segunda-feira, 28 de julho de 2014

A FÚRIA NEGRA RESSUSCITA OUTRA VEZ



O retorno às ruas contra o racismo, denunciando o genocídio negro pro mundo.

"Nas margens da cidade vejo um camburão.
Protegendo a propriedade à mando do patrão
Tratando preto ainda como escravo fujão
Advinha quem provoca nossa divisão?"
Katiara [1]

       Recentemente circulou um post com uma foto de uma coluna de jonal impresso [2] nas redes sociais no qual uma menina negra de 10 anos, chamada Kauane, solicitava ajuda financeira para poder realizar seu sonho, que seria o alisamento de seu cabelo, pois seus pais não tinham condições de pagar este procedimento estético. A notícia fez-me refletir sobre as diferentes maneiras, diretas ou indiretas, de se destruir um povo e, por isso, a relacionei com um trecho de uma das canções do grupo de rap Racionais MC's: “É a nossa destruição que eles querem; física, mentalmente, o mais que puderem”. Postei um comentário no post, efetuando esta associação entre este rap e práticas genocidas, ressaltando as semelhanças, diferenças e a relação dialética entre a destruição física e mental de um povo e destacando ainda a hibridização do racismo em nossas relações sociais cotidianas. 
         O motivo da garota desejar tanto este procedimento estético torna-se mais inquietante ao constatarmos que, em sua fala: “...sou negra e sofro bullying dos meus colegas” que a palavra “bullying” oculta e mascara a causa real do seu sofrimento, que é o racismo. A ocultação e descaracterização de situações racistas por meio da utilização de certos termos, como bullying ou injúria racial, configura-se como uma estratégia da ideologia burguesa de ressiginificação de atos discriminatórios que ocorrem diariamente em diferentes espaços, dentre eles em instituições estatais, como as educacionais. Um agravante é a resposta à essas discriminações que nos leva a questionar o porque não é assumido como racismo.
         A solução apontada no texto do jornal é a adoção de um tratamento estético que irá mascarar os traços africanos da menina. Tal “solução” reafirma, reforça e naturaliza o ideário racista que postula a superioridade e os valores de uma determinada raça, no caso a branca, sob as demais. A solução apontada no texto do jornal, é a adoção de um procedimento estético que irá mascarar os traços africanos da menina, naturalizando dessa forma seu sofrimento. Essa supervalorização da estética branca, reinvindicada por uma criança negra, e sua família, com apoio da mídia e muitos de seus leitores, evidencia o poder da ideologia racista e, também, caracteriza-se como uma das manifestações do processo de genocídio perpetrado contra o povo negro.
         Embora o genocídio de um povo seja comumente identificado como um processo de extinção física de uma determinada raça ou etnia, (como ocorreu com alguns povos nativos e como vêm ocorrendo com o povo palestinoi) ele também manifesta-se em todas as esferas de nossas vidas. No caso de Kauane identificamos uma manifestação indireta do genocídio de sua negritude com a adoção da cultura do embranquecimento para escapar das humilhações e sofrimento. Mesmo Kauane afirmando-se enquanto negra, e, neste caso, negativamente, ela terá poucas chances de conhecer, por meio da escola; a história africana, a cultura negra e as contribuições do seu povo, a fim de apreender a história da humanidade. Sem estes subsídios Kauane dificilmente terá orgulho de sua ancestralidade e se reconhecerá como parte da continuidade que evidencia a forte identidade de resistência[3] do povo negro brasileiro.

                   O NEGRO BRASILEIRO JÁ NASCEU LUTANDO!
        
