A POETA MARILDA CONFORTIN
Apresentamos hoje a primeira de nossas colaboradoras (es) da "Poesia Comovida", a bela poeta catarinense Marilda Confortin, que comprometeu-se a nos ajudar e enriquecer este recanto de poesia que é esta nossa coluna Segunda Poética. A poeta é radicada em Curitiba, onde participou e participa de várias atividades e movimentos relacionados à poesia independente no circuito de cultura oficial (bibliotecas, escolas, auditórios, academias, etc) e também no circuito underground (bares, cafés, saraus, praças, garagens, etc). Mas é também bem relacionada com vários grupos de poetas de Santa Catarina e participou de vários saraus de poesia em Porto Alegre. Pretendemos aqui que ela escreva sobre (ou apresente-nos) poetas e poesias do sul do país, escrevendo, se possível, a cada primeira segunda-feira do mês.
Marilda Confortin participou também de saraus de poesias em vários sites do Brasil (Brasília, São Paulo, Porto Alegre) vinculados a grupos de poesia independente, grupos de poetas-virtuais e ao grupo REBRA (rede de Escritoras Brasileiras). Ela esteve também de alguns encontros de poesia a nível internacional, tendo estado como a representando do Brasil em 2 deles (no México em 2002 e na Nicarágua em 2007).
Moderna e arguta, Marilda nasceu na área rural do município de Chapecó-SC (não quis me dizer quando...), teve uma vida não muito fácil de moça do interior que vai para a cidade grande estudar, trabalhar, amar e criar filhos. Mas ela nunca deixou de alimentar a poesia que cultivava desde sempre meio escondida. A poeta veio a publicar só recentemente, seus primeiros escritos viraram músicas antes de se afirmarem como poemas, mas os seus versos realmente valem a pena!
Vejam por exemplo um trecho do poema "Na morada":
"As fotos dos filhos estão por toda parte / Exibo sim, são minhas obras de arte!"
ou ainda no mesmo poema:
"Uma erva daninha nasceu na floreira, / Cresceu trepadeira, não posso arrancar./Um pé de gerânio abriu a cortina / e na surdina deixou o sol entrar."
Há um poema dela chamado "Largo Esquerdo da Ordem" (que fala sobre o centro histórico de Curitiba) que é por muitos considerado como o hino marginal da cidade.
Engraçada, ela soube aproveitar bem os ensinamentos da poesia marginal, e se tornou quase que uma especiliacista em expressar-se em pequenos versos e em poemas curtos, nos canteiros mínimos da palavra. Marilda participa (e foi uma das fundadoras) do grupo "Poetrix", que cultuam este tipo de poema, um priminho brasileiro do haicai. Vejam alguns poetrixes dela:
A ROSA DE HIROSHIMA NÃO ERA FLOR QUE SE CHEIRE
Disfarçava-se de litlle boy
Vestia ultra-violeta
E queria acabar com o planeta
***
PRÉ-NATAL
Dilato, contraio, ardo.
Estou prestes a parir
Mais um ano bastardo
***
(Gr)ávida
Pensa que tem
o rei na barriga
... e tem.
***
Além de versejar graciosamente, a autora é também boa de prosa, confira a sua auto-apresentação no texto abaixo. Desejamos a ela toda a energia boa e toda a ternura para que, com poesia, ela possa continuar a fazer bonito aqui, conforme sempre esteve fazendo vida adentro!
A MARIA MARILDA, POR ELA MESMA
Não sei ao certo quando nasci. Sou a décima primeira de uma ninhada de doze. Só restam dez.
Antes de partir minha Sunta mãe disse que me pariu em casa, numa madrugada fria e devia ser maio.
Antes de partir, minha irmã mais velha disse que na madrugada eu só parava de chorar quando me levava pra fora de casa e mostrava as estrelas.
Depois de algum tempo, meu Francisco pai encilhou o cavalo, galopou uns trinta quilômetros em baixo de chuva e foi pra cidade me registrar.
Antes de chegar no cartório, parou numa bodega e tomou um trago. Quando voltou, guardou o registro de nascimento dentro de um cofre de papelão junto com os outros onze, a escritura da terra, as notas promissórias dos empréstimos rurais do banco do Brasil e alguns contos de réis.
Ninguém tinha permissão para tocar na caixa de sapatos cheia de segredos do pai. Nunca vi minha certidão de nascimento. Aos sete anos, depois de uma semana sem responder a chamada na escola, descobri que meu primeiro nome era Maria e que fui registrado em junho. Até aquele momento, eu me conhecia por Marilda, nascida em maio.
Quando me chamam de poeta eu estranho. É como se me chamassem de Maria. Não me reconheço. Poesia é coisa divina e não sou santa.
Aos dezoito, saí do interior e troquei a enxada pelo computador. Aos vinte e poucos, tive dois filhos. Aos quarenta e tantos, pari o primeiro livro e depois de meio século de vida descobri como é bom desligar o despertador e dormir até mais tarde.
