Algumas pinturas de caráter social feitas por Cândido Portinari




Gosto muito da Arte engajada socialmente e sempre busco conhecer novos artistas e obras que tenham esse caráter de engajamento. Por isso, o artista escolhido para a matéria de hoje é Cândido Portinari. Ele figura dentre os mais importantes artistas brasileiros, reconhecido nacional e internacionalmente devido à suas pinturas, que chegaram até mesmo a escandalizar a academia.

Portinari, que é no Brasil homenageado de várias maneiras, nasceu em uma cidade no interior de São Paulo, chamada Brodowski, no dia 29 de janeiro de 1903. Filho de imigrantes italianos que lidavam na cultura cafeeira, este artista não chegou a completar o Ensino Primário.

Ele adentrou no mundo artístico quando um grupo de artistas que trabalhava na restauração de igrejas, passa pela região de Brodowski e o recrutam como ajudante. Provavelmente, após descobrir sua vocação artística, Cândido Portinari, aos 15 anos, vai para o Rio de Janeiro matricular-se na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA).

Desde os 20 anos, ele já possuía obras que participavam de grandes exposições. Formado em um ambiente acadêmico, inicia a apreciar a Arte e os ideias difundidos pelo modernismo. Alguns atribuem o fato de a adesão a arte modernista ter, de alguma forma, contribuído para que ele não ganhasse a medalha de ouro no Salão da ENBA. Portinari somente foi agaloado com tal prêmio após ter pintado uma tela com elementos acadêmicos tradicionais. Juntamente com esse prêmio, o pintor ganhou a oportunidade de viajar à Europa.

Durante dois anos, o artista em questão viveu em Paris. Como esta cidade foi um dos principais irradiadores dos valores e ideais modernistas no mundo, nela Portinari travou contato com as vanguardas artísticas, com pinturas altamente vanguardistas como de Pablo Picasso, Van Dongen, entre outros. Em sua volta ao Brasil, Cândido Portinari, havia agregado novos conhecimentos às suas pinturas.

Em 1935 ele ganhou um prêmio em Nova Iorque, por sua obra “Café”. O que proporcionou a ele ser mais conhecido mundialmente. Ele recebeu muitas outras distinções altamente importantes, como Legião da Honra (1946) concedido pelo governo francês; medalha de Ouro (1950) pelo painel Tiradentes (1949), concedida pelo júri do Prêmio internacional da Paz, em Varsóvia, Polônia; medalha de Ouro (1955) como melhor pintor do ano, concedida pelo International Fine Arts Council em Nova Iorque; prêmio Guggenheim de Pintura (1956) na ocasião de inauguração dos painéis Guerra e Paz, na sede da ONU em Nova Iorque.

Gostaria de dar destaque, como assinalei no início desta matéria, a obra de Portinari comprometida com um engajamento social. Pois bem, após o início da Segunda Guerra Mundial, com a escalada do Nazi-facismo, com os horrores da guerra, o pintor brasileiro reforçou o caráter forte, trágico e social de sua obra, com a produção duas obras muito conhecidas e importantes: Retirantes e Meninos de Brodowski.

Destacarei, neste momento a obra Retirantes, pintada por Portinari em 1944, é uma tela 190 x 180 cm, está na coleção do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand. É uma das pinturas feitas por esse artista mais reconhecidas. E retrata, em um tom humanamente chocante, uma família de retirantes nordestinos.

Nela, observamos três crianças maiores, uma delas com a “barriga d’água”, um bebê esquelético, quase que somente uma sombra do ser, uma outra criança de colo, da qual só é possível perceber os ossos, quatro adultos altamente sofridos, com o rosto perdido em meio ao desespero e desilusão.

Sabemos que a tela em questão representa a árdua vida dos retirantes nordestinos, que em meio a seca, andam muitos quilômetros em busca de água, de um lugar decente e que possua condições mínimas de sobrevivência. Essas pessoas enfrentam as piores adversidades possíveis, como a fome, seca extrema, falta d’água, falta de remédios, de tratamentos de saúdes, contraem doenças devido a utilização de águas e alimentos impróprios para o consumo humano.