         Afirmamos isto pois, em sua gênese histórico-social, ele já nasce sob amarras e grilhões. No processo de colonização da qual formou-se a Diáspora (no qual os povos africanos foram sequestrados, arrancados de suas terras e enviados pra outros continentes para serem escravizados), houve uma anulação das especificidades culturais[4] dos diferentes povos que foram trazidos para cá, com o intuito de forjar-se um tipo humano específico: subserviente, ignorante, brutalizado e bestializado. Segundo a perspectiva colonialista o africano era um selvagem, um não-humano como diz Frantz Fanon[5], e tal “constatação” foi inclusive utilizada para justificar, moralmente, a escravização destes povos.
         A autoafirmação do negro brasileiro de sua própria humanidade, durante o período oficial de escravidão, produziu uma série de lutas e revoltas que, gradativamente, auxiliaram no desgaste gradativo do sistema escravista. A maior experiência da luta negra brasileira, o Quilombo de Palmares, ocorreu neste período e configurou-se como uma das maiores ameaças à estrutura do sistema colonial.     Ressaltamos ainda que o Brasil, além de ter sido o último país do mundo a abolir a escravidão, foi o que manteve o rapto e tráfico de africanos ativo por muito mais tempo. Em outras palavras, foi o povo africano e seus descendentes que produziram toda a riqueza da qual a elite branca usufrui até os dias atuais. Ao final desse período, os negros “ganharam”, juntamente com a sua “liberdade”, a marginalidade, que, além de anular seu acesso ao trabalho, à saúde, moradia e educação, o transforma, na nova ordem social, capitalista, em um eterno suspeito, criminalizando-o unicamente pelo fato de ser negro.
         Este dado é um fundamento histórico que nos ajuda a entender a enorme quantidade de assassinatos de negros nas vielas do país, a cultura do encarceramento e a precariedade da assistência médica à população negra, que faz com o risco de vida para uma mulher negra durante um parto seja 07 vezes maior do que em elação a uma mulher branca. A obtenção de tais informações, que evidenciam o forte racismo institucional brasileiro, só foi possível graças à adição do quesito “cor” em formulários públicos de atendimento, apesar de ainda haver muita subnotificação em algumas instituições públicas e em muitas outras ele ainda nem é aplicado.

                   O BRASIL NÃO É MESMO PRA PRINCIPIANTES!
        
         Se comparados somente a taxa de homicídios negros[6] em separada, percebemos seu aumento, sendo que em 2010 a morte de negros representava 71,1% de todos os homicídios e em 2011 esse número aumentou em 71,4%. Verificamos, pois, que no conjunto da população o número de vítimas brancas caiu de 18.867 em 2002 para 13.895 em 2011. Por outro lado, o número de vítimas negras cresceu de 26.952 para 35.297 no mesmo período, isto é,um aumento de 30,6%. Com esse diferencial a vitimização negra passa de 42,9% em 2002 para 153,4% em 2011, num crescimento contínuo, ano a ano, dessa vitimização. Na população jovem de 15 a 24 anos, a evolução do número de homicídios do grupo negro se repete de maneira ainda mais intensa. De 2002 para 2011 houve uma queda de jovens brancos mortos de 39,8%. Em contraposição, o número de vítimas negras entre jovens cresceu de 11.321 para 13.405 no mesmo período – isto é, um aumento de 24,1%. Com esse diferencial, a vitimização de jovens negros passa de 71,6% em 2002 para 237,4% em 2011, maior ainda que a pesada vitimização na população total que nesse ano foi de 153,4%.
         Diante desse mar de sangue em números que são os dados estatísticos, comprovam a cruel associação entre homicídios e a cor das vítimas, concentrando a violência contra a população negra no seu segmento jovem, revelando assim uma mortalidade sistêmica e seletiva. Não dá pra dormir de boa diante desses números. Basta de extermínio da nossa juventude!
         Devido à complexidade do racismo e suas particularidades no contexto brasileiro, a luta negra organizada, não se originou e nem se limita ao campo da política institucional, como apontado anteriormente. Bem como não se limita em afirmar o black power, trança ou dread, mesmo sabendo da importância política dessa afirmação, precisamos avançar, pois não se combate ideologia com simbologia. Mas ela é extremamente importante e junto a ela, exige esforços como formação, disposição e malemolência para influenciar essa juventude brasileira (que não ouve Racionais, como a minha geração ouvia) a sair da inércia ou das cooptações que levam guerreiros e guerreiras a se tornarem tarefeiros de ongs ou de gabinetes políticos. Precisamos de nossa própria estrutura, de nossa própria mídia, autônoma e crítica frente às mazelas sociais do país da Copa-trator, reivindicando reparações históricas!
         Também não nos iludimos que superamos o racismo com o voto. Concordamos com os princípios da campanha “Reaja ou será Morto! Reaja ou Será Morta!”ii, e que as mortes de nosso povo devam ser politizadas e problematizadas nas comunidades, acolhendo e chamando para luta e impendindo que o genocídio seja negociável em gabinetes, em que oportunistas pedem voto em troca de financiamento do caixão!
         Temos que olhar para o passado para construir o futuro e dar continuidade às rebeliões da “senzala”. Temos muito o que aprender com Zumbi e com a Revolta Haitiana e ainda dizer aos nossos irmãos refugiados “O Haiti é Aqui!” e que além de bem vindos eles possam contar com nossa solidariedade e que venham lutar conosco, pra reafirmarmos assim o caráter internacionalista dessa luta.
         O movimento negro brasileiro precisa urgentemente se formar para formar, preencher as lacunas da história para o povo brasileiro sobre o genocídio, voltar às bases, acolher as famílias vítimas de violência de Estado e não cair nas armadilhas de cooptação dos defensores do parlamento, evitando as experiências do CONNEB e do ENJUNE[7], em que foram frustradas tentativas de unidade, autonomia e reestruturação da luta contra o racismo frente às cooptações e, porque se limitou à defesa dos programas partidários e agendas de governo, deixando de priorizar a articulação com os movimentos sociais para a mobilização da classe trabalhadora contra o racismo e encaminhar as estratégias de luta afim de massificar a luta negra e avançar contra o genocídio. Concluímos com isso, com base na teoria e na vivência (pois são indissociáveis), que, se a perspectiva não for radical não serve!

