Deuses Americanos


Escritor inglês, atualmente morando nos Estados Unidos, Neil Gaiman é mundialmente conhecido como o autor da série de histórias em quadrinhos The Sandman. Mas além de HQs, ele também trabalha na criação de filmes, peças de teatro e vários romances de Ficção Científica e de Fantasia, que é o caso da obra sobre a qual falerei hoje.

O livro conta a história de um rapaz que, libertado da prisão, encontra o seu mundo virado de cabeça para baixo. Sua esposa foi morta, acontecimentos absurdos se tornam comuns e um misterioso senhor oferece-lhe um emprego. Mas este estranho, que parece saber mais sobre Shadow do que é seria possível, o adverte que uma tempestade está vindo -- uma batalha pela própria alma da América... e eles estão indo diretamente a seu caminho.

Uma dos livros mais falados do novo milenio, Deuses Americanos (American Gods, no original) é uma caleidoscópica viagem dentro da mitologia e através da paisagem americana, ao mesmo tempo familiar e totalmente estranha. É, simplesmente, uma obra-prima contemporânea. Devorei-a em uma semana, tamanho o seu sabor agradável e viciante.

Àquelas pessoas que não têm dinheiro para comprar este livro ou não o encontraram em uma biblioteca, eu digo para não se alarmarem, pois podem baixá-lo pela internet. Aviso que esta versão que encontrei foi traduzida para o português por fãs, portanto não é das melhores. Mas, tirando os erros tipográficos, é possível lê-la tranqüilamente.


Vale ressaltar que Neil Gaiman esteve no Brasil, participando da FLIP 2008. Onde ele foi muito bem recebido e autografou os livros de muitos fãs. Para quem perdeu, segue um consolo no qual ele lê um conto seu:



Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.
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Amarelo da manga também é o amarelo do pus ... Amarelo manga, o filme



Cláudio Assis
Vamos esperar ansiosos pelo novo filme de Cláudio Assis previsto para estrear nos cinemas em maio de 2011, Febre do Rato.  Enquanto  isso podemos ver ou rever seus cinco curtas: Henrique ( 1987), Soneto do Desmantelo Blue (1993),  Viva o Cinema (1996 ), Texas Hotel (1999), O Brasil em Curtas 06 – Curtas Pernambucanos (1999), ou seus dois longas: Amarelo Manga (2003) e Baixio das Bestas ( 2007).

Baixio das Bestas
Esse pernambucano de Caruaru dirigiu seus curtas e longas com o mesmo estilo e destreza,  encarnando o lado indigesto, miserável, decadente e literalmente podre da humanidade. Assistir aos filmes de Assis é vivenciar algo único e forte nas seqüências bem montadas e fotografias coloridas com enquadramentos corajosos e chocantes. As histórias são amarradas por personagens que redesenham fatos do cotidiano de pessoas que vivem dentro do mesmo universo e compartilham experiências comuns.

O primeiro filme de Assis que assisti foi Amarelo Manga e logo percebi que o diretor era uma mistura de Fellini e Almodóvar no quesito excentricidade  das personagens (travestis, bichas, putas, necrófilos, padre descrente e por aí afora). Personagens caricatas não caracterizam  um mau em sí, quando se opta por esse meio de representação é preciso sensibilidade do diretor para que essas personagens "estereotipadas" não acabem com a surpresa do filme; ou,  talvez pior,  que deixam tudo preso e previsível nas vestimentas e trejeitos das personagens. O diretor deve ir além disso para que possa mostrar ao público mais do que o óbvio. Nesse filme  em especial, a voz over ocupa um papel fundamental pois serve para nos mostrar os dilemas que ocorrem dentro da mente de cada personagem,  trazendo-nos surpresas  ao nos aprofundarmos em seus confitos e temores. 
Canibal (Chico Diaz)
Dunga (Matheus Nachtergaele) 
Levando em consideração essa temática das personagens, resolvi falar um pouco de  Amarelo Manga, pois acredito ser o filme mais interessante para analisá-las. O filme já começa no nome: Amarelo Manga, fruta tropical, gostosa, suculenta e amarela que lembra: Amarelo do sol, do desespero de Van Gogh, do céu ensolarado, mas que também remete as feridas purulentas que decorre das inflamações, da hepatite dos dentes estragados, da urina.... As cenas são coloridas com esse amarelo que se completa com o vermelho do sangue, da carne das entranhas que vazam de bois mortos num abatedouro no qual Canibal (Chico Diaz) trabalha. É possível exalar o cheiro de sangue pela tela.
Canibal é machista e está sempre coberto de sangue dos animais que abate. Ele é a paixão de Dunga (Matheus Nachtergaele), cozinheiro do Hotel, uma espelunca fedorenta onde moram várias outras personagens  como, o Issac (Jonas Bloch ), que gosta de atirar em mortos e Aurora ( Conceição Camaroti), ex prostituta velha e asmática.
 Lígia  (Leone Cavalli) amarra as histórias habitando um bar por onde as personagens passam para beber e conversar. Muito interessante pois o filme começa com Lígia dormindo na cama de seu quarto que fica no fundo do bar. Uma grua a mostra acordando, levanta-se,  se cobre apenas com um vestido, pinta a boca e vai abrir o bar.  Assis utiliza as falas das personagens para dar densidade e profundidade a elas, vejam:

Lígia  (Leone Cavalli)

Lígia no momento que abre o bar:
Às vezes eu fico imaginando do jeito que as coisas acontecem. Primeiro vem o dia, tudo acontece naquele dia até chegar a noite que é a melhor parte, mas logo depois vem o dia outra vez e vai.... e vai.... e vai..... sem parar.

Mikhail Bakhtin valorizava em seus estudos realizados na obra de Dostoievski, a ação discursiva das personagens, em Amarelo Manga é visível o trabalho realizado para compor as falas -  dialógica.  Noutro momento, vemos  Dunga  varrendo a velha pensão, de shortinho curto e cantando uma música que revela sua personalidade:

Mangó de mim, amarelou não vai ficar de graça, dentro dessa caixa, um corpo indigente, corpo que não fala, corpo que não sente...

No bar onde Lígia trabalha, um cliente metido a intelectual  fala em tom jocoso:

O prazer do brasileiro médio é ser enganado.

E para terminar, quero colocar a fala do Padre que tem cachorros como fiés e sua igreja está fechada por falta de pessoas. O vídeo abaixo nos mostrará outro momento em que o Padre argumenta em voz over suas dores. Shopenhauer do agreste.

Ninguém é inocente
Há muito tempo se perdeu a esperança nos homens. O castigo urge e grita aos 7 cantos. Os humanistas de beira de púlpito se apiedam de suas próprias almas pois é justamente no orgulho da bondade que reside o maior de todos os pecados.
O homem morre
O mundo se extingue
E as chamas se consomem mas a soberba acompanha o vazio..... 

Claudio Assis a La Hitchcock aparece em cena e diz à  Kika ( a crente):  Pudor é a forma mais inteligente da perdição.....

Assistam aos filmes de Assis em DVD enquanto esperamos o inédito e provavemente instigante Febre do Rato, previsto para em maio de 2011

Assitam ao trecho do filme Amarelo Manga e ouçam o discurso da personagem Padre


Bom filme!



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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Preconceito, xenofobia pós-eleições e torneio de gordas


Acontecimentos que marcaram o Brasil nas últimas semanas mostraram uma face obscura relacionada a nosso país. Preconceitos foram exacerbados, argumentos de extrema-direita utilizados. A máscara reacionária foi vestida por muitos brasileiros. O ponto que marcou o desvelar dessas ideias foram as eleições presidenciais. Logo depois da vitória de Dilma Roussef, primeira mulher eleita em nosso regime republicano e segunda mulher a ocupar o primeiro posto do governo depois da Princesa Izabel, observou-se uma onda de xenofobia na Rede de relacionamento Twitter com muitas postagens contra os nordestinos, algumas das quais se referiam ao Bolsa Família, acreditando que o programa governamental servia para os paulistas "sustentaram" a população nordestina que não trabalha.


Muitos brasileiros expressaram sua revolta por considerar que a vitória deveu-se ao fato de os eleitores do Nordeste terem votado em massa em Dilma. Brados de Morra nordestinos foram a tônica das postagens, que entre outras coisas, defendiam que São Paulo deveria se separar do restante do País. Foi até esboçado a organização de um movimento que nada deixa a desejar para movimentos políticos explicitamente racistas e segregadores, o Orgulho Paulista.

