Entrevista com Vladimir Costa-Coordenador de Políticas Públicas de Juventude do Governo do Estado da Bahia.







Os jovens da Bahia estão mobilizados para a realização das Conferências de Juventude.As conferências ocorrem na seguinte ordem: municipais, territoriais, estadual e nacional. Participaram das etapas municipais 34000 jovens de 234 municípios do estado. A interface entre as políticas culturais e as culturas juvenis é um dos temas que estão sendo priorizados nos grupos de trabalho realizados nas etapas territoriais. Neste sentido, a entrevista realizada pela TV Jovem com Vladimir Costa -Coordenador de Políticas Públicas de Juventude do Governo do Estado da Bahia- é uma fonte importante para compreender este processo de diálogo entre o poder público e a sociedade civil.















Diogo Carvalho é Historiador pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Cultura e Sociedade também pela UFBA.
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V Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade - Aracajú/SE


CURRICULO GUEI E DIREITOS HUMANOS
Depois do V Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, que aconteceu entre os dias 21 e 23 de setembro de 2011, em Aracaju, algumas questões soaram importantes no debate sobre identidade e sexualidade nas escolas. Divido as ideias aqui com meu orientando de Mestrado, Josué Leite.
Diante desse cenário, do líquido mundo moderno, para pensar com Bauman, não é possível tratar das identidades sexuais e de gênero sem deixarmos de cruzar os fundamentos do Estado Democrático de Direito, expressos na garantia da soberania, da cidadania, da dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, no pluralismo político.
Também, não é possível abordar tais temáticas sem uma discussão acerca do papel e da função social da escola na sociedade contemporânea, afinal, como referenda Torres “uma das funções sociais da escola é preparar o cidadão para o exercício pleno da cidadania vivendo como profissional e cidadão”.
Além do mais, estamos assistindo nos dias contemporâneos a uma grande explosão das diferenças étnicas, sexuais, culturais, nacionais..., que põe a questão do resgate e da valorização da identidade. Cada vez mais nos indagamos juntos com Eduard Leal Cunha: “Quem sou eu?”
Entendemos a Identidade, pois, como “um projeto a ser realizado no tempo e sujeito a permanentes ajustes por conta do input de novas informações e da permanente transformação do ambiente, a qual por sua vez exige continuamente novas escolhas e constantes mudanças táticas”. As identidades sejam elas sexuais, de gênero, raça, etnia, etc. não são um produto acabado, senão um processo contínuo que nunca se completa, constituída socialmente, subjetivando-se em seu espaço e tempo. Os sujeitos são, portanto, fluídos e se inventam no transcurso de complexas histórias, fundadas no sistema de pertencimento. Cada identidade é perpassada por outras identidades, por outras histórias de vida, fazendo-se, assim, sujeito de múltiplas identidades.
Nesse sentido, autores como Silva (2000) e Louro (2001) também acenam para a compreensão de identidade enquanto constructo social. Silva (2000) ao abordar o tema, trata de identidades compreendendo-as como construções, efeitos, processos de produção, como relação, atos performativos, adjetiva-as como sendo instáveis, contraditórias, fragmentadas, inconstantes, inacabadas. Ainda diz que as identidades estão ligadas aos sistemas de representação e possuem estreitas conexões com relações de poder.
Segundo Guacira Louro, “as identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por relações sociais, elas são moldadas pelas redes de poder de uma sociedade”. Desse modo, compreendemos que a identidade sexual é construída ao longo da vida através da imagem física, de como a pessoa é tratada e como ela se sente, e em geral se manifesta em um comportamento social, chamado de papel sexual, mas que também inclui as relações sexuais. Ou ainda, que as identidades de gênero elas não são simplesmente herdadas ou reproduzidas pelas instituições, “se faz gênero” diariamente, através do sentimento de pertencimento nos diversos espaços pelos quais transitamos: na rua, no trabalho, na família, na escola, etc.
Frente às complexas interfaces socioculturais dos processos identitários sexuais e de gênero, acima citados, os paradigmas hegemônicos pautados na heteronomatividade mostram-se falhos e inadequados e fazem emergir inúmeras reivindicações de diferentes povos e culturas, cujo ideal de justiça deixa de significar somente a busca pela igualdade, mas, primordialmente, a busca pelo respeito à diferença, as identidades sexuais e de gênero e a diversidade sexual.
Educar para a cidadania requer a inclusão das questões sociais no currículo escolar, no processo de aprendizagem e nas práticas pedagógicas dos professores, assim como, o exercício da cidadania nos vários âmbitos escolar. Para o exercício da cidadania, se faz necessária à compreensão e o respeito aos direitos humanos. Só é de fato cidadão, o indivíduo que conhece os seus direitos, usufrui dos mesmos e em contrapartida, respeita os deveres advindos destes direitos.
Nesse contexto, a educação para a diversidade sexual e sexualidade toma um papel fundamental na construção de ações e posturas afirmativas identitárias. A escola, como afirma Louro (2003) tem se tornado um dos aparelhos mais eficientes no controle da sexualidade. Ainda hoje, após o avanço de estudos e discussões acerca da existência de várias formas de vivenciar o gênero e a sexualidade, os profissionais em educação norteiam suas ações com base em um padrão, considerando “normal” e “sadio” – a heterossexualidade- negando as demais identidades sexuais.
Compreender a sexualidade sob a égide da eqüidade torna-se, diante do contexto apresentado, uma alternativa favorável de promoção da pessoa humana quanto “o vir a ser”, isto é, a constituição de ações afirmativas da auto-aceitação e auto-realização do sujeito, sobretudo, nas identidades sexuais e de gênero.
Por fim acreditamos que, ao relacionar identidades sexuais e de gênero, Direitos Humanos, Cidadania e a Educação, trilhamos por uma concepção de educação e escola libertadora, promotora de ações afirmativas identitárias em conformidade com os direitos da pessoa. Como afirma Freire (2000), necessitamos de uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política, sem esquecer de que não há educação fora das sociedades humanas, como também não há o homem/mulher no vazio.

Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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ROSTOS DA JUVENTUDE PERDIDA



"Para Simmel - este pintor do social para quem a sociologia era de resto, uma forma de arte [...] as observações fugazes da realidade constituem a essência de sua sociologia [...]. Neste deslizar do olhar pelo social - nos seus aspectos mais particulares, acidentais e superficiais - o fotografar é um processo de capturar o fugaz que o olhar vagabundo do fotógrafo (ou sociólogo) possibilita". (PAIS, José Machado:1993)

É impossível não evocar a imagem da Estátua da Liberdade à entrada do porto de Nova York acolhendo os imigrantes que deixaram os seus lares distantes à procura de uma vida melhor no Novo Mundo. Vinham de todas as idades, muitos chegavam ainda crianças no colo dos seus pais, olhando à volta para o ambiente estranho e fantástico da grande cidade. Desde logo começavam a trabalhar e a procurar, no fundo, a sua oportunidade na terra de todas as oportunidades, the american dream...

Mais por necessidade do que por ambição, desde tenra idade os futuros americanos davam à nação o seu esforço e a sua juventude numa época em que as crianças eram considerados adultos pequenos e em que possuir um emprego era privilégio. A América cresceu tanto à custa dos imigrantes como das suas crianças, adultos à força que não tiveram tempo de brincar.

É só lembrar das imagens realistas dos meninos de "Era uma vez na América", de Sergio Leone, das atribulações dos recém-chegados retratadas com ironia em "Os imigrantes", de Charles Chaplin, para falarmos apenas em termos de cinema; mas lembremo-nos também das fotografias de Alfred Stieglitz ou de Dorothea Lange, dois nomes consagrados. Menos conhecido foi Lewis Hine que dedicou grande parte da sua atividade de fotógrafo documentando cenas de trabalho infantil nos EUA.

Entre 1908 e 1912 Hine registou com a sua câmara aquilo que chamou de rostos da juventude perdida: crianças de todas as idades, algumas de apenas cinco anos, trabalhando como adultos. E não se julgue que eram trabalhos leves, pelo contrário. Encontramos meninos e meninas nas fábricas, no comércio, na pesca, nas minas, desde o amanhecer até noite alta, por vezes mais de doze horas...

O fotógrafo conheceu a todos: Michael, Manuel, Camille, Pierce. Conheceu as histórias de cada um. Posaram para ele, às vezes com o orgulho ingênuo de quem se julga gente grande, embora nos seus olhos estivesse toda a tristeza do mundo. As imagens são lancinantes, não se consegue fixá-las sem uma ponta de comoção.

Algumas destas crianças não passaram da sua meninice. Outras sobreviveram, cresceram e prosperaram, mergulhando fundo na embriaguez do grande sonho americano.

