quarta-feira, 23 de março de 2016

Win Wenders volta à ficção:"Tudo vai ficar bem"



Depois dos documentários de sucesso, "Pina", 2011 e "O Sal da Terra" 2014, o diretor alemão Win Wenders volta à ficção em "Tudo Vai Ficar Bem". Com roteiro do norueguês Bjorn Olaf Johannessen, o filme atinge em cheio as questões relacionadas a culpa, o perdão, à inadequação aos relacionamentos e a dor que esses sentimentos causam a alma humana. O ator James Franco está na pele de um escritor, Tomas Eldan, que busca  incesantemente inspiração para escrever seus romances. Sua namorada Sara, interpretada pela belíssima Rachel McAdams, o atormenta querendo um relacionamento mais seguro enquanto Tomas quer mesmo é escrever. Falando assim parece que a trama não apresenta nada de novo, é verdade, porém a direção de Wenders transforma essa história praticamente banal num filme intimista e sensível.   
O ponto de virada se dá no momento em que Tomas se envolve em um acidente de carro em meio a neve.  Nesta ocasião, a  história ganha ares de Wenders, isto é; sensibilidade aguçada, frieza peculiar  alemã e uma pitada de melodrama. É possível rever Charlotte Gainsbourg ,  protagonista de Ninfomaníaca, atuando como Kate e entrando na vida do escritor para dar inspiração as suas obras de escritor. 



Crítica negativa 


Pelo que li a respeito, a crítica brasileira não foi nada favorável ao filme, principalmente a atuação de James Franco,  um ator com currículo de fazer inveja a qualquer um pela quantidade de filmes que interpretou durante  sua carreira de ator.  Particularmente não posso concordar com essa negatividade da crítica, pelo contrário, achei que a aparente frieza do personagem Tomas combinou com a frieza de Kate. Gainsbourg sabe muito bem interpretar com a peculiar característica blasé dos franceses, assim o ar frio e azul da neve, mesclado a frieza de Tomas combinou muito bem com o propósito do filme e a interpretação de Franco. 

Entrei na vibe do filme


A música colocada para dramatizar as imagens do filme deu um carácter à la Hitchcock, agregando suspense e misterios as cenas,   isso me encantou. A montagem sugeriu algo contemporâneo, com cenas deixadas em aberto para ser pensadas no conjunto do filme. 
Para mim o filme é sensível, apesar dos atores terem uma interpretação mais minimalista, as belas imagens, as músicas, e a fotografia engrandeceram o enredo também enaltecido pela direção de Wenders. Um filme para pensar na culpa, no perdão, no recomeço e principalmente nas cicatrizes deixadas pelos traumas. 
O que ficou foi que os  traumas podem ser incuráveis, mesmo assim é oportuno continuar em busca de dias melhores, porém. mesmo que esses dias aconteçam será sempre muito difícil olhar para frente sem antes olhar pra trás. Isso me fez lembrar Leminski em seu poema Estratégia:
Dia vai vir

Você vai ter que travar

Batalhas de verdade

Ai da tua estratégia

Ai da tua tática

Ai da tua defesa

Ai do teu ataque
Se você não fez bom uso
Do tempo da sua paz

Pense nisto, rapaz

E nunca, nunca, nunca mais

Olha pra frente

Sem antes olhar pra trás.


Apesar de ter sido filmado em 3D, no Brasil o filme não circulará nesse formato.



Quanto aos olhos apertados de Franco, motivo de critica negativa ao ator,  tenho a dizer que me pareceu mais um estratégia para o personagem Tomas e não um propósito do ator. Penso que se Tomas  estivesse de olhos muito abertos talvez não conseguisse continuar. 



Belo Wenders, como sempre, vale a pena conferir !!!









Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.


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