Outra pintura que muito me toca é Colheita de Milho, uma tela pintada em 1959, de medidas 65x81cm, que faz parte de uma coleção particular no Brasil. A imagem retratada é muito significativa, uma vez que pelo próprio título podemos inferir do que se trata: da colheita do milho.

Na pintura, são retratados três trabalhadores rurais, colhendo milho de maneira totalmente manual, enchendo balaios com o resultado da colheita e carregando-os nas costas. A ausência de máquinas agrícolas, aponta para o fato de serem trabalhadores pobres, como muitos brasileiros, que sobrevivem graças à agricultura.

Há muitas outras pinturas excepcionais produzidas por Cândido Portinari e que podem ser encontradas em sítios da internet. Há também algumas obras escritas sobre a vida e obra deste pintor que são importantes para aqueles que desejam conhecê-las à fundo. Por enquanto, indico a vocês leitores que acessem esse sítio, que possui algumas pinturas feitas por esse brasileiro e que possuem uma ótima visualização.

Outras fontes:

http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/biografi.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2ndido_Portinari

http://www.culturabrasil.org/portinari.htm

http://www.suapesquisa.com/biografias/portinari.htm

http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/revistaNossaAmerica/20/port/mestre.htm

http://www.brasilazul.com.br/dez-faces-de-tiradentes.asp

http://www.revista.agulha.nom.br/ag48portinari.htm

Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa.

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mais um são joão se foi... e lindo demais...


CANÇÃO: São João, Xangô menino (1970)
gilberto gil e caetano veloso
FOTOS: um São João bonito!!!
duda woyda (jun/11)

Ai, Xangô, Xangô menino
Da fogueira de São João
Quero ser sempre o menino, Xangô
Da fogueira de São João


Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão


Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João
Das matas de Oxóssi
Viva São João


Olha pro céu, meu amor
Veja como ele está lindo
Noite tão fria de junho, Xangô
Canto tanto canto lindo
Fogo, fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo,Xangô
Ai, São João, Xangô Menino


Viva São João
Viva Refazenda
Viva São João
Viva Dominguinhos
Viva São João
Viva qualquer coisa
Viva São João
Gal canta Caymmi
Viva São João
Pássaro proibido
Viva São João







DUDA WOYDA, ator, com experiências no Paraná e Rio de Janeiro, cidade com a qual mantem contatos profissionais. Integra a CIA Ateliê Voador e a CIA Teatro da Queda. Pesquisa questões relacionadas ao teatro físico e a sua relação entre dramaturgia corporal e teatralidade, priorizando a multidisciplinaridade. dudawoyda@yahoo.com.br
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"FOTOGRAFAÇO" e direitos autoriais



Dia 19 de junho, o jornalista e fotógrafo André Américo, que trabalha no jornal Metro ABC convocou um protesto, o "FOTOGRAFAÇO" contra a exigência de autorização prévia para fotografar nas ruas da vila de Paranapiacaba, em prol da fotografia e sua liberdade como meio de expressão.

Reportagem de capa do Metro ABC

O protesto foi amplamente difundido nas redes sociais Facebook, a Fototech e a Rede de Produtores Culturais de Fotografia no Brasil apoiaram a causa e, inclusive, a Rede Bandeirantes, a Rede Globo, a Folha/Uol, a entre outras estavam presentes no dia. Fotos do protesto podem ser vistas no site Foto Arena.


Logo do protesto Free Paranapiacaba


A resposta da prefeitura de Santo André, que foi publicada no site:

"Autorização de fotos e filmagens em Paranapiacaba

Por se tratar de um patrimônio histórico, tombado em nível nacional, estadual e municipal, a Vila de Paranapiacaba exige, conforme o artigo 73 da Lei 9.018/2007, que os interessados em realização de filmagens e fotos no local obtenham autorização prévia. Esta autorização é expedida pela Gerência de Projetos da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba. O prazo mínimo de solicitação é de uma semana.

No caso de as fotos e imagens terem destinação comercial, publicitário ou jornalístico é necessário ainda recolher uma taxa, a título de uso de imagem. Todos os recursos arrecadados com esta taxa são destinados ao Fundo de Gestão do Patrimônio Histórico de Paranapiacaba, sendo destinados exclusivamente para a manutenção e restauro de imóveis da Vila.