Fonte: Obvius















Lewis Wickes Hine (1874-1940), estudou Sociologia em Chicago e Nova York antes de trabalhar  na Escola de Cultura Ética (Ethical Culture School). Comprou sua primeira câmera em 1903 e aplicou a fotografia ao seu ensino estabelecendo o que ficou conhecido como fotografia documental. Em 1908, continuou suas pesquisas de campo com fotografias de trabalhadores metalúrgicos de Pittsburg.
Ele passou grande parte da sua vida registrando cenas que para a sociedade atual seriam inaceitáveis. O contexto daquela época (anos 1910, 20) carregava consigo uma série de injustiças, especialmente no que dizia respeito aos imigrantes e às crianças. Trabalhavam em condições terríveis e não eram bem remunerados, como se sabe.

Em 1908 o Comitê Nacional do Trabalho Infantil contratou Hine como seu detetive e fotógrafo, onde trabalhou por oito anos. Isso resultou em dois livros no assunto, "Child Labour in the Carolinas"  e "Day Laborers Before Their Time". Em 1909, publicou o primeiro artigo sobre crianças trabalhando em situação de risco.

Lewis Hine usava alguns artifícios para entrar nas fábricas de forma sutil. Para poder fotografar, inventava uma desculpa para entrevistar as crianças. Escondia em um dos bolsos a câmera e fingia tomar notas com um bloquinho. Muitas vezes se passava por um inspetor de incêndios. Assim, capturava fotos reveladoras sobre o verdadeiro funcionamento das fábricas dispostas por todo o território dos Estados Unidos.
Os dados estatísticos obtidos e as exposições fotográficas foram usados como armas para sensibilizar a opinião pública norte-americana, até que em 1916 o Congresso aprovou uma legislação de proteção à criança.

Pelo que se pode perceber em seu trabalho, não havia nenhum tipo de manipulação, até porque essa era uma de suas crenças, e também uma regra. Para ele, a imagem só tinha credibilidade quando não havia sequer um tipo de manipulação seja na cor, no contraste, ou o que fosse. Ao referir-se às suas fotografia usava a palavra "crua", que é auto-explicativa.
Lewis Hine usou sempre a fotografia como forma de denúncia social, mostrando as injustiças e as mazelas da sua época, pelas quais se sensibilizava.



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Izabel Liviski é Professora e Fotógrafa, doutora em Sociologia pela UFPR.  Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual.  Escreve desde 2009 a Coluna INcontros na Revista ContemporArtes.
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Chamada de Trabalhos I Seminário Nacional Laboratório de Estudos e Pesquisas da Contemporaneidade





Estão abertas as inscrições de trabalhos para o I Seminário Nacional LEPCON. O evento acontecerá nos dias 17 e 18 de novembro de 2011 no Instituto de Ciências Humanas da UFJF e terá como tema Minorias e suas Representações.Os interessados em apresentar comunicação no evento têm até o dia 30 de outubro para enviar o resumo com a proposta. Para maiores informações e conferir a programação completa, acessem:http://lepcon.blogspot.com








Não perca nessa 5a.-feira, o 9o encontro do Café com PP com violão, Poesia e palestra sobre a Centralidade em São Paulo:




Ana Maria Dietrich é historiadora, professora da Universidade Federal do ABC e coordenadora da Contemporartes-revista de Difusão Cultural junto a Rodrigo Machado.
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Descansar jamais




"... devemos ouvir com toda atenção a voz que vem de dentro, e esforçar-nos por atravessar as sombras das palavras até nos acercarmos de sua fonte: 'Ali o Verbo se fez carne e habitou entre nós'; e a fonte interna logo se liberta das palavras, de maneira ora violenta, ora febril, dentro das quais vive como que um encanto: 'Aconteceu comigo segundo o Verbo'" (Oskar Kokoschka, "Da natureza das visões", 1912)


É uma tarefa complicada comentar "Trabalhar cansa", dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, a entrar nos cinemas brasileiros em 30 de setembro, sem revelar muito sobre o mesmo. Após sua projeção, a primeira coisa que veio à mente era sua possível relação com a pintura do chamado "expressionismo". Um dos maiores expoentes desta vanguarda artística no campo da pintura é Oskar Kokoschka, austríaco e citado logo acima. Trata-se de um momento em que os artistas buscavam pintar não como homem "civilizados" e permeados pela eletricidade, pelas megalópoles e pelo cada vez mais crescente deslocamento; havia um esforço pela "expressão" tal qual um homem que se iniciava na criação de imagens, de modo, entre largas aspas, primitivo. Deveria-se deixar de lado os preceitos do ensino acadêmico das belas-artes e basear suas pesquisas artísticas na distorção de cores e formas. Não se trata aqui de imitar, mas sim de captar, espiritualmente às vezes, a sensação de isolamento e solidão do mundo então contemporâneo. Menos Michelangelo e mais Lascaux; do domínio do desenho para a espacialização da cor.