BORA PRAS RAÍZES!
         A atual conjuntura nos aponta a necessidade de resgatar essa identidade de resistência que a consciência negra[8] possibilita. Essa conjuntura nos mostra que a mesma polícia que reprime na avenida, mata na favela, longe dos holofotes da globo, diga-se de passagem. E diante disso, é preciso praticar a solidariedade radical movida pela consciência negra que não se resume ao 20 de novembro; ela deve ser uma ação diária, denunciando o racismo por todos os meios necessários.
         O movimento negro brasileiro possui o papel histórico de desconstruir o mito da democracia racial, apontando que o Estado brasileiro historicamente reservou (e ainda reserva) condições de vida sub-humanas aos trabalhadores negros, porque além das estatísticas de informalidade, desemprego, desigualdade de salários, é só reparar as pessoas que veste os uniformes das empresas terceirizadas cujas vagas preenchidas são por maioria de mulheres, bem como as provedoras das famílias, as sofredoras que estão sempre servindo, com pouco descanso sendo a dona de casa sem poder ser dona de si mesma, já que a tripla ou quádrupla jornada não permite tal possibilidade. A organização social do povo negro deve buscar a compreensão das raízes do racismo, atrelado à luta de classes, ir pras raízes pra qualificar nossas práticas. Nem Alckimin (com sua política de “segurança”), nem Obama, (we can, genocídio?) Dilma (com seu “Juventude “Viva”), atenderão nossas necessidades. Eles e seus interesses não nos representam; e digo isso, enquanto mulher negra trabalhadora. Porque essas determinações não estão disassociadas. Refleti um comentário numa roda de debate que: linchamento (um tipo de extermínio originado na escravidão), estupro (que supera homicídio nas estatíticas e geralmente ocorre contra mulher) e fascismo (nítido em tempos de ditadura), são faces da mesma moeda. Sim, uma moeda tem mesmo 3 lados. A moeda chama-se capitalismo.
         A pobreza tem cor e tem sexo! Nós, povo negro pobre, representa sim, todas as dores das apertadas correntes, da escravidão até à chamada democracia. Para Karl Marx ser radical é se agarrar às raízes. A raiz de toda riqueza, do capitalismo de via colonial, que é o caso brasileiro, é a escravidão![9] Eis o caráter econômico do racismo social, que é notável quando refletimos sobre a higienização das cidades; qual a cor da maioria das pessoas em situação de rua e ou usuários de crack, que “sujam” os cartões postais das capitais do “país sem pobreza”? Qual relação com a especulação imobiliária? E a favela, porque ela é eminentemente negra? De onde surgiu os morros? Existe capitalismo sem cidades?[10] Existe capitalismo sem racismo? Porque o tribunal americano inocenta um branco que assassina um negro enquanto um delegado ordena formalmente que o “seu” batalhão enquadre “pretos” e “pardos” em Campinas? Porque o movimento negro tem se limitado à defesa do reformismo, ao invés de uma profunda transformação social? Pela audácia, resistência, coragem, unidade e rebeldia dos trabalhadores garis cariocas, passando por cima de burocratas e pelegos e enfrentando a polícia que mais mata no mundo, esses sim nos representam!   Bem como o movimento “Mães de Maio”, que já condenou um policial por três execuções de jovens inocentes. As mães de maio espalhada pelo Brasil afora (principalmente àquelas que sofrem por terem filh@s na fundação casa, companheiros e filh@s encarcerados ou mortos pelos agentes do Estado com ou sem farda) precisam saber que essa luta é delas e a luta pelo fim das mortes nas periferias é também da juventude periférica, dos vida loka. “Que já estão mortos antes de serem assassinados” nas palavras de Hamilton Walê, uma vez que racismo já os matou antes; matou suas perspectivas, seus sonhos e referências ancestrais. Torço pra que o movimento negro não esteja totalmente perdido nessa condição. Chega de tantas mortes! Chega de lágrimas de tantas batalhadoras! Chega de reformismo!