Defender publicamente essas ideias preconceituosas - e sites da internet são considerados publicações - significa perante nossa legislação, racismo - CRIME imprescritível e inafiançável. Mal avisadas, tais pessoas não esconderam seu ranço, mas rapidamente houve manisfestações que algumas delas poderiam pegar entre 2 a 5 anos de prisão. Algumas voltaram atrás, deleteram suas postagens ou pediram desculpas publicamente. Tarde demais, a ventilação de tais ideias gerou uma grande repercussão nacional e internacional.

O Ministério Público Federal está investigando o caso. A primeira pessoa passível de ser punida é a estudante de direito Mayara Petruso, que, segundo a OAB de Pernambuco, foi quem tudo começou.

Segundo o site do Yahoo:

"Vários usuários se manifestaram de forma       ofensiva ao povo nordestino, mas, segundo a assessoria de imprensa da OAB-PE, a ação será concentrada em Mayara "porque foi ela quem começou". Dentre vários posts ofensivos, Mayara escreveu: "'Nordestisto' não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado" (sic) .
Caberá ao Ministério Público Federal investigar o caso, e decidir se Mayara é passível de punição. A garota será alvo de duas ações: uma por racismo e outra por "incitação pública ao ato delituoso". A primeira estipula pena de 2 a 5 anos de detenção, e a segunda, de 3 a 6 meses de reclusão ou multa. O crime de racismo é imprescritível e inafiançável".




Paralelamente, entre os dias 9 e 12 de outubro, a cidade interiorana de Araraquara (SP) promovia o   InterUnesp 2010, jogos universitários. Segundo o site da Folha de São Paulo, o evento que foi anunciado como o maior do país do gênero esportivo e cultural, reuniu 15 mil universitários de 23 campi da Unesp. O InterUnesp nada lembrou do  histórico de luta do movimento estudantil no País, que teve movimentos expressivos principalmente na luta contra o regime autoritário da Ditadura Militar (1964-1984). Atos muito desabonadores foram realizados, por exemplo, o chamado Bundão de Franca, que nada mais é do que meninas que se enfileiram nas arquibancadas, viram de costas e baixam as calças ou levantam as saias e ficam rebolando para a plateia mostrando suas calcinhas. Um papel lastimável para nossas jovens mulheres estudantes.

Mas, esse ano tais manifestações foram mais longe. Foi criado o torneio das gordas, promovido pelo orkut com inscrições e premiações. A ideia do torneio era premiar quem conseguisse ficar mais tempo domando garotas obesas presentes no evento, tal qual se faz com cavalos e touros em torneios. A violência gratuita contra mulheres e mulheres obsesas foi considerada por muitos uma espécie de bullying, mas os organizadores classificaram o torneio como mera "brincadeira". Lembramos que desculpas semelhantes são sempre usadas quando se quer desabonar, desvalorizar grupos identitários como mulheres, negros, homossexuais. O humor muitas vezes expresso por piadas é uma violência sutil mas intensa que se faz correntemente.



Também sobre esse episódio pipocaram manifestações contra seus autores e também indagações, se nossos jovens universitários, que em tese seriam um grupo bastante esclarecido da população, defendem ideias como essa, onde podemos parar?

Acredito que esses sinais de fumaça significam áreas de sombra na nossa jovem democracia. Refletir sobre eles e tomar medidas justas de punição contra os culpados seria o melhor caminho. Tais acontecimentos mostram que o exercício da verdadeira cidadania é algo que deve ser pensado com toda a seriedade no rol de nossas políticas públicas. Ainda temos um longo caminho pela frente.

Saiba mais
Site Diga não a Xenofobia

Sobre bullying ver artigo na Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades
Do espetáculo à rotina, o terror e suas faces de Emílio de Andrade et. al.


Ana Maria Dietrich, historiadora, é coordenadora da Contemporartes. Suas pesquisas atuais versam sobre os temas Nazismo, Memória, Racismo e Preconceito.
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Livros de Poemas para o Presente!

Poesia Com Sumo Feminino!
por Altair de Oliveira

Devido à proximidade do final de ano, quando um certo espírito natalino impele até os consumidores mais parcimoniosos a irem às compras, e devido também a um certo sentido de sobrevivência poética, a nossa coluna de "poesia como a vida" decidi mostrar aqui alguns trabalhos de poetas independentes, iniciando pelos trabalhos das poetas Flávia Perez e Marilda Confortin, numa tentativa de possibilitar que eles possam, de agora em diante, ser e estar mais presentes em nossas vidas!

