domingo, 19 de julho de 2015

O perdão é desnecessário.



Tenho vontade de chegar um pouco mais fundo... Falar de coisas que a gente às vezes não pensa, como o voo das aves, o balanço do vento.
Ou de coisas hoje banalizadas demais, cujas falas estão prontas e a gente não para pra dar verdadeiro significado: tempo de cartazes no Facebook, tempos de muita retaliação à opinião divergente, mas pouca filosofia.... tempo de pouco tempo pra perder perscrutando a vida, se embrenhando no labirinto dos conceitos já postos e dos nossos verdadeiros sentimentos, nossa condição humana.

Perdão, ó Pai, pois sou fraca
Nada além de criatura
Muito instinto motriz
Pra pouca ternura

Mas ainda acho que vale a pena pensar. Vale a pena mergulhar, ainda que se encontre lá, submerso, coisas tão distantes do ideal e não tão éticas como gostaríamos.
Afinal, que ética respeita, o sentimento?
Podemos, sim, com o pensamento, guiar o sentimento, pôr, na linguagem da psicologia, "cada coisa na respectiva caixa", mas isso demanda um esforço e um amadurecimento, um controle e um desejo de não se entregar à humanidade de sentir coisas nem sempre bonitas, nem sempre dignas de postar na rede social, porque em desacordo com a regra subliminar de não contrariar o senso comum e não se entregar à própria humanidade.
Até que ponto isso é bom?
Falemos hoje do perdão.
Afinal, o que é? Para quê/para quem serve? É sempre bom? Sempre necessário? É preciso ser expressado?É preciso ser pedido?
Questões que não nos fazemos geralmente, inundados que estamos da máxima defendida pelo próprio Mestre Jesus Cristo "perdoai sete vezes sete" e pela fala da maioria maciça de pessoas, no sentido de que o perdão é atitude que só grandes corações podem ter... e convenhamos, ninguém quer ou, ao menos, admitir, ser um espírito atrasado na escala de evolução, uma pessoa de coração pequeno.

quem em sã consciência quer estar fora do clã?

Por isso concordamos rapidamente e sem pensar, sem adentrar no nosso próprio conhecimento, na nossa própria verdade: como é, realmente, que lidamos com as coisas da vida? Qual a mola propulsora que nos leva adiante, depois de uma grande dificuldade e/ou perda?? 
Pela primeira vez, consultei pessoas. Senti-me na obrigação de averiguar com gente mais especializada, quais respostas teriam a essas perguntas. 
É claro que fui retaliada, porque, de primeira, parece óbvio que o perdão é algo maravilhoso e que só pode fazer bem. Mas não eram essas as respostas que eu queria e, à medida em que fui conversando (agradeço a todas as pessoas que se dispuseram a conversar um pouco sobre isso e expôr suas perspectivas sobre um assunto tão abstrato), o perdão foi se iluminando dentro de mim, bem como a percepção dos outros sentimentos que colaboram no meu percurso de virar a página, quando necessário.
E eu trago agora as minhas próprias conclusões, alcançada com o auxílio de todas essas pessoas queridas: o perdão é simplesmente uma negativa de carregar mágoas. Serve para a própria pessoa que o exerce, ou seja, para aquele que perdoa. É sempre bom, à medida em que nos livra do peso de conviver com o ressentimento, mas não é sempre necessário, no sentido em que a religião prega (há outras maneiras de se livrar das mágoas, como o esquecimento). Não é preciso ser expressado e independe de pedido.
A melhor explicação, obtive da maioria das pessoas que interroguei: o perdão é uma compreensão dos motivos que o outro teve para, consciente ou inconscientemente, ter nos ferido. Inclusive, de uma querida psicóloga, ouvi que talvez o perdão não exista e que perdoar pode não significar persistir no convívio da pessoa que nos magoou, e essa é minha maior dificuldade... porque perdoar, a mim parecia algo ligado ao amor, um resquício ou vertente desse grande sentimento... e algumas vezes na vida, quando a gente precisa se desligar ou seguir adiante, me parecia enfraquecedor se apegar ao sentimento de amor, ainda que ele agora esteja denominado de perdão.


