segunda-feira, 14 de abril de 2014

LINGUAGENS – REVISITANDO FORMAS DE COMUNICAR


Na obra, Teoria Cultural de A a Z, conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo, de autoria de Andrew Edgar e Peter Sedgwick, traduzido por Marcelo Rollemberg e editado pela Contexto, vários verbetes para entender o contemporâneo são apresentados. Sua leitura caminha entre a antropologia, a filosofia, a sociologia e por vezes resgata mitos.

Um deles, o mito judaico da Torre de Babel, menciona que humanos tentam chegar aos céus construindo uma torre, mas são impedidos por Deus. Além de destruir a torre, Deus, dificultou a comunicação ao impor a multiplicidade de línguas, evitando novas tentativas. Gillian Rose utiliza tal ilustração, para abordar linguagem, arquitetura e tratar de cultura estudando comunidade, conflitos entre culturas diversas, poder, legislação, moral e conhecimento. Segundo os autores, mencionando ROSE:

¨(...) o indivíduo pode morrer, as construções de sua geração viverão eternamente e se tornarão parte do futuro. (...) Por conseguinte, pelo menos nossa compreensão de tempo é transformada, e nossa compreensão de história criada. (...) A unidade e a universalidade das antigas tribos judaicas isoladas e nômades são confrontadas e questionadas ao encontrarem uma pluralidade de outras culturas e suas afirmações sobre a universalidade. Paradoxalmente, no mesmo momento em que nos tornamos conscientes de nós mesmos como seres culturais, estamos habilitados. (...) mas não podemos mais sequer ter certeza sobre o que é a coisa certa a se fazer e, ao fazer qualquer coisa, entramos em conflito com os outros. (...) preocupados com a artificialidade e a luta política para encontrar e defender o significado. (p.75/76).

Para os autores, cultura ¨(...) inclui o reconhecimento de que todos os seres humanos vivem num mundo criado por eles mesmos, e onde encontram significado¨.

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A arquitetura, até algum tempo atrás, sagrado espaço fechado (palácios, templos, museus, galerias) restrito a determinados públicos, abriu as portas para a multiplicidade de visitantes. Também, se fechando a algumas manifestações criativas gerou a possibilidade extra paredes, para que a diversidade cultural proposta na contemporaneidade chegasse à rua, aos espaços alternativos das cidades (muros, postes, portões, etc).

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Tratando de cidade, é recomendável entender o urbanismo ou a urbanização. É um fenômeno recente, no qual a proporção da população que vive no espaço da cidade é causada pela migração daqueles que viviam no campo, ¨(...) ou pelo fato da taxa de natalidade da população urbana ser maior do que a taxa de mortalidade¨. (p.353).

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Nas cidades há perda de relações pessoais em função das características ambientais (tamanho, densidade e heterogeneidade da população), onde Benjamin e a imagem do flâneur anonimamente passeiam, contemplando impressões efêmeras, numa Paris do século XIX.
Com H.J.Gans (p.354), que ¨(...) reconhece a impessoalidade, o anonimato e a superficialidade das relações (...)¨. É possível perceber um universo mais difícil, de relações e de comunicação.


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Na cidade se apresentam criações sobre diferentes suportes, atendendo múltiplas áreas; entre as quais, artes visuais, audiovisual, teatro, música, literatura, manifestações populares, circo, dança, moda, design, gastronomia, patrimônio material e imaterial, entre outras. Muitas vezes a criatividade se apropria dos mais variados temas e recursos para elaborar seu produto. Nele, no produto, estão presentes a habilidade de construir e a habilidade de usar a linguagem para comunicar simbolicamente. 

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Para a ROSE,
¨(...) Babel representa não apenas um projeto arquitetônico, mas de construção de uma cidade. Cidades são um divisor de águas cultural, pois na cidade diversas culturas unem-se. Numa cidade, as pessoas ficam atentas, talvez pela primeira vez, ao fato de que têm cultura, pois sempre há alguém que discorde do que você sempre aceitou como certo. A nossa autopercepção como seres culturais baseia-se nesse confronto, e, desse modo, no exercício de poder (à medida que lutamos para sustentar nossos valores contra um ataque de outros). O ponto de Babel, e talvez de toda a cultura humana, é que no âmbito arquitetônico da cidade-torre os humanos ganharam uma espécie de imortalidade. (...) o indivíduo pode morrer, as construções de sua geração viverão (...).¨

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A arte urbana se espalha pelos centros urbanos. Algumas criações estão assinadas e seus autores são reconhecidos, outras são anônimas. Algumas são registradas fotograficamente, organizando um banco de imagens valoroso que quando visitado podem revelar questões contemporâneas, comunicar anseios, demandas de comunidades, ou simplesmente contar que outro suporte para a criatividade artística é possível.

Uma nova babel, onde nem tudo é beleza, nem tudo é legível, nem tudo tem forma; onde hibridismo se faz presente, e muitas linguagens necessitam e querem comunicar. Uma máscara, um stêncil, um grafismo, um grafitti, com ou sem cor uma comunicação do centro, da esquerda, da direita, de cima, de baixo, do periférico ou do subúrbio, que dizem.


Legendas:
Figs. 1, 2, 3 - Marciel Conrad e cia. (arquivo pessoal)
Figs. 4, 5, 6 - Os Gêmeos (arquivo pessoal)

Referências:
EDGAR, Andrew; SEDGWIC, Peter- Teoria Cultural de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo. Tradução Marcelo Rollemberg – São Paulo: Contexto, 2003.




Solange Chemin Rosenmann é artista plástica, especialista em artes e museologia. Foi responsável pelo implante e manutenção do setor de ação educativa do MON (Museu Oscar Niemeyer).
É também designer de produtos na área da moda, e foi responsável pela ação educativa daBienal Brasileira de Design, Curitiba, elaborando material didático, treinando monitores e preparando educadores e professores para aquela bienal.

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