GENOCÍDIO DE NEGROS OU EXTERMÍNIO DE POBRES? OU OS DOIS?
“ Negro e branco pobre se parecem mas não são iguais ....” Racionais Mcs*

         Ao longo de sua história, o genocidio foi uma das âncoras apoiadoras do Estado brasileiro. Nos primeiros anos da colonização diversas populações indígenas foram inteiramente dizimidas, ou seja: exterminadas. Prosseguindo pela história, com a vinda dos africanos e a institucionalizaçao da escravidão, o racismo configura - se então como objetivação da violência de um povo sobre outro. Uns dos desdobramentos dessa história ao longo dos séculos, foi a formulação de uma série de teorias raciais apoiadas e difundidas pelo Estado como fonte de conhecimento e de justificativa de uma politica genocida que visa o exterminio de um povo, por diferentes meios. A eugenia, por exemplo, trouxe a miscigenação racial como anseio, que tinha na sua base, pensadores que afirmavam o desaparecimento do povo negro em 100 anos no mínimo, à partir da mistura de raças. Por isso apontamos que é preciso compreender que a miscigenação racial também foi uma política de Estado, e esse apelo de “Casa Grande e Senzala” exprimia anseios desse pensamento eugenista[11]. Um outro fato histórico acerca do genocídio, que inclusive impulsionou o movimento de mulheres negras a se organizarem em nível nacional, foi o controle de natalidadeiii: à partir do levantamento demográficoiv, que forneceu dados ao movimento de mulheres negras. Esses dados comprovaram que as esterelizações eram realizadas em mulheres negras e nordestinas no final da década de 70, bem como identificamos o encarceramento em massa[12], a violência policial[13] (que inclusive tem Brasil é uma grande piada, porque houve pouquíssimos avanços. Nem o quesito cor é preenchido corretamente em todas as fichas de atendimento das instituições públicas!
Em pleno ano de 2014, (13 anos após Durban[14], quando Brasil se compromete a implementar políticas afirmativas), é ainda necessário cobrar a efetivação da equidade de acesso às políticas universais como Moradia, Saúde e Educação; a implementação das leis do Plano de Saúde Integral de Saúde da População Negra e a Lei de Ensino de História da África[15] nas escolas, por não serem as preocupações de nenhum dos governos (estaduais e federal), precisamos pressioná-los e constrangê-los publicamente. Para isso temos que subir os morros pra mobilizar para às ruas e envergonhar as autoridades públicas. Essa luta é a luta pela vida, pela efetivação da democracia e essas são algumas das ferramentas de combate ao racismo institucionalizado. Nesse sentido, a luta por políticas públicas é importante e necessária, mas o parlamento, a democracia não deve ser o objetivo final pois essa é uma luta que somente auxilia na garantia da nossa sobrevivência enquanto povo na sociedade atual. Esse embate não é a nossa luta final para garantir nossa dignidade. Não há dignidade numa sociedade em que o crime contra o patrimônio é mais importante que o crime praticado contra a vida humana. Sendo assim, precisamos radicalizar nossas lutas para avançar, ir para além da luta institucional, ir para além das barreiras da democracia (que é burguesa), para dar um basta ao genocídio. É preciso e urgente tornar-se uma verdadeira ameaça a esse sistema que nos mata de todas as formas! Vamos denunciar pro mundo que esse Estado é Genocida!       Bora sair do reformismo e da masturbação teórica! Bora praticar a solidariedade negra, denunciando as mortes invisíveis dos Estados mais esquecidos pela mídia, governo e movimento social. Bora amplificar o berro: chega de morte! Em prol da construção de uma sociabilidade emancipada do racismo! Pois se o racismo é uma determinação social é algo passível de transformação social. Sejamos nós, o povo negro organizado o sujeito dessa mudança.
