sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Cinema uruguaio chega a Cannes e a Hollywood







Ataque de Pánico, Alvarez




La Casa Muda, Hernández


É inegável o poder midiático da Internet,  inúmeros internautas que estão em tempos e lugares distintos podem ter acesso as grandes Redes de Comunicação mundial formando uma extensa Aldeia Global, como defendia o visionário Mc Luhan na década de 1960. Entretanto, vale ressaltar, que a exclusão digital é uma triste realidade, também mundial, que deixa uma extensa camada da sociedade a margem das novas tecnologias da informação, lamentável constatação pois o acesso à Internet e a outros meios digitais podem nos proporcionar façanhas comunicacionais que até pouquíssimo tempo atrás seriam praticamente impossíveis. A abrangência de público e a visibilidade que um fato pode alcançar através de sites, blogs e You tube, é impressionante. A Internet ainda não é como a TV em termos de audiência, no entanto possui pelo menos dois diferenciais importantes; o primeiro,  a não-linearidade espacial e temporal, capaz de deixar a disposição dos freqüentadores uma imensa gama de opções de consultas a inúmeros assuntos e temas diversificados. Na Internet o receptor pode ser, ao mesmo tempo, autor, co-autor e público, indo atrás livremente do que quer e deseja de forma direta e sem rodeios. É o jeito mais eficaz e pós-moderno de atingir o famoso target group (público alvo), objetivo tão desejado e idealizado pelos marqueteiros e publicitários. O segundo, a capacidade que os meios digitais possuem de promover uma certa interatividade com o público pois não é uma via de uma só mão, como é o caso da TV. O emissor também é receptor e estão interligados e  conectados a vários outros emissores e receptores formando canais de várias mãos em sentidos infinitos que podem variar na horizontalidade, na verticalidade e na circularidade.  O retorno do receptor, mais comumente como comentários escritos, pode enriquecer as comunicações e as relações interpessoais. Nesses quesitos, alcance segmentado e interatividade, a Internet supera a TV, pelo menos a TV que conhecemos nos dias de hoje. Um bom exemplo disso é o Sr. Google, instância de grande sabedoria que pode encaminhar o internauta a manchetes de jornais e revistas, artigos científicos, sites, You tube, blogs e  uma infinidade de lugares que podem ser acionados apenas com alguns cliques. Essa revolução midiática perpassa por todos os meios de comunicação e lógico, também pelo audiovisual. Pensando nisso, lembrei-me de um fato que ocorreu com um diretor uruguaio ao colocar o vídeo de seu curta de 4 mim e 48 seg. Ataque de Pânico, no You Tube. Ele conseguiu chamar atenção de algumas pessoas influentes e figuras importantes do cinema mundial. Pesquisando a respeito, constatei outro caso semelhante com um jovem cineasta uruguaio que colocou o trailer do seu filme, La Casa Muda, em sites de filmes de terror e com isso conseguiu também uma visibilidade importante. Resolvi que seria interessante relacionar esses dois casos pois tem pelo menos dois pontos em comum; o fato dos realizadores serem  uruguaios e de terem seus filmes divulgados por sites, blogs e/ou You tube.

Fede Alvarez

O primeiro realizador é Fede Alvarez, um jovem de 30 anos que fez seu curta Ataque de Pánico, 2009, com menos de 500 dólares. Filme criativo e repleto de efeitos especiais obtidos, principalmente, pela experiência do diretor na área e pela manipulação de programas como o Aftereffects, 3dMax, Photoshop e Premiere. Alvarez consegui simular um fabuloso ataque de robôs alienígenas que destroem importantes prédios de Montevidéu, patrimônios históricos e culturais da capital; a Torre de Antel, o Palácio Legislativo, o Palácio Salvo e a Prefeitura. Vocês estão com a sensação de que já viram algo parecido? É verdade, o curta tem ares de Independence Days, mas vale lembrar o pouco investimento do diretor e também que o gênero de ficção cientifica é pouquíssimo explorado pelo cinema latino. Outro fato relevante que enriquece esse curta, são as referencias que ele faz aos clássicos do cinema mundial, como na cena em que o carrinho de bebê  desce a escada sem controle.  Alvarez repete, em grande estilo,  a cena de  O Encouraçado Potenkim de Eisenstein, 1925, onde a escadaria de Odessa é pano de fundo para um carrinho de bebê também descer sem controle. Cena similar podemos presenciar também em Os Intocáveis, 1987, de Brian de Palma em que o tiroteio entre policiais e gângsteres acontece também em uma escada e novamente o carrinho de bebê fica a mercê da gravidade e vai escada a baixo.  A trilha sonora do curta também é uma referência ao diretor Juan Carlos Fresnadillo de 28 Weeks Lates, 2007. O diretor de Ataque de Pánico usou a música In the House, in a Heartbeat de John Murphy para preencher as cenas de destruição de Montevidéu. Você talvez já tenha se perguntado, porque será que só os norte-americanos merecem os ataques alienígenas?  Nós, latinos americanos também não os merecemos? Acredito que essa tenha sido a grande sacada de Alvarez!


