Inquietante igualdade: processos de manutenção social
por Lucas Piter Alves Costa.
Graffiti de Banksi. |
O espaço dessas relações sociais é um lugar de troca e construção de valores. Mais do que um espaço de identificação com o outro, é, antes de tudo, um espaço de diferenciação. As relações humanas estão sempre se tangenciando pela alteridade, elas serão sempre assimétricas em algum ponto, podendo chegar mesmo à hierarquização como meio civilizatório. Isso pode ser muito bem notado no meio acadêmico se levarmos em consideração que constituímos um nicho social que valoriza muito a titulação, até mesmo entre os graduandos. Quem vai negar que a notória (e às vezes abusiva) oposição entre veterano e calouro é uma prática de valorização assimétrica dos sujeitos sociais?
Michel Foucault, autor de A Ordem do Discurso. |
Então, se a igualdade é uma utopia, significa que ela não exerce a sua função? Não é bem assim. Acredito que, como no caso de toda utopia, a igualdade se preza a ser buscada, não atingida. É no processo de busca que ocorre os aperfeiçoamentos sociais, não na estabilização. A mera menção de uma dada igualdade suscita entre os segmentos que a compõem uma nova tática de manobra dentro do quadro social em questão, seja de manutenção dessa suposta igualdade, seja de superação de algum outro estado de alteridade. É impossível atingir um estado de igualdade que seja perene, se estamos falando de relacionamentos humanos.
Diferenças? | Igualdade? |
Por fim, ouso dizer que não acredito em relações humanas que não se pautem por alguma hierarquização – a simples diferença de idade pode ser fator balizador de comportamento entre duas pessoas, o que diremos então sobre o reconhecimento intelectual ou outros pontos mais polêmicos. Acredito na necessidade das diferenças para o dinamismo e aperfeiçoamento humanos. É no reconhecimento das diferenças que construímos o respeito, tão mais alcançável que a igualdade.
Fonte das ilustrações:
Ilustração 1: http://1.bp.blogspot.com/17banksyES_468x606.jpg
Ilustração 2: https://www.msu.edu/~duffkerr/HistoryOfSex/foucault2.jpg
Ilustração 3: http://blogdorabay.files.wordpress.com/2009/06/kaiser-16-06-2009-12451581931.jpg
Ilustração 4: http://www.video-divertido.com/data/media/19/Diferenca_entre_homens_e_mulheres_4.jpg
Contribuição do leitor Lucas Piter Alves Costa, estudante de Letras na Universidade Federal de Viçosa. Foi membro do Centro Acadêmico de Letras Ipsis Litteris e da Comissão Organizadora do XII EMEL. Foi representante discente da Coordenação do Curso de Letras da UFV (2009). Áreas de interesse: Literaturas de Língua Portuguesa; Literatura Comparada; Cinema; HQs; Artes Plásticas, Estudos de Tradução Intersemiótica, Narratologia, AD Semiolinguística. Tem experiência como professor de desenho artístico. Atualmente desenvolve a pesquisa "Encontro de Gerações: O Tempo Narrativo n'O Alienista", sob o viés da Análise do Discurso Semiolinguística.
1 comentários:
Gostei muito de tuas palavras, Lucas. E concordo contigo, esse discurso de igualdade é hipócrita. Bem, hipócrita não é bem o que eu queria dizer, mas vale. Somos diferentes e na verdade temos que lutar e desafiar a convivência não em prol da igualdade e sim da existência e resistência das diferenças. Assim estaremos vivendo mais sincera e ricamente. Igualdade é simplista.
4 de outubro de 2010 às 23:28Postar um comentário
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