segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Segunda Poética

Hoje para meu deleite e, espero o de vocês, leitores, apresento uma dupla de poetas os de Sá, tio e sobrinha, ambos de Santo André(SP), ambos com talento para nos envolver na contemporaneidade da poesia e do tempo.


ENEBRIANTE




Como se o tempo não houvesse passado e a meninice ainda enebriasse a mente com aromas do passado.

Sentado à beira de um liso queimado, ouvindo as dores e alegrias causadas pelo tempo, entoadas na voz da avó: um vestido de chita, chinelas nos pés e deitado sobre o nariz a carga apelativa de grosso vidro para os olhos exalcitos da vida.

O café refervendo enquanto os pães de queijo disputavam espaço e se espremiam na bandeja como pipocas na panela quente.

No terreiro, revestido por um véu cravejado de lampejos, a peleja do brejo disparava o placar; “ goll, goll, goll... “, enquanto da mais alta arquibancada da paineira a coruja vaiava, “huull... huulll....”; indiferentes, galináceos disputavam o mais pomposo trono do galinheiro.

Dentro de casa a lamparina cuspia pelando o resto de querosene fazendo dançar, descompassado, no chão e no pau-a-pique o breu dos móveis e de tudo mais que confrontava pela frente os olhos do lampião.

Ouvia as histórias de vida que bradava a banguelice, enquanto atiçava a ardência no fundo da chaleira fazendo lampejos fugirem apressados baterem no teto e se dissolverem escurecendo a calhada; pisoteando um feche de seco-incenso debruçado num canto do fogão, enebriante lembrança guardada na ponta do nariz.




ESPECTRO

No ventre da metrópole
apenas vestígios
suor dos poros rasgados
Marquise de néon apagado
Sufocado na coca das esquinas
no fedor noturno do cruzamento
até respirar o último enxofre
revestido pela farda maculada
Índice na estatística inócua

Gerber de Sá é, segundo ele se autodenomina, estudioso, pesquisador e aprendiz no campo da poesia.Produz junto a José Carlos de Farias o Zine Umbigo Pandamo.
gdswinsa@yahoo.com.br


TEMPO

Como é que, o tempo, gosta de
passar o tempo.
Será que ele tem algum passatempo?
Será que ele perde as horas. Ou
usa despertador?
Será que ele nunca para?
Nem para dar um tempo?
Será que nunca se cansa?
Será que não tira férias?
Será que ele passa frio, quando
não é um bom tempo?
E quando o tempo está quente.
Será que ele fica contente?
Será que fica com sede?
E será que ele se diverte;
fazendo manchas na parede...

BALLET  na  AREIA

Isadora
Perto do Mar
          nasceu
                     correu
                              saltou
Encontrou liberdade
                             e imensidão

Isabelle de Sá, 11 anos e futuro promissor, espero, vejo e torço, na Literatura.


Rosana Banharoli é e/ou transpira para ser poeta. Coordenadora deste blog.


rosana_banharoli@hotmail.com

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