sábado, 18 de abril de 2015




O QUE É A BELEZA?

        Definir o que é  a beleza parece tão difícil  quanto definir  o que é a verdade, ou o que é a arte; dizendo de outro modo, é tarefa  quase impossível.  Essa polêmica se estabeleceu desde que o homem adquiriu  consciência  de si e do mundo que o rodeia e passou a questionar-se e ao próprio mundo.

       Antes de mais nada, é preciso entender que o sentimento de beleza pertence a  todos os homens e  mulheres e que esses homens e mulheres  estão sujeitos a  todas as vicissitudes da vida.
       Michel Ribon, em Arte e Natureza, tratando do belo natural e do belo artístico, estabelece uma triangulação baseada em três questões fundamentais sobre o tema:

- De onde vem o sentimento natural de beleza que experimentamos?
- De que forma a concepção do belo, na natureza, introduz uma certa idéia de beleza
   artística?
- Como formular a  questão da primazia de uma sobre a outra?

     Essa triangulação estabelece o problema da relação  existente entre arte e natureza, que por sua vez  cria outra triangulação: a arte é o espelho da natureza ou a natureza é o espelho da  arte, ou ambas seriam reflexo do espírito?

     Essa questão permanece insolúvel até hoje,  pois é impossível separar o homem  do meio em que vive, isto é, a própria natureza, e  assim como o homem  interfere na natureza e a modifica, esteticamente, para melhor ou  para pior (?), também é certo que  a beleza  que emana do mundo natural  sempre vai  influir em qualquer conceito abstrato que o homem sobre ela estabeleça.

    No Oriente (China, Japão, Índia, etc.) como a arte se caracteriza como meditação filosófica  sobre  a natureza e o mundo, onde entram  valores e simbologias  complicados e de difícil compreensão para a mente ocidental, existem poucos indícios de  preocupação crítica e teórica sobre  arte e beleza, o que se percebe é que  os orientais nunca chegaram a conceber a arte pela arte como no Ocidente, isto é, a arte é sempre concebida em função da vida, da totalidade e do significado da existência, o que me parece muito mais lógico e coerente.

    No Ocidente, a questão se dividiu durante séculos entre os que tentam fundamentar a objetividade da arte e da beleza ( Platão, Aristóteles, Plotino, Tomás de Aquino) e os que defendem  seu caráter subjetivo, como os empiristas (David Hume). Para Tomás de Aquino o belo é um dos aspectos fundamentais do ser, juntamente com o bem e a verdade, por isso estabeleceu  o estudo do ser em  uma trilogia: estética, ética e metafísica. No século XVII, Baumgarten inaugura oficialmente a disciplina filosófica estética”, conceituando-a como “ciência do belo e da arte”. Kant consolida essa tripartição, elaborando seu sistema crítico  através de três obras: Crítica da Razão Pura; Crítica da Razão Prática e a Crítica da Faculdade do Juízo, que investiga a experiência estética do belo como atitude contemplativa, desinteressada e não-conceitual, das faculdades humanas.

    Mas a polêmica  persiste e passa pelo idealismo alemão  de Schelling e Hegel (auto-superação do espírito em busca do absoluto), por Nietzsche (arte como  estimulante vital contra o pessimismo da decadência platônico-cristã). Heidegger rompe definitivamente com a tripartição da questão ontológica, conduzindo o problema da arte  para a questão da verdade e não  para a do belo, conforme os tradicionais estudos da estética.

    Essa independência da obra de arte tanto em relação à intenção do autor quanto a valores e propósitos não propriamente estéticos vai caracterizar  a produção do século XX.

    A função da arte deixa de ser  representar  naturalisticamente  o mundo ou promover valores, sejam eles sociais, morais, religiosos ou políticos. Sua especificidade  a partir desse momento é ser promotora da experiência estética. Ao lado disso, encontramos o repúdio à estética sistemática e o ceticismo em relação às possibilidades de se definir a beleza. A nova atitude estética  é a valorização das características individuais de cada forma de arte, o que possibilita a cada um  experimentações  na busca da sua linguagem específica e característica. Com a dissolução da atitude naturalista, os artistas passam a menosprezar o assunto ou o tema das suas obras para valorizar o fazer a obra de arte. Qualquer assunto serve, ou mesmo nenhum assunto, como é o caso da arte abstrata e da música atonal. Assim a obra de arte adquire um estatuto próprio de obra, isto é, ela não tem por função representar nenhum aspecto da realidade exterior, pois ela é a própria realidade. Realidade especial, diferente da  realidade do nosso cotidiano, realidade de obra de arte.

    Hoje em dia, de uma perspectiva fenomenológica, consideramos o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Beleza é , também, a imanência total de  um sentido ao sensível. O objeto é belo porque realiza seu destino, é autêntico, é verdadeiramente segundo seu modo de ser, isto é, um objeto singular, sensível, que carrega um significado que só pode ser percebido na experiência  estética. Não existe mais a  idéia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza.


    Importante é saber que todo aquele que estuda a arte com seriedade deve  compreender o seguinte:   seja qual for seu sentimento  ou conceito particular de beleza, deve estar disposto a admitir  que há no reino da arte manifestações genuínas desse sentimento em outras pessoas, em outros períodos. Arte primitiva, clássica, gótica ou contemporânea apresentam para ele igual interesse, sua preocupação principal deve ser  não a de avaliar os méritos relativos de tais manifestações periódicas do sentimento de beleza, mas distinguir o que é genuíno e o que é falso em todos os períodos. 

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