"Trabalhar cansa", portanto, versa também sobre esta problemática relação entre o ser humano, a disciplina e seu entorno; é possível controlar tudo à nossa volta? Quais os limites do controle, da vigilância e da punição? Estes tópicos já apareciam, de certo mundo, no curta-metragem também dirigido pelos dois diretores, "Um ramo", de 2007, que tinha a mesma atriz, Helena Albergaria, no papel central. Tratava-se de uma mulher que se deparava com o nascimento de uma planta em seu corpo. No longa-metragem, por outro lado, o corpo é o espaço de um supermercado, um dia desativado e cada vez mais decorado e habitado durante o filme. No mesmo dia em que a personagem de Helena encontra um supermercado para alugar, seu marido é demitido de seu costumeiro emprego. Uma relação tal qual de uma balança é estabelecida e, no meio disso, a figura de sua pequena filha e a necessidade de se contratar uma "segunda mãe", uma empregada para a sua casa.

Pequenas alegorias são criadas e a tensão dada pela curiosidade acerca dos fatos estranhos que se sucedem dentro do estabelecimento comercial vai sendo pontuada de pouco a pouco. Para não explicitar em demasia a obra, cabe dar como exemplo o momento em que o dente da filha da protagonista cai e esta, sem sabê-lo, se depara com um tecido manchado de sangue em sua cozinha. A reação de indignação é imediata e, do mesmo modo, rapidamente dissipada quando sua nova funcionária do lar mostra esta parte agora fragmentada do corpo de sua filha. 

Essas construções de imagens, que podem ser interpretadas, metaforicamente, como constatações da perda do controle sobre o humano e a natureza, perpassam o longa-metragem de modo imanente - "vida que segue". Nem mesmo o tão aguardado e apoteótico desenrolar narrativo, em que alguns fatos misteriosos que se passam no supermercado são explicados/amarrados (não de modo literal, mas através de vestígios) concede uma idéia de término à ficção. Há sempre um momento seguinte, de aparente calmaria e respiração, em que os personagens continuam com suas medíocres existências.

Estas vidas, inevitavelmente, seguem aprisionadas de modo silencioso. Documentos, preços de produtos, dinâmicas em grupo para a busca de um novo emprego. Trabalhar cansa, viver cansa, lidar com as alteridades de outros humanos, sejam eles familiares, amigos ou funcionários cansa. Por outro lado, a vontade de domínio sobre o próximo, nas mais diversas concepções do termo que o filme pode sugerir através de suas imagens, não descansará jamais.



Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (realizada na Caixa Cultural de Brasília e São Paulo, 2011), o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, a Mostra do Filme Livre e o Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora.  Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Realizador de curtas-metragens como "Boiúna" (2004), "A respiração" (2006) e "Preguiça" (2009).
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Despedida da coluna "Poesia Comovida".

Contínua e nua, a Poesia continua!
por Altair de Oliveira


É com uma certa nostalgia que noticiamos, aqui, hoje a interrupção de minha participação como colaborador aqui na coluna de poesia das segundas-feiras da revista Contemporartes nesta coluna "Poesia Comovida". Motivos de ordem particular me impedem no momento de prosseguir esta prazeirosa tarefa. Por isto faremos uma breve despedida e esperamos poder nos encontrar em outras boas ocasiões, sempre que a poesia se fizer presente!

A coluna de poesia das segunda-feiras, entretanto, continuará sendo editada normalmente na revista, por alguém, ainda indefinido, que está sendo buscado pela nossa editora Ana Maria Dietrich. Esperamos e desejamos que o novo colunista possa reabastecer sempre o inícios de nossas semanas com um bom trago de poesia. O nome da coluna "Poesia Comovida", poderá ou não ser mantido pelo novo condutor desta coluna, que continuará fazendo parceria com a coluna "Uni.Versos" do poeta Geraldo Trombin.