         Provocado um debate acerca da desmilitarização que chegou até ser recomendação da ONU e da Ouvidoria da PM) e as mais variadas formas de injustiças e discriminações. Poucos esforços tem sido feito pra combater as desigualdades de acessos nas políticas públicas. A política de Ações Afirmativas no Brasil é uma grande piada, porque houve pouquíssimos avanços. Nem o quesito cor é preenchido corretamente em todas as fichas de atendimento das instituições públicas!
         Em pleno ano de 2014, (13 anos após Durban, quando Brasil se compromete a implementar políticas afirmativas), é ainda necessário cobrar a efetivação da equidade de acesso às políticas universais como Moradia, Saúde e Educação; a implementação das leis do Plano de Saúde Integral de Saúde da População Negra ve a Lei de Ensino de História da África nas escolas, por não serem as preocupações de nenhum dos governos (estaduais e federal), precisamos pressioná-los e constrangê-los publicamente. Para isso temos que subir os morros pra mobilizar para às ruas e envergonhar as autoridades públicas. Essa luta é a luta pela vida, pela efetivação da democracia e essas são algumas das ferramentas de combate ao racismo institucionalizado. Nesse sentido, a luta por políticas públicas é importante e necessária, mas o parlamento, a democracia não deve ser o objetivo final pois essa é uma luta que somente auxilia na garantia da nossa sobrevivência enquanto povo na sociedade atual. Esse embate não é a nossa luta final para garantir nossa dignidade.           Não há dignidade numa sociedade em que o crime contra o patrimônio é mais importante que o crime praticado contra a vida humana. Sendo assim, precisamos radicalizar nossas lutas para avançar, ir para além da luta institucional, ir para além das barreiras da democracia (que é burguesa), para dar um basta ao genocídio. É preciso e urgente tornar-se uma verdadeira ameaça a esse sistema que nos mata de todas as formas! Vamos denunciar pro mundo que esse Estado é Genocida! Bora sair do reformismo e da masturbação teórica! Bora praticar a solidariedade negra, denunciando as mortes invisíveis dos Estados mais esquecidos pela mídia, governo e movimento social. Bora amplificar o berro: chega de morte! Em prol da construção de uma sociabilidade emancipada do racismo! Pois se o racismo é uma determinação social é algo passível de transformação social. Sejamos nós, o povo negro organizado o sujeito dessa mudança.
         O Brasil num é o mesmo pós-junho de 2013, bem como não poderá ser o mesmo pós “Cadê o Amarildo?” e “Somos Todos Cláudias” porque somos sujeitos de nossa história e nossa história não se encerra diante de um mar de sangue derramado em nome da propriedade privada. Não!
       Bora descer dos morros e tomar às ruas! Podemos construir uma luta humanizada, criativa coerente e radical de maneira autônoma aos programas de partidos e agendas de governos.
         É a resistência de Palmares nossa principal inspiração de construção histórica de destruição do sistema ant-humano e ant-negro, que é o sistema capitalista, muito bem representado pelo Governo Alckimin e ACMs da vida. Eles que gritam nos canais policiais por lichamentos e afirmam que “Bandido Bom é Bandido Morto!”, mas permanecem vivos? Receberia tal tratamento o ACM, Senador Demóstenes Torres, Sarney, Maluf, Dirceu, Alckimin ou qualquer outro político, beneficiário desse sistema, sendo corrupto que são, receberiam uma bala na cabeça? O filho de um deles seria impedido de fazer rolezinho no shopping? É essa ideologia que temos que combater, a ideia de que se for negro, seja qual for o BO, pode morrer com aval do Estado. A expectativa de vida do homem negro é muito inferior à do branco. Enquanto por outro lado, ser pobre é um crime, por outro, ser negro também. E matar na periferia num dá nada para os agentes do Estado[16], os casos quando não forjados, são arquivados ou simplesmente saem impunes. Precisamos dar um basta nisso!


