sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um TeAtRo FuTuRiStA



Numa pirueta circense extrapolamos quase quatro séculos, começa a ficção.

Estamos em 2.310. O Rio de Janeiro era, mais do que nunca em sua história, um verdadeiro paraíso para os turistas. A segunda expedição para Mercúrio acabava de ser lançada. Tratava-se de uma expedição exploratória financiada em parte pela U.S.Robôs e em parte pela Solar Mineira. Vou ao terraço do Roosevelt Building, um prédio na Av. Atlântica com 800 metros de altura para admirar os telhados, que se misturavam à distância com as águas do mar da Baía de Guanabara. Do alto avisto as pessoas - pequeninos pontos - embarcando num submarino com paredes de vidro às profundezas do mar de Copacabana, esverdeado e ondulante, cheio de curiosas criaturas marinhas. Tomo um táxi bólido. Nem preciso dizer nada porque ele já sabe onde quero chegar: a cabine para o teatro já está pronta. Subo numa escada rolante sem degraus e em seguida embarco num esferóide. Não vejo nada porque a velocidade é muito grande. Nem dois minutos e chego ao teatro. Fui recebido por um robô, um simples modelo MC silencioso e imóvel; seu rosto sempre inexpressivo, parecia absolutamente indecifrável.
- O que deseja conhecer?
- O Teatro, respondi.


Mas o teatro não passa de um museu de arquivos.

O teatro desse ano de 2310 estará num prédio grande, mas vazio. Ninguém circula, fala, discute ou ensaia; nem artistas, técnicos, mestres ou discípulos. Tudo parado ao silêncio de uma informática exuberante.

O teatro pós-hiper-ultra-moderno irá gerar a revisão dos critérios de legitimação do saber artístico e dos jogos de linguagem, refinará a sensibilidade para as diferenças e a capacidade de suportar o incomensurável. Ao assumir os riscos da complexidade, o teatro pós-moderno aprenderá, através da transdisciplinaridade a transcender dualidades como: racionalismo/irracionalismo; ordem/desordem; sujeito/objeto/forma/não forma; interligando uma visão do mundo futuro com tradições culturais.


No teatro do futuro será primordial partir para uma compreensão mais aprofundada das mutações processuais, libertando artistas e profissionais do próprio aprisionamento intelectual, redimensionando-os em cenários mais abrangentes; o que levaria, sem dúvida, o homem à construção de novos conhecimentos inseridos numa realidade histórica e cultural.

Assim a questão do novo e da originalidade numa produção artística deverá ser interpretada através do processo de construção e de ligação entre os elementos utilizados nas linguagens adotadas, visando estabelecer elos e relações diferentes, sejam entre palavras, sons, ritmos, cores, formas, volumes, movimentos, idéias e demais, propiciando uma obra crítica e de domínio da linguagem coletiva.

Dean Simonton chama a atenção para a importância da disciplina, do trabalho e do esforço constante dos cientistas pesquisadores e para o fato daqueles mais criativos não terem medo de errar, dado o gosto pela aventura de compreender de forma diferente a realidade e a natureza. A contribuição crítica de pesquisadores talentosos advém do fato de saberem definir com precisão, e antecipadamente, temas fundamentais para o avanço da ciência da arte - pinçando pontos-chave, prevendo problemas e, sobretudo, tendo a coragem de romper barreiras e limites referentes a conteúdos, formas, imagens ou idéias -, para alcançar outras formas de reorganização e de equilíbrio na investigação artística.


Após esta análise, o leitor poderá reconhecer uma abordagem estratégica e prospectiva do teatro brasileiro, no que diz respeito à necessidade de novos paradigmas artísticos, no marco do teatro integrado e multifuncional. Esse comentário encerra a humildade de uma postura: o homem já percorreu Milênios e, quem sabe, outros mais percorrerá, porém é num primeiro passo que define sempre a trajetória de seu Destino e a Humanidade, afinal, para caminhar 20.000 léguas é preciso sempre dar um primeiro passo.



Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.

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