sexta-feira, 3 de abril de 2015

“O Sal da Terra”, assistir, por quê ? Porque Win Wenders e Sebastião Salgado são imperdíveis.



Sempre fui uma expectadora entregue, isto é,  assumo a condição e espero para expectar. Estou disposta a receber os mandos e desmandos  do espetáculo. A entrega me traz a oportunidade de viajar sem restrição a tal “caverna de Platão”,  mesmo tendo em mente que logo irei sair dela para vivenciar o mundo real, muito mais complexo, duro e menos poético, sempre sigo confiante diante de um espetáculo.  A compensação acontece quando me deparo com viagens inesquecíveis como esta que irei lhes contar na coluna de hoje, uma das mais belas que já presenciei no mundo do  “eu expectante”. “O Sal da Terra”, 2014, documentário franco-ítalo-brasileiro dirigido por Win Wenders e Juliano Salgado.

Imensidão
O filme é construído a partir do olhar do fotógrafo. Emocionante ver os movimentos dos olhos de Sebastião percorrer as próprias fotos  e vê-lo buscar na gênese da lembrança uma nova versão na formulação da recordação.  Assim é possível, ao expectador do filme, vivenciar uma constante tentativa de construir a historicidade da imagem. O presente e o passado do instante decisivo se fundem pela fala do fotógrafo.  É neste sentido que Win Werdens entrega o ouro para nós expectadores. Sebastião Salgado, nosso fotógrafo social que percorreu o mundo em busca de imagens da condição humana, nos vem de bandeja, aquecido e cheiroso para degustarmos. Sem nada a perder, Tião, como seu pai lhe chamava, está lá, agora diante das câmeras como personagem de um filme de sua vida e obra. Ah, Win Werders, que já me emocionou com tantas imagens como em “Paris Texas”, 1984, “As Asas do Desejo”, 1987, “Buena Vista Social Club”, 1999, “O Hotel de um milhão de Dólares”, 2000, “Pina”, 2011; e agora me tira o fôlego em “O Sal da Terra”...
Win Wenders e Sebastião Salgado - Estudos das Imagens 
O filme segue num percurso linear, de acordo com a vida e obra do fotógrafo, isso facilita a compreensão dos fatos e a narração em várias vozes, tira a imposição da “Voz de Deus”, própria de alguns documentários. Portanto, quem for ao cinema assisti-lo, recomendo a tela grande,  terá um panorama bem explicado da trajetória de Sebastião Salgado em suas aventuras pelo planeta Terra.
Um filme sentimental que mostra a face humanista do fotógrafo e nos traz a forte sensação do homem em sua complexidade humana com seus triunfos e pesares em suas escolhas e consequências.
Sebastião Salgado em cena 
Para quem sempre acompanhou o trabalho do fotógrafo vai se emocionar e, para quem nunca ouviu falar dele, muitas pessoas pelo mundo ou até mesmo no Brasil, vai conhecer seu trabalho e valorizá-lo. Foi indicado na categoria de Melhor Documentário na Edição do Oscar 2015 e,  apesar de não ter levado a estatueta, a indicação em si já é um reconhecimento diante dos 134 outros inscritos.


Um daqueles filmes feitos para assistir, rever, comprar e guardar para rever e rever todas as vezes que estivermos desanimados. Continuar e continuar a acreditar no que se acredita. Vale muito a pena conferir "O Sal da Terra" !!! Ótimo filme 



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona na FPA - Faculdade Paulista de Artes e na UNIP nos e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

2 comentários:

Lari Germano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lari Germano disse...


Lari Germano6 de abril de 2015 22:30
o que mais me emocionou foi, na verdade, ver refeita a mata atlântica naquela fazenda perdida pela erosão....
o que mais me emocionou, no meio de tanta tragédia que ele retrata escancaradamente com imagens que só alguém de imensa sensibilidade e abrilhantado por Deus pode captar, foi, na verdade, a esperança....
quando aquela terra rachada e seca dá lugar a uma nova/ velha floresta, as lágrimas que gotejaram dos meus olhos o filme todo, caíram lépidas....
é emocionante constatar que quando há uma vontade verdadeira, sim, ele é e nós somos capazes de tornar o mundo melhor.

6 de abril de 2015 às 22:32

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