         Sejamos nós, o povo negro organizado, forte, combativo e voltado às bases (no setor de trabalho, nas escolas, quebradas, terreiros, associações de bairros, espaços culturais, periferias, penitenciárias masculinas e femininasvi para dialogar com familiares de presos, bem como dos parentes dos adolescentes nas fundação casas, grupos de rap, etc), sem vanguardismos, para somar na composição desse front.         
 Porque temos a possibilidade histórica de massificar a denúncia internacional desse massacre cotidiano que é o racismo brasileiro. Temos que deixar escancarado que se trata sim de uma política de genocídio e seguir em busca de garantia da nossa existência enquanto povo e por fim nossa dignidade, exigindo reparações pelos danos históricos implementando as políticas de combate à discriminação racial, como por exemplo, a defesa das Cotas em todas universidades públicas do país e sem perder de vista a perspectiva da necessidade de superação desse Estado e da propriedade privada pra nossa existência humana.

Para ler e baixar o manifesto, clique aqui: Manifesto- A fúria Negra Ressucita Outra Vez – Katiara PANFLETO da Marcha de SP para reprodução e distribuição no final do texto.
         Somos muitos, nossos sofrimentos também portanto nossas bandeiras de luta também serão muitas e diversas, mas começa pela principal condição de existência enquanto povo: o fim do genocídio do povo negro. Por isso no dia 22 de Agosto iremos marchar em defesa da vida, tendo em vista que esse movimento não acaba na noite do dia 22 de agosto, ele deve continuar até o dia em que o “negro” alcance sua condição humana.

         Diante do exposto, defendemos como proposta para agenda política e em prol da reaticulação do movimento negro, em busca de unidade e autonomia:

    A criação de um observatório nacional de acompanhamento dos assassinatos praticados na periferia e contra moradores de periferia;
    Núcleos Estaduais de Orientações e Apoio (jurídico e psicológico) às famílias vítimas de racismo e violência estatal;
    Unidade para denunciar internacionalmente o Genocídio Negro causado pelo Estado Brasileiro;    A articulação e consolidação de frentes de luta; uma Frente Popular Nacional e outra Internacional, de Luta contra o Racismo;  
A atuação nas bases, desde filas de penintenciárias às vielas das periferias do país, com objetivo de massificar a luta negra e 
 Realização de Seminários Estaduais e Formações que garantam o debate acerca do histórico do
         
 Movimento Negro, da concepção de Estado e Democracia, da Origem do Racismo, da Luta de Classes no Brasil e do Panafricanismo.
  


BASTA de Criminalização das lutas sociais! BASTA de Criminalização da pobreza! BASTA de Racismo Institucional!

BASTA de chacinas, massacres, execuções e assassinatos nas periferias! BASTA de perseguição aos terreiros de candomblé e umbanda! BASTA de higienização das cidades! ABAIXO à especulação imobiliária! BASTA de Violência Policial! Pelo fim dos autos de resistência! Pelo fim da impunidade!

BASTA de Genocídio do Povo Negro Brasileiro!
Somos todos Amarildos, Cláudias e Kauanes!!!

Por um movimento negro autônomo e combativo: Por uma Consciencia Negra Panafricanista, Feminista e Classista!

REUNIÃO NACIONAL DE ARTICULAÇÃO DA MARCHA (DIAS 01 À 03 DE AGOSTO - BH)

SEMINÁRIO CONTRA O GENOCÍDIO – DIA 17/08 – SINPEEM - SP

Do morro pra avenida, bora gritar pelo fim do genocídio!

