais negros em bons cargos? Será que é justo apenas rirmos ao ler que tiveram a coragem de perguntar se era uma comitiva africana? Será que temos que nos conformar que as empresas precisam preparar os funcionários para a possibilidade de um escritório mais colorido? COLORIDO????!!!!!!!

O Brasil não foi e não é tão explicito com seu racismo quanto os norte- americanos, mas certamente o mesmo lamento nas vozes das divas do Jazz ou das guitarras dos belos solos em Blues foi e é encontrado por aqui, pela população negra e mestiça que certamente não será pendurada nas árvores da orla, mas as do morro talvez.

No estudo histórico/ social tem o intuito de dar profundidade, verdade e emoção ao estudo cênico/ artístico que possui o Jazz como estimulo principal, entretanto tem provocado em nós a forte sensação de que a música evoluiu, a dança quase que se dissolveu, mas o racismo em muito apenas se camuflou. Diga- me até quando?

Fonte: GODOY, Denyse. Choque de Realidades. FOLHA DE S. PAULO. Dinheiro. B8.
LAGE, Janaina. Filme acompanha baile misto no EUA. FOLHA DE S. PAULO. Ilustrada. E6.
Aline Serzedello Vilaça escreve aos sábados, quinzenalmente, no ContemporARTES.

4 comentários:

Ana Dietrich disse...

aline miss diva, corajoso, forte e enfiador de dedo na ferida, assim caracterizo seu artigo. é isso aí, continue assim.
bjs

26 de outubro de 2009 às 16:35
Anônimo disse...

Aline, parábens pelo artigo. No Brasil a hipocresia é tão grande que ouvimos muita gente dizer " que aqui não há racismo. Mas como vc mesmo escreveu. Cadê o negro em cargos de Ponta"?
Dificilmente vemos um negro como executivo- Será que não são inteligentes o Bastante???
Que pena, que isso ocorre de uma forma tão velada, mas plenamente perceptivel. E é preciso mudar o quanto antes.

26 de outubro de 2009 às 22:30
Anônimo disse...

Aline, parábens pelo artigo. No Brasil a hipocresia é tão grande que ouvimos muita gente dizer " que aqui não há racismo. Mas como vc mesmo escreveu. Cadê o negro em cargos de Ponta"?
Dificilmente vemos um negro como executivo- Será que não são inteligentes o Bastante???
Que pena, que isso ocorre de uma forma tão velada, mas plenamente perceptivel. E é preciso mudar o quanto antes.


Cleo Mattos

26 de outubro de 2009 às 22:32
Bruno Dalto disse...

se pensarmos na quantidade de negros na universidade, talvez o problema seja maior no que pensamos...

31 de outubro de 2009 às 14:17

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