domingo, 29 de maio de 2016

Ser



Há tantas exigências para com o modo de andar a vida... Quase todos sabem o itinerário a ser seguido, o script está pronto e até as conquistas que você deve fazer para ser "alguém", estão socialmente definidas: estudos, bom emprego, casamento, carro, casa, filhos, casa na praia.... Preferencialmente, nesta ordem - é o que se espera para pessoas bem sucedidas.
E quando a vida segue de um jeito diferente, e quando seu modo de andar não bate com esse roteiro perfeito, parece então tratar-se de uma pessoa perdida, de uma pessoa com dificuldades e grande probabilidade de não dar certo. O que faz presumir que as pessoas que sabem seguir o script são equilibradas, resolvidas e mais felizes.
Na prática, entretanto, não é isso o que se vê. Seguir a sequência preordenada desses patamares sociais traz sim, a alguns, tranquilidade. Mas a grande maioria das pessoas, esteja ou não subindo esses degraus, traz em si uma turbulência e uma dificuldade que é própria do ser humano. Porque ter todas as coisas ou conquistar tudo o que se pode, não é garantia de satisfação, sequer de realização do Ser.
O Ser só se sustenta, sendo. E isso requer além de vivência, muita auto-observação, inclinação para analisar, compreender e aprender com erros e acertos e também generosidade com a luta alheia - tão árdua quanto a sua -, livrando-se de julgamentos e determinismos (a inútil habilidade de resolver a vida do outro).
Eu tenho travado a minha batalha valendo-me do ensinamento de Ferreira Gullar, de que a vida é uma grande invenção.
E apesar de não corresponder exatamente às expectativas do entorno, com grandes deficiências e dificuldades, uma sensibilidade muito aguçada que às vezes atrapalha e uma veia passional para com as questões cruciais da minha constituição, sei que as conquistas que fiz não são materiais, sequer podem ser monetariamente avaliadas: esta luta comigo mesma, que travo todos os dias, impossível de renunciar e que tenho corajosamente encarado, ainda que a subestimem aqueles cujo desenho da vida é menos subversivo.
Antes que tudo Sou. E quanto mais isso se reafirma em mim, menos desejo corresponder ao que se espera e mais compreendo que para mim a trajetória não poderia ter sido outra, e me aceito. A partir daí, e só então, sinto-me pronta para outras conquistas.
Talvez, quem sabe, aquelas por que tanto esperam "as pessoas na sala de jantar".


Ps.:  Das coisas que Sou, sou antes mulher. Inconformada e indignada com o machismo velado de homens e mulheres, com a tolerância odiosa ao comportamento abusivo e criminoso contra o direito ao corpo e a vontade das mulheres e deixo aqui minha nota de repúdio ao estupro coletivo noticiado esta semana contra uma mulher (contra todas as mulheres). É necessário atinar que esta é uma briga atual, que há muito a ser feito em matéria de pensamento e consciência com relação a questão da mulher (moralismos e códigos de etiqueta a serem superados para que se alcance uma situação de equidade entre homens e mulheres), atitude e combate nas situações de abuso e crime contra a mulher e que a luta pela dignidade da mulher coaduna com a  luta em prol da dignidade humana. O Sou só prevalecerá no dia em que cada um possa Ser o que é - dia em que a palavra Deus será usada para fortalecer e agregar pessoas e não o contrário. E em que nenhuma justificativa, desculpa ou palavra será levantada em defesa de atrocidades cometidas contra o Ser Humano.




Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.



Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no Facebook e no Twitter e a página Lári Prosa e Trova no Facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.

Para adquirir o livro Cinzas e Cheiros, independente, entre em contato com a autora pelo email: slariger@hotmail.com. Remessa pelo Correio.

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