sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pouca, Pequena

Coluna As Horas
O que ela faz aqui? Quem a deixou entrar?.... - Alguém sussurrava olhando para mim... - veja só as roupas dela, sem brilho, sem uma etiqueta apropriada... - olhava para eles sem entender o que porque daquilo deixei-me ficar... comecei a observar o lugar, nada era diferente de nada e tão pouco era parecido com algo que já tivesse visto antes. O local era espaçoso todo em tom bege, com luzes coloridas, que alternavam, as pessoas nem pareciam pessoas eram algo diferente, mas não único já havia visto outras dessa espécie na rua, eram seres peculiares... usavam botas salto 15, com a calça por dentro do cano, óculos escuros mesmo em dias nublados, cabelos de cor indefinida e com chapinha, ou como esse nome não é bom o bastante, vou substituí- lo por escova progressiva definitiva de chocolate com formol e resina, que no final das contas vale tanto ou menos que a chapinha, já que seu fim é o mesmo... Por fim um daqueles seres veio falar comigo :

- Nome?

- Elis Regina da Silva...
- Profissão?
- Professora Estadual – vi uma leve contração em
sua inexpressiva face
- Idade...?
- 23 anos.
- Signo...?
- Aquário.

- Ascendente?
- Não sei...
- Não sabe? Como assim ?
- Não sabendo, de que me serve isso ?
- Como pra que serve? Pra muita coisa!

- Mesmo? Me dê um exemplo... - Notei uma certa dúvida em seu silêncio.
- Você deve somente responder as perguntas...

- Por que?
- Porque sim... Que tipo de música você ouve?

- Muita coisa.
- Esse tipo de resposta não será aceita.

- Não? E quem não vai aceitá-la?
- Nosso mentor.
- Quem é ele?

- O chefe supremo...
- Como ele é ?
- Nunca o vi
- E o obedece mesmo assim ?
- Claro.

- Por que ?
- Chega de perguntas...

- Cite um cantor.
- Belchior.
- Cantora.

- Maria Bethânia
- O que faz aqui ?
- Não sei.
- Como não sabe ?
- Não sei, mal entrei e me colocaram sentada aqui, sem me dizer nada.
- E você não perguntou ?

- Ninguém me olhava direito.
- Também não é pra menos, já viu como está vestida? Como está seu cabelo?
- O que têm eles? Sempre foram assim

- Nossa...mas voltando... por que entrou aqui ?
- Alguém me deu esse endereço ...
- Pra quem trabalha?
- Para o Estado...
- Que Estado?

- Agora eu que digo. Como que Estado? O seu Estado, meu Estado, o de todo mundo, saca?
- Que linguajar é esse?
- Vai dizer que não sabe? O que querem comigo ?
- Você não sabe?

- Você tem um vocabulário curto hein, só repete a mesma coisa o tempo todo... você falou do meu cabelo, mas já se olhou no espelho, ele está no mínimo desbotado....
- É a última moda...

- Quem disse?
- O grande mentor...

- Ah, aquele que você nunca viu, disse que esse cabelo, água de salsicha é a última moda...onde num brechó?
- Não diga uma blasfêmia dessas aqui dentro, é um local
de respeito!
- Por que acabei de sair de um... encontrei coisas ótimas, mas como está no fim do mês, não comprei nada
- Ah, que horror !!!!!! Agora entendi porque te dera
m o endereço... queriam salvar sua alma!
- Alma? De quê?
- Da vida que vem levando...
- Ah, tá bem vou indo...
- Não pode ir...

- Como não? Quem vai me proibir?
- Eu ...
- Você agora está sob nossa responsabilidade.

- Hã? Você bebeu o que hoje hein?
- Nada de ilícito, por que parece?
- Só perguntei...
- Você tem levado uma vida de devassidão e isso tem que acabar!
- Devassidão? Eu? Quem disse?
- Todos... você lê demais, ouve músicas com letras e aind
a por cima nocivas, que fazem pensar e criticar
- E isso é ruim ?

- Você é um péssimo exemplo... e vai ficar detida para desintoxicação...
- Quero ver me prender...
- Não me obrigue a usar a força
- É ruim hein, se liga, cada um é cada um

- Não comece com essa conversa subversiva
- Vá me deixe em paz...
- Chega ! Pouca, Pequena venha cá... você será a encarregada de purificar essa alma impura

Notei que a tal da Pouca, também tinha o cabelo cor de água de salsicha, e usava a calça por dentro da bota, a diferença que a identificava como um ser superior era que na lateral de seus óculos escuros, haviam duas pequenas pimentas vermelhas...

