domingo, 31 de julho de 2011

Expressão artística de autoria feminina



Por ter sido consideradas, durante tanto tempo, à margem da história, da produção cultural, artística e literária do Brasil, as mulheres foram privadas de se manifestarem intelectual e artisticamente, num meio social alicerçado pela figura dominante do homem.
 

Figura 1:E.F.C.B., 1924, óleo sobre tela, 142 x 127 cm

Por outro lado, se pensarmos que tanto tempo de inibição da figura feminina no contexto social tenha servido de incentivo e motivação para a elaboração de tantas obras literárias, artísticas, de cunho social e político, consideraremos que a mínima abertura que foi dada à elas, revelou-se suficiente para revelar mulheres que, de alguma maneira,  puderam marcar  e contribuir significativamente com a formação da história  e da cultura brasileira.
Figura 2: Cartão-postal, 1929, óleo sobre tela, 127,5 x  142,5 cm

Nesse sentido, personalidades como Raquel de Queiroz e Tarsila do Amaral, por exemplo, não se importaram com os limites ou a extensão de que seus projetos artísticos e literários poderiam alcançar, e promoveram uma nova forma de perceber a realidade social, a partir de uma ótica feminina. Se por um lado essas duas artistas não sofreram discriminações ou quaisquer formas de opressão explícitas, por outro, não se pode dizer que suas obras tiveram fácil receptividade, e que não causaram algum tipo de conturbação.
Tarsila do Amaral revolucionou as artes plásticas ao produzir telas com cores que expressavam um verdadeiro conceito de brasilidade, e proporcionou uma nova concepção de mundo ao retratar a realidade e o contexto social de sua época, de uma forma peculiar e renovada, diferente do que se produzia até então. Além disso, as formas utilizadas em suas pinturas fugiam de todas as regras e formalismos das artes plásticas, demonstrando o quanto sua arte prezava pela liberdade artística.
Rachel de Queiroz, não menos ousada, revolucionou a literatura brasileira ao criar narrativas que traziam personagens femininas inconformadas com suas condições de vida, esperançosas por viverem de acordo com suas idéias, seus princípios, suas ideologias, e que se manifestaram (seja demonstrando suas opiniões ou partindo em busca de outras formas de existência, abandonando suas casas, rumo a um futuro incerto, porém cheio de esperança) e mostraram o quanto suas vidas dependiam da liberdade e da possibilidade de lutar pelos seus sonhos e projetos  de auto-realização.

Figura 5: As Três Marias, Rachel de Queiroz, José Olimpio Editora, 1ª Edição, 2002

O fato de essas duas grandes artistas terem produzido obras impactantes e valiosas, do ponto de vista cultural e artístico, não significa que a condição feminina tenha sido o fator preponderante para a elaboração e criação de tais obras. Ao contrário, o fato de elas terem sido mulheres foi apenas um detalhe, já que o gênero não é o fator determinante para a qualidade e originalidade de uma obra artística. A questão que deve ser (e merece ser) colocada em destaque é que, justamente por terem vivido num contexto predominantemente masculino, no qual as manifestações artísticas e literárias eram concebidas sob o ponto de vista e de concepção do homem, elas conseguiram romper barreiras (muitas vezes simbólicas, de uma dominação não declarada, mas existente), demonstrando o enfoque cultural que uma obra pode ter quando o ponto de vista é alterado, ou seja, quando o olhar sobre a realidade que antes era concebido por eles, passa a ser o delas.
Foto de Eduardo Simões

Assim, Tarsila do Amaral e Rachel de Queiroz se mostraram provas vivas e fiéis da capacidade intelectual feminina, não somente por terem sido ousadas e originais, mas também por terem se proposto a integrar um universo em que à elas, só cabia a condição de musa, fonte de inspiração.
Dessa forma, é possível pensar que o tempo de exclusão da história das letras e da arte a que as mulheres estiveram submetidas, não afetou, de maneira alguma, a potencialidade de suas obras. Tarsila na arte e Rachel na literatura, contribuíam com uma mudança na velha concepção de relação entre os gêneros e  trouxeram para a cultura brasileira, elementos próprios de um universo feminino, de mulheres que tentam se redescobrir e se adequar em sintonia com o mundo, e representar artisticamente, sua consciência crítica e suas formas de pensar.

Referência Bibliográfica
AMARAL, Tarsila. Catálogo Raisonné.2011, Disponível em: http://www.base7.com.br/tarsila. Acesso em: 03/06/11.
QUEIROZ, Rachel de. Releituras, resumo biográfico e bibliográfico. Disponível em:  <http://www.releituras.com/racheldequeiroz_bio.asp>. Acesso em: 03/06/11.








Thaís Fernanda da Silva é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa. Estuda feminismo e questões de gênero na Literatura.
E-mail: thaisfsilva@ymail.com

A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

2 comentários:

Rodrigo Machado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo Machado disse...

Thaís,
sabemos o quão importante essas duas mulheres foram em relação à Arte brasileira. Concordo com você e acho que após a abertura às mulheres, na escrita, na pintura, na política, enfim, em todos os campos do conhecimento, o ser humano pode perceber o quanto perspicazes, inteligentes, entre outras qualidades e características elas possuem.
No caso Específico, tanto Raquel de Queiroz, quanto Tarsila do Amaral foram importantes na abertura ao feminino referente aos campos nos quais ambas trabalhavam. Elas retrataram um mundo novo que cabia a ambas nos revelarem, além de deixarem seus nomes para sempre marcados como duas grandes Artistas que o Brasil já teve. Raquel e Tarsila são também fontes de estudos e inspiração para que muitas outras mulheres, assim como você, lutem e destaquem-se naquilo que propõem fazer.

Parabéns.

31 de julho de 2011 às 22:19

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