LINGUAGENS – REVISITANDO FORMAS DE COMUNICAR
Na obra, Teoria Cultural de A a Z,
conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo, de autoria de Andrew Edgar
e Peter Sedgwick, traduzido por Marcelo Rollemberg e editado pela Contexto,
vários verbetes para entender o contemporâneo são apresentados. Sua leitura
caminha entre a antropologia, a filosofia, a sociologia e por vezes resgata
mitos.
Um deles, o mito judaico da Torre de Babel,
menciona que humanos tentam chegar aos céus construindo uma torre, mas são impedidos
por Deus. Além de destruir a torre, Deus, dificultou a comunicação ao impor a
multiplicidade de línguas, evitando novas tentativas. Gillian Rose utiliza tal
ilustração, para abordar linguagem, arquitetura e tratar de cultura estudando
comunidade, conflitos entre culturas diversas, poder, legislação, moral e
conhecimento. Segundo os autores, mencionando
ROSE:
¨(...)
o indivíduo pode morrer, as construções de sua geração viverão eternamente e se
tornarão parte do futuro. (...) Por conseguinte, pelo menos nossa compreensão
de tempo é transformada, e nossa compreensão de história criada. (...) A
unidade e a universalidade das antigas tribos judaicas isoladas e nômades são
confrontadas e questionadas ao encontrarem uma pluralidade de outras culturas e
suas afirmações sobre a universalidade. Paradoxalmente, no mesmo momento em que
nos tornamos conscientes de nós mesmos como seres culturais, estamos
habilitados. (...) mas não podemos mais sequer ter certeza sobre o que é a
coisa certa a se fazer e, ao fazer qualquer coisa, entramos em conflito com os
outros. (...) preocupados com a artificialidade e a luta
política para encontrar e defender o significado. (p.75/76).
Para os autores, cultura ¨(...) inclui o reconhecimento de que todos os seres humanos vivem num
mundo criado por eles mesmos, e onde encontram significado¨.
A arquitetura, até algum tempo atrás, sagrado
espaço fechado (palácios, templos, museus, galerias) restrito a determinados
públicos, abriu as portas para a multiplicidade de visitantes. Também, se
fechando a algumas manifestações criativas gerou a possibilidade extra paredes,
para que a diversidade cultural proposta na contemporaneidade chegasse à rua, aos
espaços alternativos das cidades (muros, postes, portões, etc).
Tratando de cidade, é recomendável entender o
urbanismo ou a urbanização. É um fenômeno recente, no qual a proporção da
população que vive no espaço da cidade é causada pela migração daqueles que
viviam no campo, ¨(...) ou pelo fato da
taxa de natalidade da população urbana ser maior do que a taxa de mortalidade¨.
(p.353).
Nas cidades há perda de relações pessoais em
função das características ambientais (tamanho, densidade e heterogeneidade da
população), onde Benjamin e a imagem do flâneur
anonimamente passeiam, contemplando impressões efêmeras, numa Paris do século
XIX.
Com H.J.Gans (p.354), que ¨(...) reconhece a
impessoalidade, o anonimato e a superficialidade das relações (...)¨. É
possível perceber um universo mais difícil, de relações e de comunicação.
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Na cidade se apresentam criações sobre diferentes
suportes, atendendo múltiplas áreas; entre as quais, artes visuais,
audiovisual, teatro, música, literatura, manifestações populares, circo, dança,
moda, design, gastronomia, patrimônio material e imaterial, entre outras.
Muitas vezes a criatividade se apropria dos mais variados temas e recursos para
elaborar seu produto. Nele, no produto, estão presentes a habilidade de
construir e a habilidade de usar a linguagem para comunicar simbolicamente.
Para a ROSE,
¨(...)
Babel representa não apenas um projeto arquitetônico, mas de construção de uma
cidade. Cidades são um divisor de águas cultural, pois na cidade diversas
culturas unem-se. Numa cidade, as pessoas ficam atentas, talvez pela primeira
vez, ao fato de que têm cultura, pois sempre há alguém que discorde do que você
sempre aceitou como certo. A nossa autopercepção como seres culturais baseia-se
nesse confronto, e, desse modo, no exercício de poder (à medida que lutamos
para sustentar nossos valores contra um ataque de outros). O ponto de Babel, e
talvez de toda a cultura humana, é que no âmbito arquitetônico da cidade-torre
os humanos ganharam uma espécie de imortalidade. (...) o indivíduo pode morrer,
as construções de sua geração viverão (...).¨
A arte urbana se espalha pelos centros urbanos.
Algumas criações estão assinadas e seus autores são reconhecidos, outras são anônimas.
Algumas são registradas fotograficamente, organizando um banco de imagens
valoroso que quando visitado podem revelar questões contemporâneas, comunicar
anseios, demandas de comunidades, ou simplesmente contar que outro suporte para
a criatividade artística é possível.
Uma nova babel, onde nem tudo é beleza, nem tudo
é legível, nem tudo tem forma; onde hibridismo se faz presente, e muitas
linguagens necessitam e querem comunicar. Uma máscara, um stêncil, um grafismo,
um grafitti, com ou sem cor uma comunicação do centro, da esquerda, da direita,
de cima, de baixo, do periférico ou do subúrbio, que dizem.
Legendas:
Figs. 1, 2, 3 - Marciel Conrad e cia. (arquivo pessoal)
Figs. 4, 5, 6 - Os Gêmeos (arquivo pessoal)
Referências:
EDGAR,
Andrew; SEDGWIC, Peter- Teoria Cultural
de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo. Tradução
Marcelo Rollemberg – São Paulo: Contexto, 2003.
Solange Chemin Rosenmann é
artista plástica, especialista em artes e museologia. Foi responsável pelo
implante e manutenção do setor de ação educativa do MON (Museu Oscar Niemeyer).
É também designer
de produtos na área da moda, e foi responsável pela ação educativa daBienal
Brasileira de Design, Curitiba, elaborando material didático, treinando monitores e
preparando educadores e professores para aquela bienal.
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