quarta-feira, 16 de março de 2011

Tsunami japonês: mas não se esqueçam da rosa, da rosa...


O mundo chora com a tragédia do Japão. Em todos os canais televisivos, jornais, portais da internet se repete a imagem do imenso tsunami que assolou o litoral nordeste do Japão no dia 11 de março.  Observações sobre esse país não faltam: o país mais tecnológico do mundo,um dos mais ricos, o mais preparado para terremotos. Ainda agora, as notícias da tragédia continuam: número de mortos que só avança tanto quanto de desaparecidos, estima-se até o momento mais de 3000 mortos, 10 mil desaparecidos e 500 mil desabrigados. Para intensificar a dor,a ameaça nuclear com a explosão de uma usina nuclear em Fukushima em um espaço curto de uma semana.

Além do horror em grande escala, o que nos chama a atenção são as microhistórias que envolvem o acontecimento: os rostos apavorados, as declarações de pessoas que viram seus parentes serem carregados, a grande influência no cotidiano – ninguém se sente seguro em suas casas, ao toque de sirenes devem ficar nos carros, a fome, a escassez de comida e água. Deve-se lavar roupas por medo da radiação, não se pode sair de casa quando chove, essa chuva pode ser radiativa. Outras que mostram como o povo japonês, dono de uma cultura milenar, reage: mesmo com a situação de escassez, não há notícias de saques a supermercados. Ainda se preserva o respeito ao espaço do outro, a solidariedade e  a dignidade.


Tudo isso me remeteu às lembranças que tenho desse país. Quando estava em Viçosa, dava aulas de História Contemporânea, e uma delas foi sobre as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Na aula, ouvimos a música do Vinicius de Moraes e Gerson Conrad: “mas, por favor, não se esqueçam da rosa, da rosa, da rosa de Hiroshima, estúpida e inválida”. As bombas foram atiradas em um país que já estava derrotado na II Guerra, historiadores afirmam que elas não tiveram um valor bélico propriamente, mas de subjugação, de retaliação, de mostrar o poderio norte-americano. 66 anos após – o país havia se reconstruído completamente – tornou-se um gigante econômico, tecnológico. O chamado Milagre Japonês, da década de 60/70, marcou essa trajetória. Agora, nova catástrofe, essa – de cunho natural – e não por agressão ou violência de outro país. O prejuízo econômico é lastimável. 



Pensamos como essas vidas, como esses seres humanos de cabelos negros, olhos puxados e uma imensa fortaleza e consciência de grupo, vão reagir frente ao Tsunami que entrou sem pedir licença e causou uma confusão gigante em suas vidas. Quanto de dinheiro terá que ser gasto, quanto as mentes serão traumatizadas por isso, será que veremos um novo Milagre, de reconstrução, não só econômica, mas psicológica? Acredito que sim. Por fim, lembro de uma declaração de uma brasileira que mora no Japão em um programa de TV: “Vemos agora que o dinheiro não é tudo, podemos ter milhares de dólares na carteira, mas isso, nessa hora, não nos vale para nada”.

Que o mundo se sensibilize perante tal tragédia em um sentimento de união e solidariedade.









Ana Maria Dietrich
Editora-chefe da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades
Coordenadora da Contemporartes - Revista de Difusão Cultural
Laboratório de Estudos e Pesquisas da Contemporaneidade
Núcleo de Ciência, Tecnologia e Sociedade - UFABC

2 comentários:

Soraia O Costa disse...

Fiquei muito chocada com tamanha tragédia, somos todos seres humanos, todos irmãos!!

Nesta semana recebi umas imagens do estrago feito nos trens de lá, mas, nada se compara com as mortes causadas e com o desespero pela notícia de pessoas desaparecidas...

Arrepiei mais ainda com o vídeo dos Secos e Molhados...

16 de março de 2011 às 09:19
Ana Dietrich disse...

Querida soraia, poxa, não vi nada sobre os trens, se puder colocar na sua próxima coluna vai ser ótimo... eu tbem estou chocada com a tragédia, mesmo porque os japoneses são parte do Brasil, do crescimento do nosso país e cultura. bjk

16 de março de 2011 às 12:17

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