Dois Sonetos e um Eu

Dois Sonetos e um Eu

                  O que diria sobre "Dois sonetos e um Eu"? Primeiramente, se trata de um eu, mas que se desdobra  em seu lirismo. É um eu-lírico, não um eu qualquer. Se assim fosse, esse eu seria quem aqui vos fala, leitor. Mas não se trata apenas de mim. Pois, como alguma pessoa já disse, o poeta é fingidor... ah! Esse Pessoa... Achou que enganava os outros, enquanto se enganava e enganava a mim. Mas enganou mais a si que outros... ou mais aos outros que a si... se não enganou, enfim, confundiu.

               Liberdade novamente tomada por mim, posto dois sonetos... Não, eles não são clássicos, quem sabe um dia! Posto duas bebidas, essas sim clássicas. Do café ao vinho... Do negro ao vermelho, ou branco... Leitor, embriague-se o quanto quiser.

Dose de Café

Café é indigesto... amargo...

não desce fácil... esse texto não desce.

Odeio textos mal vestidos de poesia

Nomes mal vestidos de literatura

Café é amargo... indigesto...

não passo bem depois... não me cai bem.

Odeio frases que se dizem versos

Odeio pessoas que se dizem humanas.

Preciso beber logo esse café.

Passarei a tomar chá, por hora.

Até que me apareçam outros cafés.

Odeio cafés que se dizem cafés.

Quando na verdade são apenas pós,

sem açúcar, sem graça e sem caráter.

Vinho

Daqui de baixo há uma torre

essa, talvez, nem seja tal

de fato é algo em meu porre

ainda que saiba, nada é banal

Avisto, sem dúvidas, a chaminé

quem não vê, não quer, eu sei

o vinho está ao fim, no pé,

uma taça a mais e não cansei

Aquele calabouço, alguém percebe?

Bem em cima da taça...

do chão onde estou vejo, consegue?

Nada, por favor, faça

mas aquilo esvai com o vinho

quinta garrafa, sozinho.

                  E como curiosidade deixo a vocês que a origem do nome café (em uma das teorias), deriva-se palavra árabe qahwa. Essa palavra significa também "vinho". E Dionísio, deus do vinho na mitologia grega, é o único filho de uma mortal que se tornou um deus.

                  Bem... embriague-se, leitor, mas fique atento para não criar ilusões que destoarão da essência dessas bebidas.

Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.

Contato: renatodering@gmail.com