Para mais informações sobre a autorização, os interessados devem entrar em contato com a Gerência de Projetos através do telefone 11 4439-1315 ou do endereço eletrônico paranapiacabagp@santoandre.sp.gov.br.

Abaixo o conteúdo da lei 9.010/2007

Lei 9.018/ 2007

CAPÍTULO II

DO USO DA IMAGEM DA VILA DE PARANAPIACABA

Art. 73. As filmagens, fotografias e outras formas de exploração de imagem referente à paisagem cultural na área da Zona Especial de Interesse do Patrimônio de Paranapiacaba, para fins comerciais, publicitários ou jornalísticos,

serão permitidas mediante:

I - autorização emitida pela Prefeitura de Santo André, com assinatura do respectivo Termo de Compromisso;

II - doação de quatro exemplares do produto publicitário gerado, à Prefeitura de Santo André, nos quais deverão conter informações referentes à Vila de Paranapiacaba;

III - pagamento da respectiva taxa.

Parágrafo único. Para uso institucional, cultural ou artístico não será cobrada a taxa prevista no inciso III deste artigo"


Fonte: http://www2.santoandre.sp.gov.br/page/5621/49

O professor emérito da USP e escritor de muitos livros, José Martins de Souza, escreveu uma matéria denominada "Agora você pode escolher entre Paranapiacaba e Buenos Aires" e faz uma comparação com os tempos da Segunda Grande Guerra:


"Naquele tempo, estrangeiros da imigração, no Brasil há décadas, que eram milhões, tinham que ir à polícia e munir-se desse documento para qualquer viagem fora de seu município de residência. No caso de agora, se for fotografia publicitária ou para obtenção de vantagens econômicas, o interessado deverá pagar R$ 600,00 por dia de trabalho fotográfico/.../" Conforme orientações obtidas com pessoas do ramo, explicou que "/.../a lei de Santo André, sendo lei menor em face da lei federal, e as restrições que estabelece quanto à liberdade de representação visual de Paranapiacaba, é manifestamente ilegal/.../ Ao desestimular o próprio cerne da política de revitalização, com as restrições à fotografia, a Prefeitura de Santo André mata o principal aliado dessa política. Paranapiacaba só é interessante porque é um lugar fotografável. É seu único atrativo. Fotografia e turismo não podem ser separados em lugar nenhum do mundo. Seria como cobrar entrada para visitar Ouro Preto, Mariana, São Luís do Maranhão, Olinda."


Nós do grupo Neblina desde 2009 realizamos captações para compor o documentário "Transformação Sensível, neblina sobre trilhos" que se trata de um trabalho acadêmico, aprovado pelo MEC/Sesu, sem fins lucrativos, voltado para difundir a história dos ferroviários da Vila e nunca fomos abordados na Vila. Agora mais que nunca estamos preocupados com as autorizações.






Fotos da equipe Neblina na Vila de Paranapiacaba


Quando soube desta repressão, fiquei pasma de perceber o quanto esta medida iria prejudicar mais ainda a condição da vila como turística. Como por exemplo a munícipe Marli de Oliveira, mãe da Marina, disse que "Imagine você ir a um lugar tão bonito e diferente como Paranapiacaba e voltar sem nenhuma foto!?"



Foto acervo Neblina.

Este assunto é muito relevante e poderia ser melhor esclarecido de forma clara e didática, temos encontrado muitas dificuldades para entender como funcionam a questão dos direitos autorais. Em breve, estaremos entrando em contato para solicitar a autorização formal do material que já coletamos e manteremos os leitores informados do andamento.

Reitero que estamos em fase de edição e devido a estas e outras dificuldades encontradas, teremos ainda um árduo trabalho pela frente, mas, continuamos nos trilhos, sem descarrilhar! Com seriedade e dedicação, os obstáculos serão superados e, em breve, estaremos divulgando o documentário.