Neste nosso tempo tecnocrata, onde a mídia da imagem reina absoluta entre nós, demonstrando incansavelmente sua soberania sobre a palavra, o hábito de comprar livros de poemas, que nunca foi popular entre nós, parece ter se tornado ainda mais raro. Prova disso é que os espaços de poesia nas editoras e nas livrarias têm sido reduzido ano a ano e, cada vez mais, temos ouvido poetas afirmarem que os leitores de poesias são os próprios poetas. Além disso, os poucos livros de poemas, que são lançados pelas grandes editoras, dificilmente passam da primeira edição.

Mesmo assim, a verdadeira poesia sempre parece imortal, jovial e cheia de graça com o passar dos anos. Ela é tão importante que qualquer outra arte ou ofício ou outro qualquer artíficio, sem poesia, perde a graça... O poeta sulmatogrossense Emanuel Marinho tem até um poema que diz "Poesia não compra sapato, mas como andar sem poesia?" Precisamos também perder a mania de só comprar livros de poetas mortos, porque os poetas que não conseguem viver não morrem. Poetas, só aparentemente, vivem de brisa.

Portanto, amigas e amigos meus, neste final de ano e nos próximos anos, vamos nos lembrar de comprar livros de poemas para manter a graça de poder ter poesia de presente e, desta forma, ter um futuro de poesia! Fiquem muito bem.


Dois Livros de Poemas para Presente!

- I -

Leoa Ou Gazela, Todo Dia é Dia Dela, de Flávia Perez.

Poesia, 2009, edição da autora, 104 pgs. R$ 24,00.


Quem é Flávia Perez?

A poeta Flávia Perez é bióloga, carioca radicada em Campinas, com mestrado em Microbilogia Agrícola pela USP, tendo publicado anteriormente "A Filha de Capitu" (poesia) e "Não Culpem Nelson Rodrigues" (contos), participou ainda da Antologia Poética “Vide – Verso”, da Editora Andross, venceu concursos nas comunidades literárias "Vale das Sombras" e "Concursos de Microcontos" e recebeu Menção Honrosa em concursos da Associação dos Escritores Niteroienses e do Sindicato dos Comerciários de Limeira.


O que já disseram dela:

"Flávia descobriu a sonoridade e o poder das palavras e brinca com ela em poemas que o leitor - e principalmente a leitora - pode se apropriar. Assim devem ser os poetas: entidades que dão voz ao universal produzindo música em palavras." - Betty Vidigal, poeta.

"Maga dos poemas sensuais, carnais, santos e profanos." - Heloisa Galves


Um Poema de Flávia Perez:


Sem Medo

Hoje creio
no olhar da tigresa,
nas unhas da fêmea
e no estrago que faz
a beleza.

Conheci meu poder:
até onde mando
ou calo
até onde peço
ou devoro
até quando ir
- se é longe -
ou se paro.

Descido
se desço à noite
ou se o dia
varo.

Ele ainda me arrepia,
mas não mais me controla
ele agora é escravo,
e eu a Senhora.

Poema de Flária Perez, In: "Leoa ou Gazela, todo dia é dia dela."


Como comprar "Leoa ou Gazela, todo dia é dia dela.":
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=13007730&sid=18986895111019440728966639&k5=151C6957&uid=
Ou através de email com a autora: mmfrufru@gmail.com

Ver mais no blog de Flávia Perez: http://tudoqpuderbyblabla.blogspot.com/


***

- II -

Busca e Apreensão, de Marilda Confortin.


Poesia, 124 pgs, 2010, editora Protexto, R$ 29,00


Quem é Marilda Confortin?

Marilda Confortin, poeta nascida em Chapecó-SC em 1956, radicada em Curitiba desde 1975. Formada em análise de sistemas pela UFPR, a poeta iniciou divulgar seu trabalho através de letras de músicas nas décadas de 80 e 90 e a partir de 2001 já publicou 5 livros de poemas antes deste "Busca e Apreensão" que é uma coletânea de seus melhores poemas e traz também poemas inéditos. Marilda participou de várias antologias e ganhou alguns prêmios literários.