Gustavo Hernández

O segundo é o jovem cineasta Gustavo Hernández, formado em 2002 pela ECU, Escuela de Cine Del Uruguay. O diretor realizou La Casa Muda, 2009 com apenas 6 mil dólares e uma equipe de quinze pessoas em quatro dias de filmagens. Equipamento utilizado: duas lanternas e uma câmera fotográfica Canon 5D que fora emprestada e utilizada na função vídeo. O grande trunfo de Hernández foi filmar La Casa Muda em um único plano-seqüência, isto é, sem cortes.  Com o slogan: O medo em Tempo Real, o diretor consegui um diferencial importante, levando em consideração os filmes de terror de Baixo Orçamento como, A Bruxa de Blair, 1999 e Atividade Paranormal, 2009. Em entrevista ao LatAm e La Latina, Hernández diz que ele e o produtor do filme estabeleceram um conceito básico: Assustar e entreter, “(...) queremos que o espectador experimente o medo em tempo real. Depois desse parâmetro, tínhamos as coisas muito claras. Também chegamos à conclusão de que a técnica não poderia cegar a história, mas a linguagem tinha que ajudar as personagens de forma invisível (...)”. Com câmeras únicas e subjetivas a la Alfred Hitchcock, alguns referencias dos trashes americanos e o lema de Glauber Rocha, Hernández levou o filme com literalmente, uma câmera na mão e uma boa idéia aterrorizante na cabeça. O que o excepcional José Mojica Marins, Zé do Caixão, infelizmente não consegui aqui no Brasil - Fazer Escola no terror, Hernándes deu o troco lá do Uruguai. Grande genialidade e criatividade do diretor.

As relações entre esses dois diretores são: Os dois são uruguaios, vieram do mundo dos comerciais, usaram a Internet para divulgarem seus filmes e o melhor, alcançaram algum prestigio.


O jovem Gustavo Hernández jamais poderia imaginar que seu filme, La Casa Muda, realizado com apenas 6 mil dólares chegaria a Cannes. Seu trailer, quando divulgado na Internet,  acabou sendo visto por um dos jurados do Festival. Ele procurou Hernández e sugeriu-lhe que apresentasse seu filme para concorrer na Quinzena de Realizadores, seis meses depois o filme havia sido selecionado

Já com o curta de Alvarez, Ataque de Pânico, o sucesso veio dos Estados Unidos. O filme foi visto inclusive por pessoas influentes de Hollywood, incluindo nada menos que o produtor Sam Raimi, aquele que dirigiu a Trilogia do Homem-Aranha (Spider-Man). Raimi convidou Alvarez para realizar um longa de 40 milhões de dólares em Hollywood, feliz e admirado, o diretor uruguaio só sabe que o filme terá robôs e que ele não precisará fazer as invasões alienígenas nos Estados Unidos, poderá ser em Montevidéu ou Buenos Aires. Que bom! podemos comemorar que os homens do espaço também notaram nossa importância como terrestres. Alvarez em Hollywood e Hernandez em Cannes, os jovens uruguaios começam suas carreiras em grande estilo graças ao mundo digital. Que a força estejam com vocês, muchachos!






Assistam,  Ataque de Pánico e o trailer de La Casa Muda.  Vamos esperar ansiosos pelas estréias no Brasil do terror de Hernández e do primeiro longa de ficção científica de Alvarez.
Até mais....  e, bom filme!







Ataque de Pánico, Alvarez











La Casa Muda, Hernandez










Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP
onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

6 comentários:

Ana Dietrich disse...

katia, vc. me surpreende. Que ótimo dar espaço para o que há de mais inovador no cinema latino-americano e escolheu 2 diretores uruguaios... jóia... claro que percebi que deve ter um dedinho do mathias nisso, acertei.
bom, minha cara, sempre um prazer lê-la.
gostei da idéia de colocar os vídeos na revista, depois vc. me ensina ;)
bjs a vc e a essa família linda

11 de junho de 2010 às 12:29
Filipe Batalha de Oliveira disse...

Gostei muito, muito mesmo !!

11 de junho de 2010 às 13:04
Matias disse...

Ana, na verdade esta columna surgiu numa conversa de Bar entre meu Pai e a Katia, depois eu so ajude com a pesquisa, Bjs, Matias

11 de junho de 2010 às 23:27
Anônimo disse...

Ana querida, obrigada pelas palavras. Você é uma pessoa muito especial, beijocas,

katia

14 de junho de 2010 às 16:57
Anônimo disse...

Querida mana, comentário muito valioso. Parabéns!!! Um grande beijo.
Célia Regina

14 de junho de 2010 às 23:30
Fernando Hernandez disse...

Katia adorei a columna, parabens!.
Soy Fernando médico e fotografo amador. beijo
fan teu.

28 de junho de 2010 às 14:42

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