quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A FOTOGRAFIA a SERVIÇO dos DIREITOS HUMANOS



Entrou em cartaz nessa última terça-feira a exposição itinerante do fotógrafo carioca João Roberto Ripper na Caixa Cultural de Curitiba. Conversei com ele e também com o curador da mostra Dante Gastaldoni, professor de fotojornalismo da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de quem tomo a liberdade de transcrever parte do texto de apresentação da mostra, chamada Imagens Humanas.

João Roberto Ripper é ao mesmo tempo, um fotógrafo das antigas e um visionário. Sua fotografia é herdeira direta de uma linhagem de fotógrafos humanistas de tradição clássica, gente como Lewis Hine e Eugene Smith, que ao longo do último século priorizaram os menos favorecidos e comprometeram-se politicamente com seus fotografados. 

Em contrapartida, Ripper tem os olhos voltados para uma documentação fotográfica da exclusão social que possa ser produzida precisamente pelos excluídos e, para tanto, durante os últimos cinco anos, empenhou-se em formar fotógrafos populares na periferia carioca, por meio do trabalho politico-pedagógico de "inclusão visual" que desenvolve no Observatório de Favelas.


A inabalável coerência entre o fotógrafo e o militante, que convivem nesse ser humano diferenciado que é o Ripper, começou a ser forjada na grande imprensa há exatos 35 anos, ganhou consistência na agência independente F4 e redundou em uma trilogia revolucionária, iniciada em 1991, quando ele funda o Imagens da Terra, uma cooperativa de fotógrafos que documentou a luta dos movimentos sindicais e o trabalho alternativo pelas entranhas do nosso país.

Estendeu-se pelo Imagens Humanas, um espaço virtual criado em 1999 para acolher seus projetos individuais, e desaguou no Complexo da Maré em 2004, com a agência-escola Imagens do Povo, a menina dos olhos de um inesperado e tardio professor que volta e meia diverte-se ao dizer, sempre em voz mansa, "estou criando a minha própria concorrência".


A dignidade do fotografado tem sido o fio condutor dessa trajetória de vida, pautada na assumida parcialidade com que ele retrata os despossuídos e alicerçada pelos laços de solidariedade que foram se estabelecendo a partir daí. Na contramão do noticiário, que sistematicamente estigmatiza a pobreza como foco de degradação e violência, as fotografias de Ripper procuram evidenciar a luta pela liberdade protagonizada  por ampla parcela da população brasileira e, como um mantra, enaltecem a beleza, a sensualidade, a alegria e o amor que emanam da nossa gente.


Fotos que, não raro, são doadas para integrar ações orquestradas pelos movimentos sociais; imagens que quase sempre retornam às comunidades fotografadas como uma espécie de prestação de contas.

De certo modo, o despojamento deste fotógrafo e seu desapego para consigo mesmo fazem com que sua exuberante - e malcuidada - produção não seja tão conhecida do grande público, daí a pertinência da presente exposição que, por obra do destino, ganha forma justamente quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos.


A mostra Imagens Humanas exibe 70 ampliações em preto-e-branco, pinçadas de um minucioso garimpo nos 140 mil negativos do acervo de Ripper e divididas em quatro módulos temáticos, cujas fronteiras são muito tênues: Amor, Dor, Resistência e Liberdade.
Assim, os temas mais recorrentes de sua obra (índios, carvoeiros, trabalho escravo etc.) reaparecem aqui e ali emoldurados pelos sentimentos dominantes que transbordam das fotos e parecem guiar João Roberto Ripper em busca por um mundo socialmente mais justo.


Como pano de fundo, foi montado um grande painel composto por 110 pequenos retratos, que instigam o público a se aproximar para ver de perto. São indivíduos de diversas idades e etnias quenos olham de frente, cúmplices do fotógrafo que prioriza as objetivas de curta distância focal e se obriga a estar sempre próximo das pessoas que fotografa.


Gastaldoni, coordenador acadêmico da agência-escola diz que "o melhor curso do qual participo é o da Maré. Ali os alunos aprendem não só a fotografar, mas a refletir sobre a fotografia e a ter compromisso com os direitos humanos".

Fotos: João Roberto Ripper
Textos: Dante Gastaldoni e Izabel Liviski.



Izabel Liviski é Fotógrafa e Doutoranda em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual.  Escreve quinzenalmente na Revista ContemporArtes.


1 comentários:

Ana Dietrich disse...

bel, querida, lindo o post,linda as fotografias tão belas qto o ideal que as construiu. bjs com admiração.

3 de abril de 2011 às 13:15

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