Com a proposta de trazer "uma amostra significativa da poesia que está sendo feita hoje no Brasil", durante mais de um ano tentamos trazer a vocês um pouco de poesia para temperar as segundas-feiras. Um pouco da poesia contemporânea e que, em nossa opinião, tem um comprometimento com a vida e tem, como arte, o poder de tocar as pessoas; independentemente se esta poesia nasceu no banco de uma faculdade de letras ou num banco de praça. Esperamos ter sido comprendidos assim e agradecemos imensamente a participação e a presença de nossos leitores. Esta experiência, sinceramente, trouxe-nos um grande aprendizado e espero que o mesmo possa ter ocorrido também com vocês!

Sabemos que trabalhar com poesia não é, como pode parecer aos incautos, uma tarefa simples. Na verdade é algo quase quixotesco, visto que a grande maioria das pessoas considera a poesia desnecessária em suas vidas, e que um poeta normalmente só passa a ser considerado importante após a sua morte. Mesmo assim há milhares de pessoas trabalhando para manter esta poesia imortal e disponível àqueles que não abrem mão de viver com poesia. Acreditem, somos disto testemunhas.

Escrever sobre poesia e sobre poetas, ainda que o redator seja um poeta, também não é um trabalho fácil! Observe o que disse Mário Quintana: "Bem que eu gostaria de entender tanto de poesia como certos críticos, mas aí, então, não conseguiria fazer um único verso." Por isso gostaríamos também de pedir desculpas a vocês pelos tantos equívocos e omissões que possamos aqui ter cometido. Por exemplo, tantos bons poemas e poetas que não pudemos ainda trazer aqui! "Um poeta é apenas uma pessoa comum que tenta escrever poesia", poderíamos dizer: temos feito isto quase que toda a vida. Obrigado.



***



O que Quintana Disse mais sobre Poesia:



- "O verdadeiro poeta faz poesia com as coisas mais simples e corriqueiras deste e de outros mundos."

- "Um belo poema é aquele que nos dá a impressão que está lendo a gente... E não a gente a ele!"

- "Não é o leitor que descobre o poeta, mas o poeta que descobre o leitor e o revela a si mesmo."

- "Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras."

- "É preciso escrever um poema várias vezes para que dê a impressão de que foi escrito pela primeira vez."


Falas de Mário Quintana, in: "Para Viver Com Poesia", ed. Globo - 2007.



***


Poemas de Altair de Oliveira:



AO FIO DA MEADA

Queremos do mesmo sonho e não sabemos
buscar urgentes e unidos o mesmo prêmio
Que ponha fim ao cansaço que escadeira
e esclareça o real, tão obsceno!!!
O que castre o poder daqueles que atrofiam
e que desintegre as idéias que aprisionam
e que ponha à procura os que esperam...
Mas que faça encontrar os que procuram.
E que traga a colheita aos que cultivam
para que tudo entre todos se reparta
até que nas mesas fartas falte a fome...
e a vontade de rir assalte as caras.


Altair de Oliveira – In: “Curtaversagem ou Vice-versos”, ed. do autor - 1988.


***


DISTÂNCIAS


Pudesse, eu seria doce
e, se desse, desde o começo
de sede, eu viesse cedo
relendo o seu endereço.

E fosse avesso do avesso,
azul do tanto que houvesse
ousasse um gesto de gesso
num beijo gosto de festa.

e nunca mais me esquecesse
feliz em todas as espécies...
Por mais que a vida nos perca
e a morte esperta nos pesque.


Altair de Oliveira – In: "O Embebedário Diverso", ed. do autor - 1996.



***

AVE-PALAVRA
"Poesia é quando a palavra começa a mostrar as calcinhas!"

A palavra quase falava
Furtava cores da vida...
Se lida, sinalizava
Asas que usava escondida
Se escrita se descompunha
E se punha toda ostensiva
Flertando desinibida,
Expondo vários sentidos
Somente para despertar
A voz que quer ser servida
E voar na vez de ser vida
Rindo e mostrando as vergonhas
Vibrando em festa no ouvido!!!


Altair de Oliveira - In- "O Lento Alento", ed. do autor - 2008.


***


FLERTE


Às vezes sinto que flagras
a festa que me promoves
quando teus olhos se movem
e, de repente, me afagam...
Se o teu perfume me traga
a minha boca te chove...
A minha alma se vende
ao fogo que me comove
e acende de onde estiver!
...
- O meu corpo todo te quer,
muher que muito me ascende!!!



Altair de Oliveira - In: "As Provisões Provisórias" ou "Fala Falha" - inédito.