No dia 22 de Agosto na Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro 

Concentração: a partir das 17h no Vão do MASP

#CotasJá! #PelaEfetivaçãoDaLei10.639! #PelaFimDosAutosDeResistência!#ForaPM! #ForaACM!#ForaAlckimin!#ForaCabral#ForaFascistas!
A Kilombagemviii continua...


*Racistas Otários. Racionais Mc's (àlbum: Holocausto urbano)



“(...) Os poderosos são covardes desleais
Espancam negros nas ruas por motivos banais E nossos ancestrais Por igualdade lutaram Se rebelaram morreram
E hoje o que fazemos? Assistimos a tudo de braços cruzados Até parece que nem somos nós os prejudicados Enquanto você sossegado foge da questão
Eles circulam na rua com uma descrição Que é parecida com a sua Cabelo cor e feição Será que eles vêem em nós um marginal padrão? (...)”


 
Katiara Oliveira

Atua na área de Assistência Social na cidade de Mauá, Graduada em Serviço Social pela Faculdade Mauá- FAMA e é estudante de pós-graduação no curso de Ciências Sociais do Centro Universitário Fundação Santo André. É integrante do grupo Kilombagem desde 2007. Realiza ações de combate ao racismo e machismo além de prestar consultoria à partir da temática de Gênero e é mc, já foi integrante da Banda Amandla e foi fundadora do Coletivo de Mulheres Mcs (Coletivo Mahins). Atualmente canta suas rimas em dupla com Tata Quilombo e fez participação com Ba kimbuta, na faixa "Reflexo" do álbum UPP. Conhecida como Katiara ou Iara, é moradora da cidade de Mauá e é militante do movimento negro e hip hop desde 2006.


 
 

[1] Trecho da música “Reflexo”, do álbum UPP de Ba Kimbuta, em que faço participação.
[2] Jornal Impresso Diário Gaúcho, Porto Alegre, RS. Notícia de Agosto de 2011. Post visualizado em 18/07/14 no facebook.
[3] A categoria identidade de resistência é analisada pelo sociólogo Clóvis Moura na obra “Rebeliões da Senzala”. O autor historicizou as experiências de resistência à escravidão, explicando que se dava desde o suicídio, à criação de irmandades em busca de alforria, o infanticídio, o envenenamento do senhor de escravos, a quilombagem, a manutenção dos valores e saberes ancestrais à prática do candomblé. Onde destaco ainda a importância da atuação da mulher negra no pós-abolição, pois haviam leis que legitimavam prisões e assasinatos de homens negros considerados vagabundos, com a Lei da Vadiagem, estereotipando o perfil traçado de suspeito. Se não fosse seus árduos trabalhos servis de amas de leite, quitandeiras, lavadeiras, domésticas, etc nosso povo não teria sobrevivido, já que a eliminação do homem negro era parte de um plano de nação ideal; capitalista e branca. Aliás: capitalista, branca e cristã.
[4] Fanon explica que a cultura não é o centro da dominação, ela é parte da inferiorização do colonizado. A idéia central da colonização é a justificativa para dominar e explorar com hiper-exploração.
[5] Deivison Nkosi em seu artigo intitulado de “Colonialismo, Racismo e Luta de Classes: a atualidade de Frantz Fanon”, explica que: “O colonizado, negado em sua humanidade genérica, é reduzido ao estatuto de Negro, entendido como o Outro: o específico, sempre contraposto ao Europeu afirmado como expressão do ser humano universal. É possível pensar em música indígena, cabelo afro, cosmovisão africana, cultura negra, mas nunca em música branca, cultura branca. O branco, a cultura branca, ou ocidental, ganham status de universalidade e não precisam ser especificadas”. Disponível em: http://kilombagem.org/colonialismo-racismo- e-luta-de-classes-a-atualidade-de-frantz-fanon/
[6] Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil/ Julio Jacob Waiselfisz – Rio de Janeiro: CEBELLA, FLACSO; 2013. Disponível em: http://mapadavilencia.org.br/pdf2013/mapa2013_homicidios_juventude.pdf
[7] Encontro Nacional de Juventude Negra (ENJUNE) contou com mais de 700 participantes e foi realizado em Lauro de Freitas (BA) no ano de 2007, enquanto tentativa de articulação de um movimento de juventude negra autônoma e combativa. 8 Para compreensão da definição de Consciência Negra segundo Steve Biko, consultar a obra “Escrevo o que eu quero”.
[8] Para compreensão da definição de Consciência Negra segundo Steve Biko, consultar a obra “Escrevo o que eu quero”.
[9] Aliás, do capitalismo em qualquer parte do mundo. Ver “Escavidão e Capitalismo” do autor Eric Willians.
[10] Conferir em “Fabricalização da Cidade e Ideologia da Circulação - Terezinha Ferrari
[11] Sobre as Teses Eugências, conferir em: GOES, Weber. “ A origem do Racismo Moderno”. Fundação Santo André, 2010.
[12] Brasil tem a 4a maior populaçao carcerária do mundo e déficit de 200 mil vagas”. Disponível em : http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120529_presos_onu_lk.shtml
[13] Notícias sobre a desmilitarização: “Conselho da ONU recomenda fim da policia militar no Brasil”. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/05/paises-da-onu-recomendam-fim-da-policia-militar-no-brasil.html.“Ouvidor da PM sugere desmilitarização”. Ouvidor admitiu que a truculência, a falta de habilidade no trato com os cidadãos os altos índices de mortes são os principais pontos a serem destacados na atuação da PM. Disponível em: http://pragmatismopolitico.com.br/2013/11/ouvidor-da-pm-sugere-desmilitarização.html
[14] Conferência da ONU em Durban, África do Sul, contra o racismo em que o Brasil participou.
[15] Sem dúvida a esmagadora maioria dos alunos ainda não conhece a contribuição histórico-social dos africanos e seus descendentes, muitos nem imaginam que a civilização surgiu na África.
[16] Ainda mais no governo Alckimin, que vê o extermínio como forma de sucesso de efetivição da política de segurança.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/letalidade-policial-tem-aumento-de-206-9-na-cidade-de-sao-paulo- 3322.html