Soraia Oliveira Costa, graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Trabalha com imagens desde meados de 20

Soraia Oliveira Costa, graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Trabalha com imagens desde meados de 2007, quando começou a analisar questões do cenário urbano, da natureza, as transformações sensíveis, a ferrovia, a rodovia, o comportamento... Atualmente é pesquisadora e documentarista do projeto "Transformação sensível, neblina sobre trilhos", documentário aprovado pelo MEC/SESu e integrante do Coletivo Dialéticas Sensoriais, grupo que atua com várias linguagens artísticas.

documentário aprovado pelo MEC/SESu e integrante do Coletivo Dialéticas Sensoriais, grupo que atua com várias linguagens artísticas.
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A cura





Não importava o quanto havia demorado a chegar ali. Nem o quanto lhe doíam mais que antes cabeça, lombo e quadris. Muito menos as dores que se apossavam de suas pernas, panturrilhas e músculo posterior da coxa. A praia tinha fama de eliminar todas as dores. Logo, logo não sentiria nada.
Ao chegar, pouco antes da nona hora, lembrou-se que a maré subiria antes do por do sol, por isso abriu a vala, onde se pôs, e logo começou a cobrir-se como se necessitasse estar ainda com sangue quente. Com as pernas cobertas, acreditou que a dormência fosse já efeito milagroso. Tampou nariz com um prendedor de roupas, pôs dois canudos na boca, derreou-se ávido e cobriu o tórax ainda arfante. Puxou para a cabeça o montinho de areia previamente preparado; tentou deixar apenas os olhos de fora. E, como não sentisse mais as costas e a cabeça, deu-se por aliviado e enterrou braços e mãos.
Embora desejasse mover as pontas dos dedos, coçar um calo que perturbava há dias ou mesmo piscar os olhos, permaneceu estático para a cura ser completa. O corpo se integraria ao cosmos. As forças da natureza, numa ação metafísica, iriam reconstituí-lo da imperfeição e restituí-lo à perfeição. Ao sentir a maré, erguer-se-ia um novo homem.
As ondas subiram e desceram. Águas vieram e levaram a areia miraculosa. Os olhos desorbitados misturaram imagens e perderam-se de vez no mar. Já não sentia mais nada.

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POETAMIGOS IV

Nada como abrir a semana com mais uma preciosa edição do POETAMIGOS. Ou melhor, com criações das nossas queridas POETAMIGAS que muito bem sabem deslizar, flutuar pelos versos, com densidade de conteúdo e tamanho encantamento.
Confesso que quem me apresentou o termo POETAMIGO foi a própria Sarah quando certa vez trocamos alguns e-mails. Achei tão interessante que me apoderei da ideia dela (rsss), passando a denominar carinhosamente, aqui no Uni.verso, esse espaço dedicado à divulgação dos trabalhos de quem trilha o mesmo caminho que eu: o da poesia.
Aproveite mais essa safra de belíssimas produções.



PARA QUE?
Sarah de Oliveira Passarella (Campinas – SP)

Para que buscar ventos,
se as velas já estão rotas?
Para que buscar as estrelas,
se  meu céu há muito está embaçado?
Para que ancorar no caís,
se lá ninguém me espera?
Para que caminhar na areia,
se minhas pegadas serão apagadas pelas ondas?
Para que escrever mensagens em garrafas
se não sei se irão  lê-las?
Para que encontrar o rumo,
se o meu eu já não tem destino?
Para que sonhar, se os meus
sonhos  já não são os seus?
Para que querer viver,
se o grande amor já morreu?


PONTO FINAL
Jussára C. Godinho (Caxias do Sul – RS)

O fim do nosso caso
foi tão por acaso
aconteceu devagar
nem vimos chegar

O fim do nosso caso
foi como quebrar um vaso
que se esborracha, trinca, racha
sem a gente esperar

Os dois mudos, calados
os corações gelados
momentos nunca imaginados

E agora este é o fim
nós dois ficamos assim
eu sem ti e tu sem mim


HERANÇA PATERNA
Sônia Barros (Santa Bárbara d’Oeste – SP)
(do livro "mezzo voo", premiado pela Secretaria de Estado da Cultura e publicado em 2007)

Não nasci sem pai:
ele esperou até que eu nascesse.
                                  
Depois,
ao constatar o sexo frágil
de sua quarta frágil-filha-mulher,
ele, o homem forte,
se foi.

Como herança,
deixou-me esta aptidão
para voos interrompidos:
                                  
eterno fugir
de onde nunca estivemos.


Abraços literários e até +.


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