Como tudo começou? Um Departamento de Cultura na cidade de São Paulo
Depois
de 2016, nós, brasileiros, temos vivenciado tempos difíceis!
Árduos
e inaceitáveis por professores, artistas, intelectuais, estudantes e todo
cidadão que atua em esferas, digamos, menos pragmáticas e lucrativas!
Por
que aceitamos?
Por
que não lutamos?
Lutamos!
Com
palavras, linguagem não verbal
protestos
virtuais
desabafo
com amigos
alusão
aos nossos heróis
Solução?
Apenas
para os grandes empresários
Evolução.
Revolução. Revoltarão.
“Cala-te
boca pelas milícias do não!”
O
então “presidente” Michel Temer, em maio de 2016, decidiu extinguir o
Ministério da Cultura (MinC). Fazendo
usos de verbos como “redirecionar”, “alocar”, “remanejar”, houve uma tentativa
de amenizar as contestações que surgiam em meios artísticos e algumas
manifestações populares contra essa decisão.
Houve, também, pronunciamentos de
representantes do governo, sobre os novos rumos planejados para o Ministério da
Cultura: como vincular a Cultura ao Ministério da Educação (MEC). Essa medida
parecia ser, para algumas pessoas, a decisão correta. Afinal, era (é) preciso
gastar gastos, e, assim sendo, para que cultura?
No
nosso dia-a-dia é comum encontrarmos frases do tipo: “mas aquele ali não tem
cultura”, “que pessoa sem cultura”...
Se assim fosse, Michel Temer não
estaria tão equivocado por extinguir o MinC para cortar gastos. Já que poucas
pessoas têm cultura, de acordo com o senso comum, é aceitável acabar com um
Ministério insignificante.
Mas, vamos por partes porque a prosa
é longa!
Antes de apresentar uma
contextualização sobre a criação do Ministério da Cultura, é primordial que
conheçamos os motivos que impulsionariam a sua criação. Por isso, na nossa
primeira conversa sobre o MinC iremos falar sobre o Departamento de Cultura de
São Paulo.
A criação do primeiro Ministério da
Cultura ocorreu no ano de 1985, no governo de José Sarney. Mas vamos começar
antes desse marco de Ministério independente.
Nosso ponto de partida começa no ano
de 1935, quando Mário de Andrade tomou posse como diretor do Departamento de
Cultura da cidade de São Paulo. Departamento na época equivalia a Secretaria e
Mário de Andrade foi o primeiro secretário de cultura do país.
Fábio Padro assumia o poder local em
1934. Pautado em ideais ideológicos, o mandato do prefeito, membro da família
de maior prestígio da elite paulista, destacou-se pela tentativa de superar os
conflitos das classes trabalhistas, investimento na educação infantil, gestão
vinculada ao taylorismo, transformação de diretorias em departamentos, dentre
as quais ressaltamos a criação do Departamento de Cultura, e algumas
construções como a Avenida Nove de Julho, a Biblioteca Municipal, o Estádio do
Pacaembu e o novo Viaduto do Chá que seguiam os caminhos arquitetônicos das
obras do período anterior (CAMPOS, 2002, p.499).
Naquela época, a Prefeitura de São Paulo
contava com seis departamentos: Obras; Expediente e Pessoal; Higiene; Fazenda;
Jurídico; Cultura e Recreação.
O Departamento de Cultura abrigava ações
de Assistência Social, Esportes, Lazer, de Turismo, Estatística e Planejamento,
Meio Ambiente e contava com 10% do orçamento da Prefeitura, conforme decisão do
prefeito do mandato, Fábio da Silva Prado.
De início, traçaram o seguinte
objetivo para o DC: “estimular e desenvolver todas as iniciativas destinadas a
favorecer o movimento educacional, artístico e cultural” da cidade. Para isso,
quatro divisões compunham o Departamento: Expansão Cultural, Educação e
Recreio, Documentação Histórica e Social, e Bibliotecas.
De acordo com Carlos Augusto Calil e
Flávio Rodrigo Penteado, a primeira providência do DC foi atuar sobre a
realidade de São Paulo por meio de pesquisas sociais e etnográficas que
detectassem problemas na alimentação, moradia e educação. A ideia foi ampliada
para fundir educação e lazer, visando o desenvolvimento das crianças por meio
de acompanhamento profissional. Dentre os projetos criados no D.C, merece atenção
as bibliotecas ambulantes e a Seção de Rádio-Escola.
Além disso, a preocupação com o
patrimônio imaterial foi uma constante na gestão de Mário de Andrade. No
intuito de investigar aspectos formadores de uma verdadeira “brasilidade”,
realizaram-se pesquisas de manifestações da cultura popular no interior do
estado de São Paulo e na Bahia. Essas iniciativas culminaram naquele que talvez
tenha sido o mais ambicioso dos projetos do Diretor do Departamento de Cultura:
a Missão de Pesquisas Folclóricas.
A meta da Missão era registrar as
manifestações da cultura popular em vias de desaparecimento, face à
industrialização e à difusão massificada de referências culturais estrangeiras
por meio do rádio ou do cinema.
Durante cinco meses, a missão atravessou
Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, enfrentando toda sorte de
problemas, decorrentes, em grande parte, do momento político vivido pelo
Brasil, pois em novembro de 1937 instalara-se o Estado Novo.
O Departamento de Cultura permitiu a
Mário de Andrade colocar em prática alguns assuntos que vinha estudando e que,
até então, existiam no plano teórico. Nesse sentido, ele fez desse organismo
político um local capaz de implantar atividades humanistas na cidade, as quais
foram demolidas em prol da priorização da urbanização da metrópole, pois
governantes como Abraão Ribeiro e Prestes Maia demoliram as faíscas que
sobraram do Departamento de Cultura dando ênfase na construção das grandes
avenidas paulistanas.
Com a implantação de uma nova
política em 1936, os responsáveis pela fundação do Departamento de Cultura
começaram a ser afastados e suas propostas iam sendo, aos poucos, exterminadas.
Exemplo notório foi as apresentações artísticas exibidas gratuitamente pelo
Departamento de Cultura que passaram a ser cobradas, e os concertos nos bairros
operários que foram suspensos. Mário de Andrade, vítima desse sistema político,
além de ser demitido do Departamento, foi reprendido pela ditadura, a qual
fiscalizava cartas e crônicas do escritor.
Referências Bibliográficas:
CALIL,
Carlos Augusto. PENTEADO, Flávio Rodrigues. Me
esqueci completamente de mim, sou um departamento de cultura. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015.
CAMPOS,
Candido Malta. Os rumos da cidade:
urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo: SENAC, 2002.
Bruna Araujo Cunha é doutoranda em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Letras/Estudos Literários pela Universidade Federal de Viçosa, graduada em Letras pela mesma instituição. Tem experiência na área de Letras, atuando principalmente nos seguintes temas: Literatura e Sociedade, Literatura e espaço urbano e poesia brasileira.
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