terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

PELO RALO


Havia tomado todas. Sempre ouvira lhe dizerem que um dia se urinaria todo. Mas nem por isso evitava beber ou ir ao banheiro. Às vezes segurava a vontade porque sabia que depois que se vai urinar a primeira vez, tem-se vontade de ir a todo instante.

Estava quase batendo seu record pessoal de evitar o vaso. De evitar mas tomando todas. Até que não resistiu, tropegou até o banheiro, sobrou pés em cadeiras e cintura em quinas de mesa, anestesiado. Ainda acertou o portal com ombro e resvalou canela no vaso antes de decidir-se pelo ralo.

Aliviou-se por inteiro e por completo.
É certo que sentiriam sua falta, mas de imediato a mesma necessidade fisiológica conduziu trás si um colega de mesa, que notando sua demora, resolveu entrar. Este deu-se apenas com a camisa amarela, o short bege, a sandália de dedo e um monte de cabelo, tudo amontoado no ralo e ensopado de urina.
Enfim, urinara-se todo.

 


Abilio Pacheco é professor universitário, escritor e organizador de antologias. Três livros publicados. É membro correspondente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense (com sede em Marabá), integra o conselho de redacção da Revista EisFluências, de Portugal, é Cônsul dos Poetas Del Mundo para o Estado do Pará e é Embaixador da Paz pelo Cercle Universal des Ambassadeurs de la Pax (Genebra-Suiça).

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