sábado, 9 de outubro de 2010

O acaso distraído




Se acaso ser romântico anda fora de moda, eis aqui um relato muito diferente das gélidas esquinas de concreto declamadas por Caetano. Até típico de comédias românticas holywoodianas.

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Em uma cidade do interior de São Paulo dois jovens da mesma idade, com experiências distintas e estilos completamente diferentes trabalhariam no mesmo congresso como estagiários. Ele era uma pessoa introspectiva, inteligente, alheio ao estilo mercadológico da grande metrópole da qual Safira era oriunda. Ela crescera em São Paulo e com sua personalidade forte e sentimentos frágeis, Safira procurava sempre a distância que julgava saudável de envolvimentos sentimentais.

Safira chegou em Ribeirão Preto após uma viagem de longas horas, já era madrugada e tudo se lhe apresentava muito novo, mas sua amiga Caroline, mais experiente nesse tipo de viagem, já havia preparado a estadia e todo o resto em uma república feminina de estudantes.
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No dia seguinte, ambas foram conhecer a cidade e aproveitar para se interar das atividades que as aguardariam durante os dias que seguiriam, a verdade é que o restante da equipe só chegaria nos demais dias. Embora a companhia de Caroline fosse agradável, Safira estava inquieta com a possibilidade de conhecer outras pessoas, não sabia como isso seria, se seria bom, se não seria... Tudo que ela sabia é que, de fato, isso seria necessário e aquela viagem marcaria sua experiência de vida. Foi na noite daquele dia que Caroline recebeu a notícia de que Zeider estava na cidade. Ela o conhecia apenas por foto e já havia trocado curtos emails com ele, mas nada além disso. Em sua mente, esperava uma pessoa arrogante, idéia fomentada no pouco contato que tinham, mas ela mantinha um certo respeito sobre ele.


Era segunda-feira, o primeiro dia do congresso e todos se encontraram no local do evento, ocasião onde se conheceram, Zeider e Safira. Eles mal foram apresentados: o objetivo da reunião era apenas o trabalho que seguiria. E Safira não se desiludiu da opinião que tinha, ela não teve impressão alguma sobre a pessoa de Zeider, nem se manteve preocupada em analisá-lo, tão concentrada que estava em seus afazeres. Zeider também não demonstrou nenhum olhar de interesse ou de empatia por Safira. Sem a menor sinergia, começaram a conversar despretenciosamente. Fizeram um trabalho legal e cada um foi para seu lugar almoçar e descansar.


Na parte da tarde, Caroline precisaria de auxílio no preenchimento de formulários e todos se encontraram novamente: e foi nessa ocasião que Safira notou Zeider. Nada mudara, nada acontecera, mas já não havia adrenalina correndo em suas veias e Safira notou suavemente que Zeider era uma pessoa pouco compreendida, mas especial. Eles começaram a se tratar como amigos e Zeider não manteve nenhum tipo de receio sobre ela, abaixou a guarda e passou a tratar Safira de uma forma especial.
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À noite, Caroline, Zeider e Safira foram para um barzinho na cidade, Caroline estava se sentindo um pouco só com a amizade entre os dois, que crescia a cada instante e lá no barzinho, havia esperança de encontrar mais pessoas, alguns amigos que fizeram por lá. E foi o que aconteceu: Caroline começou a conversar com outras pessoas que se sentaram à mesa, Zeider e Safira começaram a criar um mundo particular. Perto da meia noite, começaria uma festa próxima à república onde Zeider estava e Caroline incentivou que eles fossem sem ela, já que estava cansada demais e queria descansar. Safira estava exausta, queria sua cama, mas não queria se separar de Zeider, tudo acontecia muito rápido, mas Zeider a deixou confortável durante toda a viagem. A caminho da festa, Safira confessou: "não aguento mais, preciso ir para minha cama!". Eles estavam longe e não seria uma boa idéia voltar atrás e Zeider a convidou para ficar em sua república com ele. Embora Safira relutasse, sabia que não tinha outra opção: ela teria que passar a noite com ele.