***

Para ler mais:

- Visite o blog de poemas do Altair de Oliveira:http://poetaaltairdeoliveira.blogspot.com/
- Matéria sobre o poeta: http://simultaneidades.blogspot.com/2009/09/em-destaque-altair-de-oliveira.html
- Entrevista com o poeta: http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/2011/05/altair-de-oliveira-entrevista-n-318.html

***


Ilustrações: 1- foto do poeta Altair de Oliveira; 2- foto do poeta Mário Quintana; 3- foto da capa do livro "Para Viver com Poesia", de Quintana; 4- "Moça na Janela", da pintora mineira Solange Guarda.


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Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.
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Ficção e realidade: a arte como representação da vida



“A boa ficção tem mais peso do que a modesta realidade”. A frase dita por Maria Luíza de Queiroz (1998), irmã da escritora Rachel de Queiroz, mostra-se muito significativa para a literatura, pois nos faz refletir sobre a linha divisória entre a realidade e a arte.

Seria possível separar, absolutamente, dois elementos tão entrelaçados, tão dependentes um do outro? Seria possível conceber a arte sem que houvesse experiências reais, concretas? Ou melhor, haveria a possibilidade de entender a origem do processo de criação literária, sem considerar a própria realidade?

Se considerarmos o fato de que a literatura possui a inconfundível função de exprimir condições de alegria, de indignação, certezas e dúvidas do homem diante do mundo e da realidade que o cerca, veremos que as experiências reais se confundem e se misturam, num processo de criação e descoberta da própria vida. É assim em Eça de Queiroz, com seus personagens (ainda que fictícios) constituídos de tantos caracteres reais, como as ambições, o desejo, a vulnerabilidade, a vingança; assim como é também recorrente em Jorge Amado, Erico Veríssimo e tantos outros escritores que, consagrados ou não (apoiados ou não), souberam utilizar elementos das mazelas sociais, para transformá-los em matéria de conhecimento, em objeto de valor (ou não), dependendo dos olhos de quem lê.

A relação entre a linguagem e o mundo, ora dura, ríspida, concreta, ora suave, sensível, fluída, mostra-nos o quanto é pequena a distância que separa as coisas, da própria palavra. E a literatura, enquanto representação do real, fornece ao leitor não um retrato fiel e idêntico daquilo que lhe é corriqueiro, mas a possibilidade de, a partir do comum, transformar-se em múltiplos significados.

Deveríamos, então, enquanto leitores que somos, degustar a literatura para entendermos a vida? Ou a própria vida é inspirada e baseada na arte?  É exatamente nesse jogo de avanços e recuos que a literatura se manifesta, em sua forma às vezes transcendente, às vezes radical. E digo radical, porque nem sempre a literatura vem para confirmar o conhecido; ela permite também, o confronto, o desajuste com aquilo que nos é naturalmente compartilhado.

Ao mesmo tempo em que cola o homem às coisas, diminuindo o espaço entre o nome e o objeto nomeado, a literatura dá a medida do artificial e do provisório da relação. Sugere o arbitrário da significação, a fragilidade da aliança e, no limite, a irredutibilidade de cada ser. É, pois, esta linguagem instauradora de realidades e fundante de sentidos a linguagem de que se tece a literatura (LAJOLO, 1985, p.37).


E, talvez, a frase iniciada por Maria Luíza de Queiroz (1998), seja mesmo muito significativa, porque remete ao verdadeiro caráter do objeto literário: o de considerar que aquilo que é vivido, costumeiramente, pode adquirir outros significados, e outras proporções de valores; tudo depende das experiências e das expectativas de quem lê. Se a vida imita a arte, não se sabe. O que se pode dizer é que, definitivamente, a arte se inspira na vida; não transmite nada, cria; não diz nada, sugere. E assim, o mundo da literatura, como o da própria linguagem, é o mundo da possibilidade.


Referência Bibliográfica

Blog Literatura em mente. Acesso em 11 de julho de 2011. Disponível em: http://literaturaemmente.blogspot.com/2010/04/literatura-nos-torna-mais-compreensivos.html.

LAJOLO, Marisa. O que é Literatura. Editora Brasiliense, 6ª edição. São Paulo-SP, 1985.

Revista CULT. Acesso em 11 de julho de 2011. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/07/premio-sesc-de-literatura.

ZELMAR. Literatura Brasileira no século 21. Acesso em 11 de julho de 2011, disponível em: http://zelmar.blogspot.com/2010/04/literatura-brasileira-no-seculo-21.html







Thaís Fernanda da Silva é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa. Estuda feminismo e questões de gênero na Literatura.
E-mail: thaisfsilva@ymail.com




A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

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