Agora que tenho todo o tempo que me resta, espero que a morte me encontre tão distraída quanto a vida.
Trabalhos literários:
- Pedradas – crônicas
- Triz – poesias (português e espanhol)
- Gota a gota – poesias (português e espanhol)
- Bem me quer Mal me quer – livro de poemas soltos (português e espanhol)– distribuição gratuita
- Lua caolha – poetrix
- Largo Esquerdo da Ordem – poema em Cartão Postal de Curitiba – distribuição gratuita
- Mulher – ensaio publicado em papel jornal pela Biblioteca Publica Paranaense para distribuição gratuita no PR
- Portas entre-abertas – peça teatral em parceria com Helena Sut.
O POEMA
Um brinde!
Poesia é uma Flor Bela que Espanca,
golpeia, fere, maltrata.
Poesia quando ataca provoca cirrose,
divórcio, neurose, taquicardia, tuberculose...
Poesia mata!
Por isso, os grandes poetas estão mortos.
Por isso, os poetas vivos são assim tão... tortos.
Só loucos, vivem a poesia em sua essência.
Em sã consciência,
a hipocrisia desta vida é insalubre,
arde feito urtiga e é mais fria
do que a vodka que consumia Maiakowski.
Por isso eu ergo uma taça, e faço um brinde:
A todos os malditos poetas
seres visceradis pelo avesso,
não servis,
vis citados,
anônimos e abominados
que rabiscam e recitam seus manuscritos
pelos botecos,
sebos,
saraus e feiras
livres prisioneiros da poesia.
Aos benditos que publicam e são lidos,
e aos ficam empoeirados,
empoleirados nas prateleiras,
criando teia,
esperando que um dia alguém os leia.
Aos que travestem a poesia com barro,
tinta, efeitos virtuais,
acordes musicais
e cantam, pela vida sem serem ouvidos.
Um brinde aos que partem cedo,
com medo de verem suas almas
sendo dissecadas por críticos estúpidos.
Poesia é de quem precisa dela, já dizia Neruda.
Se você não precisa,
não leia,
não ouça,
não toque!
Ela é como um feto:
precisa de calor e útero
e não de um fórcipe obstetra.
E mais um brinde
A todos aqueles que atuam à luz do dia,
nesse imenso palco,
de paletó, gravata, saia justa, salto alto,
e esperam impacientes a aposentadoria
para enfim, declarar seu amor pela poesia.
A todos aqueles que,
entraram na fila errada,
e estão neste mundo por engano
só para diversão dos deuses.
Não escrevem, não cantam,
não esculpem nem declamam.
Mas sentem, amam e acolhem
anonimamente a poesia em seus ventres.
Um brinde a todos os recipientes!
Poema de Marilda Confortin
Para saber mais, visite o blog da Marilda: http://iscapoetica.blogspot.com/
Contato: mmarilda2002@yahoo.com.br
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Evento Literário:
Entelinhas do Corpo - II Encontro Literatura e Erotismo - Não Perca!
de 20 a 27/02 no SESC Pinheiros - São Paulo.
Rua Paes Lemes, 195 - Tel 011 3095 9400 begin_of_the_skype_highlighting 011 3095 9400 end_of_the_skype_highlighting / 0800 118220
Altair de Oliveira, poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. poesia.comentada@gmail.com. Contará com a colaboração de Marilda Confortin - Sul - marildaconfortin@yahoo.com.br, Rodolpho Saraiva - RJ / Leste - rodolpho.saraiva@gmail.com e Patrícia Amaral - pati.cass@uol.com.br
6 comentários:
Olá Altair, obrigada pela apresentação e sucesso para sua coluna.
22 de fevereiro de 2010 às 13:15Ana Maria, parabéns pelo site. Muito bom mesmo. Espero corresponder à altura, apresentando poetas e artistas que também façam a diferença nesse mundo.
Um grande abraços aos editores e leitores.
Marilda
Hey Marilda! Espero e conto que possas sempre estar contribuindo aqui com o teu bom-humor, com tua sensibilidade e tua com argúcia, poeta!!! Não economize nada, dear! A poesia só tem a ganhar!
22 de fevereiro de 2010 às 20:48Seja bem-vinda, pois!
Aí Marilda, do jeitinho que eu conheci você: surpreendente, verdadeira, encantadora!
23 de fevereiro de 2010 às 22:37Parabéns, bem vinda ao contemporartes.
abração,
Izabel Liviski
Marilda Gigante pela própria natureza, jamais poderia se esconder diante dos novos desafios, afinal, eles surgem para serem vencidos.
23 de fevereiro de 2010 às 23:33Hugo - Ctba.
fico tão feliz de lê-la... feliz por esse espaço trazer flores como essa...
25 de fevereiro de 2010 às 14:51obrigada marilda e altair e q continuemos a cultivar esse jardim da literatura no Brasil...
Bjs
Ana Maria
minha irmã ! Voc
6 de novembro de 2013 às 17:49você é poeta.Minha querida irmãnzinha.
beijos
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