“Saia do meu caminho eu preciso andar sozinha...”
- Não entendo o que essa criatura diz...
- Nem precisa...
- Como pode um ser assim entrar aqui ?
- Ela acha que veio por livre e espontânea vontade e que vai sair daqui...
- Ei, não sou surda sabia... e que história é essa de não sair mais ?
- Você está presa, sob a acusação de má influência, de querer levar as pessoas a pensar...
- O que é isso?
- Pouca já disse para não fazer perguntas... vá retocar a maq
uiagem...
- Sim senhor...
- Que cabeça vazia...
- Ela sabe tudo que precisa, dirigir um carro zero, contar dinheiro, o nome de produtos
para cabelo...
- E você do que sabe?
- Da mesma coisa...
- E esses livros aí atrás... já os leu ?

- Claro que não, mas eles dão um visual legal na parede....
... ... ... ...
- Leio o resuminho que tem atrás, ou a orelha e saio falando que li, pra que ler tudo?
- É mesmo, pra quê...
Pouco tempo depois Pouca, Pequena voltou com uma linda m
aquiagem uma sobra azul e lápis rosa, uma combinação perfeita
- Pronta?
- Ainda não esqueceu isso?
- Estou indo embora

- Não pode, você é perigosa!
- Tá vou mostar o que é ser perigosa...
- Guardas prendam-na... vamos peguem-na, ela não morde !
- Sr. garante?
- Não...

Por fim prenderam meus braços e eu tentava me soltar...mas não conseguia “Não me peça que lhe faça uma canção como se deve, correta, branca, suave, muito limpa, muito leve, sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar com convém sem querer ferir ninguém...” - Eles tentavam me prender mas notei que estavam ficando desnorteados – prossegui - “ eu sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco” - começaram a se contorcer – "sem parentes importante e vindo do interior” - não agüentaram começaram a urrar, como loucos e me soltaram – corri a até a porta, mas não era preciso estavam quase desmaiados... e como golpe final “ como Poe poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho, blackbird me responde, o passado nunca mais“ - enquanto a porta se fechava atrás de mim, ouvi Pouca, Pequena dizer ... o Pô está aí, quero o Tinkynk e o Dispsy... de novo... de novo...
Consegui chegar até a portaria, saí ao colocar meus pés fora daquele lugar, senti o vento em meu rosto, nada melhor e gratificante. Sorri, havia sido capturada pela Organização Ultra secreta CAS (Cabelos Água de Salsicha) e saí ilesa, isso não é para qualquer um, eles são perigosos, cuidado se encontrar com um desses por aí, eles usam botas salto 15, calça por dentro da bota e óculos de sol, em qualquer situação, até em dias chuvosos.
Muito cuidado esse relato é para que todos fiquem prevenidos eles estão em toda parte, freqüentam shows, onde não vão entender nada, pois ouvem um tipo de música que não possui letras, inspiradas por jogos de vídeo game, (Hatari) . Minha experiência foi traumática, o pouco tempo que passei ali, aquelas perguntas... faço esse relato para que sirva de alerta e para que vocês tomem medidas profiláticas. Seguem algumas dicas : Não façam escolhas óbvias e sim o que sentir vontade. Cante fora do tom. alguns antídodos : Bob Dylan, Oswaldo Montenegro, Belchior, Neruda, Lorca, Hemingway, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Clarice Lispector... se você nunca ouviu falar desses seres, tome cuidado, pois você pode ter sido contaminado !!!! A CAS, pode fazer isso, espalha seus vírus em locais insuspeitos, portanto todo cuidado é pouco a prevenção ainda é o melhor remédio !!!!!
Seres totalmente humanos do mundo UNI-VOS !!!!!!!





Giliane Silva de Moura escreve todas as sextas-feiras no Contemporartes.

rckgirl611@hotmail.com

1 comentários:

Anônimo disse...

Hahahahahaahahahahaha.

"Feliz é o destino da inocente vestal!
Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Toda prece é ouvida, toda graça se alcança."

Alexander Pope

Fabi

9 de outubro de 2009 às 05:52

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