Safira temia se entregar ao desejo que estava sentindo de ficar com Zeider, ela tinha plena consciência de que aquilo logo acabaria e que poderia ser uma experiência ruim. Ninguém soube me dizer o que se passava na cabeça de Zeider, mas o que me contaram eu vou dizer: parece que Zeider estava realmente preocupado em levá-la para um lugar seguro. E foi o que ele fez, sem nenhuma tentativa de nada mais, ele a levou para a república e ambos foram dormir. Safira reconheceu o respeito que Zeider tinha por ela naquele momento em que ele deitou ao seu lado sem se quer tocá-la.


O restante da equipe chegou e quando os dois foram ao encontro de Caroline, eles já estavam lá. Safira, apesar da personalidade forte, era meiga e carinhosa ao contrário de Zeider que era ríspido a maior parte do tempo, exceto quando o assunto era Safira. E essa diferença entre os dois se destacou de tal forma que a equipe apelidou o casal de "a Bela e a Fera". Mas eles não eram um casal, eles eram 2 desconhecidos vivendo uma aventura indistinta e compartilhando um pequeno pedaço de sua vida.


Eles fizeram o trabalho como deveriam e foi no quarto dia que tudo aconteceu, durante a despedida dos novos amigos, o grupo resolveu brincar de verdade ou desafio, e os inseparáveis Zeider e Safira estavam lá! Todos perceberam o que eles não haviam percebido, e entre as verdades e desafios, a equipe desafiou Safira a beijá-lo, um selinho que devia demorar 3 segundos. Ela estava tímida, mas teria que pagar o desafio, o que fazia a brincadeira valer a pena. Ela já não conseguia mais adiar a vontade que tinha de ficar com ele e nesse momento foi difícil esconder: o beijo deve ter demorado uns 10 segundos e foi só o que Safira pode fazer naquele momento. Durante a brincadeira, em uma conversa aleatória, Zeider sentiu-se extremamente invadido e ofendido com um comentário, e como não era muito dócil, deixou o grupo e foi em direção a sua república com passos largos. A rua da república era uma ladeira de pedra sabão muito escorregadia e Safira não pensou duas vezes: tirou os sapatos e foi atrás de Zeider, correndo descalça ladeira abaixo. Ficou claro a ela e a todos suas verdadeiras intenções. Os dois conversaram carinhosamente e Safira o convenceu a voltar.

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Os amigos deles foram embora e ficaram apenas os 2 casais: Caroline e Diogo, Zeider e Safira. Enquanto Diogo e Caroline, que já se conheciam a muito tempo, conversavam, Zeider e Safira ficaram de uma forma apaixonada e intensa após aquele episódio, sabendo que no dia seguinte, cada um voltaria a sua realidade.


Todos dormiram na mesma república e no mesmo quarto, porém em camas separadas. Já era de manhã quando a cama de Safira quebrou e ela foi para a cama de Zeider. Eles puderam dormir abraçados por mais 2 horas, até que tiveram que se levantar para arrumar as malas. Zeider foi embora porque tinha que resolver uns problemas e prometeu retornar para se despedir de Safira. Porém, Zeider ligou dizendo que não iria se despedir dela e desejou uma boa viagem, de forma que Safira entendeu o que tinha acontecido: apenas um "sonho de uma noite de verão", durante o inverno! Não questionou a decisão de Zeider e apenas disse um seco tchau e continuou a fazer o que tinha que fazer. Mas quando chegou a hora de ir embora, Safira sentiu seu coração apertar, não era o que ela queria que acontecesse. O taxista já estava a espera de Caroline, Diogo e ela, quando o telefone tocou. Caroline atendeu e era Zeider: " quero me despedir de vocês, eu estou indo aí!". Elas tinham alguns minutos para partir, colocaram as malas dentro do táxi e nada de Zeider chegar. Aguardaram o quanto podiam, mas Zeider não chegara. Não havia mais tempo e quando o táxi começou a andar, Safira sentiu vontade de chorar, ela não poderia nem mesmo se despedir do que havia vivido.