Uma conclusão quase unânime, foi também quanto 'para o benefício de quem'. Porque o perdoado às vezes nem sabe que nos causou um mal, às vezes, mesmo sabendo, é indiferente à nossa dor, como é indiferente ao nosso perdão. Portanto, é uma atitude para aquele que dá e nisso, vejo uma coisa muito bonita - não há mesmo como não ser um resquício de amor, quando se dá algo sem a certeza, ou com a certeza, de nada receber em troca.
Pessoalmente, entendi que perdoo e nem sempre sei. Porque quando há uma quebra, sou invadida também pela raiva e pensava que, por isso, não perdoava.
Mas esta análise profunda, me fez perceber que não sigo levando mágoas, aos poucos vou lidando com elas e o 'mudar de olhar e de direção', faz com que eu remodele a minha vida e, com o tempo, todas as feridas vão se fechando sozinhas, sem que eu empregue um esforço sobre-humano no sentido de "perdoar". Antes, eu preciso cuidar um pouco de mim, mudar minha perspectiva das coisas e refazer meu trajeto de mundo - providências que me conduzem vagarosamente para um novo viver em que não cabe o ressentimento das dores sofridas e, também, à compreensão-perdão de que o o outro, como eu, está trilhando seu próprio caminho de evolução.


É verdade que sinto raiva. Mas a minha raiva é, na maioria das vezes, uma maneira de lidar com a saudade. Sinto raiva por ter que seguir sem a pessoa que me magoou, raiva pelo sofrimento de ser obrigada a inventar um novo trajeto de vida, por exemplo. Mas compreendi que esta raiva não significa um não-perdão,  e que aceitá-la, mesmo que não seja o melhor dos sentimentos, é não negar minha natureza e apoiar-me numa força que me faz seguir em frente e não pestanejar numa tomada de decisão.
Eu poderia dizer tantas outras coisas e argumentar muito mais, mas meu intuito aqui não é convencer ninguém, apenas convidá-los a pensar um pouco mais sobre questões às vezes unânimes, descobrir seus verdadeiros sentimentos e escolher seus próprios caminhos pra lidar com as dificuldades e perdas da vida, que, com o passar do tempo, podem revelar-se uma transição para grandes e inesperados progressos.
É preciso confiar na vida, talvez mudar o rumo e esperar.
Não se apresse em dizer 'te perdoo', talvez nem tenhamos tamanho poder, nem compreendemos ao certo, nas encruzilhadas dessas vidas e mundos, quem de verdade deve perdoar quem. Ocupe-se em estar curado, porque refeito e íntegro, não haverá lugar pra mágoa - a compreensão-perdão, ora ou outra, virá.



escute esta canção e entenda com o coração, o que não está dito.






Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros" e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), Tem perfil no facebook e no twitter e a página Lári Prosa e Trova no facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.






2 comentários:

Marcos Liotti disse...

Gosto deste passeio que me proporcionou neste domingo por este tema, aprendi, com o meu percurso que não devia corrigir as pessoas e entender que cada um tem o seu tempo para evoluir, isto, me ajudou a entender o perdão, um ato simples de compreensão, sim, compreender que o que nos magoa provém das deficientes lacunas de evolução doutrem, que a nós também nos visita, por vezes, na máxima simples, se Deus perdoa, quem somos nós para não perdoar... Eu entendo, aprecio o atraso alheio, logo esqueço, logo relevo, logo perdoou... Bom pensar e dividir... :)

19 de julho de 2015 às 13:01
Lari Germano disse...

Bom contar com sua observação e prestígio, amigo Marcos.... Assim vamos, sempre em frente, nos compreendendo e complementando.... bjs

19 de julho de 2015 às 14:07

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