i ii
Uma análise interessante do escritor, poeta e arte-educador Allan da Rosa sobre a Palestina está disponível em: http://www.revistaforum.com.br/abeiradapalavra/2014/07/11/palestina-um-deus-marionete-e-seus-pipocos/ Princípios da Campanha “Reaja” Disponível em: http://reajanasruas.blogspot.com.br/
iii                         OLIVEIRA, C.A. A temática de saúde reprodutiva no Movimento de Mulheres Negras: uma análise da agenda política da década de 80. TCC, Faculdade Mauá (FAMA), Mauá, 2009.
iv                        Jurema Werneck, Elza Berquó, Lélia Gonzalez, Edna Roland, dentre outras, atuaram num movimento que ressignificou a saúde reprodutiva no Brasil. Lélia Gonzalez apontou que com o surto de urbanização nas grandes cidades, o controle do corpo das mulheres negras, pobres e nordestinas intensificaram-se. Ver in: A importância da organização da mulher negra no processo de transformação social. Revista Raça e Classe, v.5, n.2, nov-dez. 1988. Conferir em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacao_negra.pdf E http://redesaudedapopulacaonegra.blogspot.com.br/
v
vi FAUSTINO. Deivison Mendes (Deivison Nkosi). O Encarceramento em massa e os aspectos raciais da exploração de classe no Brasil. In: Encarceramento em Massa, símbolo do Estado Penal. PUC Viva, ano 11 – N.39. Setembro a Dezembro de 2010 / ISSN 1806-3667. Disponível em: http://kilombagem.org/o-encarceramento-em-massa- e-os-aspectos-raciais-da-exploracao-de-classe-no-brasil-deivison-nkosi/
vii                       Sítio: 2marchacontragenocidio.batemacumba.net. Página de Divulgação de São Paulo no facebook: “Marcha Nacional Contra o Genocídio SP”
viii                      Inspirada na categoria de análise “A Quilombagem”, de Clóvis Moura. Mas a qui a escrita é com “K” para remeter à escrita africana.

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