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O trânsito decorrente do congresso iria ajudar os dois. Ao chegar na avenida, uma obra causou um complexo caos na pista que levava à rodoviária. O taxista parou aguardando a liberação da via quando Safira avistou passando na outra pista o ônibus local, onde estava Zeider. Caroline falou para Safira - "desce, corre atrás dele". Safira não pensou duas vezes, jogou suas coisas no colo de Caroline e desceu passando entre os carros, correndo em direção a Zeider. A outra pista estava livre e talvez não seria possível alcançá-lo antes do farol abrir. Ela correu o quanto pôde e quando o ônibus já estava de partida ela gritou: - "Zeider". Ele não a ouviu, mas o motorista parou e sinalizou questionando se ele deveria parar e Safira acenou que sim. O motorista avisou Zeider ,que desceu rapidamente do ônibus, os demais carros que vinham pararam, ela correu atravessando a rua e o abraçou - cena típica de filme holywoodiano, diz que não? - eles se beijaram e correram para alcançar o táxi, ainda parado no trânsito (incrível não?!). Eles entraram no táxi que partiu sentido a rodoviária e eles ficaram por lá. Lá os pombinhos se despediram não apenas um do outro, mas de tudo que haviam vivenciado naqueles dias. Quando o ônibus partiu, apenas uma certeza ficou no coração de Safira: de que nada daquilo seria levado de lá.






Eles não se falaram mais depois daquilo, cada um voltou para sua cidade e continuou sua vida comum, não como se nada tivesse acontecido, mas como se tivessem acordado de um estranho e gostoso sonho, mas nada mais! Alguns desses fatos foram aumentados (ou diminuídos), pois já dizia o velho ditado: "quem conta um conto, aumenta (ou diminui) um ponto." Essa história é baseada em fatos reais, mas qualquer semelhança é mera coincidência!

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Uma homenagem à Bela e à Fera, que particularmente, é meu conto de fadas favorito!





Yone Ramos é historiadora, teóloga e parte de uma maravilhosa equipe chamada ContemporArtes!



3 comentários:

Ana Dietrich disse...

Querida Yone, compartilho aqui a surpresa de conhecer esse seu lado romântico e doce - para uma escritora sempre tão séria preocupada com assuntos relacionados a economia internacional e as eleições. Confesso que gostei. Mostre mais esse lado sensível, delicado e cheio de paixão. Os leitores agradecem!!!!! Bjs da sempre amiga Ana

9 de outubro de 2010 às 20:45
Unknown disse...

AMEIIIIIIIIIII...
QUANTA SENSIBILIDADE NESSAS PALAVRAS...
AIAI...Q LINDO!!!
A VIDA É FEITA DE BONS MOMENTOS QUE VIVEMOS...
E ESSE CONTO É SUPER ULTRA MEGA POWER MANEIRO...
BJS A TODOS OS AMIGOS
JU

10 de outubro de 2010 às 11:45
Ana Cecília disse...

Lindo porque foi baseado no sofrimento de outra mulher. Essa Yone que se diz culta e tudo o mais e a organizadora da revista, ambas, foram extremamente machistas e pouco se importaram com o sentimento da namorada do personagem principal. Claro, sobre ele não restam as menores dúvidas do que é... Mas quero deixar registrado o quanto essas pequenas atitudes desrespeitosas marcam uma pessoa pra sempre. Alem disso, um texto extremamente mal escrito, pedante, que não consegue ir além de narrar fatos. Achei muito antiético terem publicado isso. Não as respeito enquanto mulheres e enquanto intelectuais.

25 de setembro de 2020 às 20:13

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