O que já disseram dela:


“Busca e Apreensão, de Marilda Confortin, é um dos mais significativos lançamentos editorais deste ano, no gênero poesia. Reúne os melhores poemas da autora curitibana, de sua vasta produção da última década. O que caracteriza a obra não é a busca da unidade temática ou de estilo. Porém, a busca e apresentação de um múltiplo painel que compõe a notável diversidade dos cometimentos da autora.” - Ricardo Alfaya
"Marilda é uma especialista nos terrenos mínimos do texto." - Altair de Oliveira, poeta. (eu mesmo).





Um poema de Marilda Confortin:


COM FUSÃO

Impregnaste-me feito o perfume
que uso diariamente no corpo inteiro.
És parte de minha rotina, meu costume.
E já nem sei se é meu ou teu este cheiro,

Às vezes não reconheço minhas teorias.
Noutras, encontro-me nas tuas, me intrometo.
Confundo nossos textos, acho que me plagias.
E já nem sei se meu ou teu este soneto.

Te amo como se amam seres abstratos:
anjos, demônios, musas, fadas.
E já nem sei se é minha ou tua esta fala.

Temo conferir nossos extratos,
nossos saldos, perdas, segredos.
Mas já não sei se é meu ou teu este medo.


Poema de Marilda Confortin, In: "Busca e Apreensão".



Como Comprar "Busca e Apreensão":

Editora Protexto http://www.protexto.com.br/livro.php?livro=317
ou solicite por email com a poeta: marildaconfortin@yahoo.com.br

Para ver Poetrix de Marilda Confortin: http://www.youtube.com/watch?v=0Y7EK1N9c-E&feature=related



Ilustrações: 1- foto de hipotéticos livros de poemas para presente; 2- capa do livro "Leoa ou Gazela, todo dia é dia dela"; 3- foto da poeta Flávia Perez; 4- capa do livro "Busca e Apreensão"; 5- foto da poeta Marilda Confortin.


Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.
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O que é Cultura?


Tenho pensado, debatido e estudado muito sobre essa pergunta aparentemente simples durante as aulas de Pós-Graduação e fora delas também. Como disse, a questão é apenas superficialmente simples, contudo, traz à tona muitas teorias e discussões.

No livro, “Ideologia e Cultura Moderna”, John B. Thompson explicita o origem da palavra cultura. Segundo o autor, o termo já serviu para designar diferentes definições. Uma dessas definições surgiu entre os séculos XVIII e XIX e associava a palavra cultura ao processo de assimilação de trabalhos acadêmicos ou artísticos. Ou seja, cultura estaria intrinsecamente ligada às Belas-Artes. Essa concepção clássica de cultura, como Thompson designa, apesar de muito antiga e evidentemente ultrapassada, ainda serve de parâmetro para grande parte da população.

Não é difícil constatar que essa concepção clássica ainda faz parte de nossa sociedade contemporânea. Ao abrir revistas ou cadernos culturais, percebemos o quanto a cultura é algo estandardizado, sempre associado às Artes. No entanto, perante a limitação dessa concepção e de outras tantas que posteriormente surgiram, Thompson propõe o que ele chama de concepção estrutural. Assim, ele pretende dar ênfase tanto ao caráter simbólico dos fenômenos culturais quanto ao fato deles estarem inseridos em contextos sociais. Dessa maneira, a produção e recepção de formas simbólicas (ações, manifestações verbais e objetos significativos, em virtude dos quais as pessoas comunicam-se entre si e partilham suas concepções e crenças) são processos que têm lugar dentro de contextos sociais estruturados.

Em outras palavras, cultura não deve ser visto como algo a parte, à margem das interações sociais. Dessa maneira, cultura vai muito além das páginas de cinema, exposições ou espetáculos dos grandes jornais, porque a cultura é viva e está sempre em processo de mutação.

E por que eu propus essa reflexão? Porque pretendo ampliar os debates da Coluna Drops Cultural. Não pretendo continuar limitando cultura da maneira como ela tem sido limitada em outras mídias. Quero dar vida e por em prática esse novo mundo que tenho descoberto. Mas, principalmente, porque quero compartilhá-lo com vocês.


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Referências Bibliográficas

THOMPSON, J.B. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes, 2009.  






Ana Paula Nunes é jornalista, Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo/USP. Editora assistente e Coordenadora de Comunicação da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades. Escreve aos domingos na ContemporARTES.
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