quarta-feira, 26 de agosto de 2009

20 anos sem Raul

DA MALUQUEZ A LUCIDEZ

Coluna Francisco Oliveira
O começo do Raul compositor-Quando se fala em Raul Seixas, a primeira imagem que vem a cabeça de todo mundo é a do “maluco” de barba, que parecia mais um profeta do que um cantor. O que pouca gente sabe ou se lembra é que Raul foi um artista multifacetado, que falou de muitos temas em suas canções, desde amor à política; em um caldeirão de ritmos que ia do rock ao baião.
Porém, o Raul compositor só começou a se destacar em 1970, então produtor de discos da antiga CBS. O próprio Raul dizia que antes disso não tinha idéia de como compor algo comercial e acessível ás massas, chegando até a escrever músicas sobre agnosticismo ao lado de sua banda na época: Os Panteras.
Entre 1970 e 1972 “Raulzito” (apelido com o qual assinava suas primeiras composições) escreveu 51 músicas, algumas delas fizeram bastante sucesso, como “Doce Doce Amor” – gravada por Jerry Adriani e “Ainda Queima a Esperança” - gravada por Diana.
Essa experiência como produtor e compositor “brega” ensinou Raul a escrever músicas de forma mais simples, visando a rápida comunicação com o público. Tanto que, anos mais tarde, ensinou a Paulo Coelho os macetes de composição, como foi o caso da letra de “Al Capone”, escrita inicialmente como um tratado poético, mas que ganhou uma linguagem bastante coloquial: “Ei Al Capone,vê se te emenda/Já sabem do teu furo, nego,no imposto de renda”.
A simplicidade das letras de Raul foi, aos poucos, se juntando com sua formação em filosofia. A letra “Sentado no Arco Íris”, escrita em 1971 para Leno Azevedo (o mesmo da dupla Leno e Lilian) foi a primeira onde essa mistura apareceu, junto com o agnosticismo do passado: “Fico em vão sem saber/ Fico em vão a buscar/Aonde Deus está”.
Depois, vieram muitas outras canções com essa caracteristica, verdadeiras pérolas da carreia de Raul; como “Ouro de Tolo”, “A Maçã”,” Cowboy Fora da Lei”e “Trem das Sete”. Em comum, trazem questionamentos aos costumes sociais da época, como a política e o casamento e outras traziam a expectativa de uma nova sociedade.
Raul e a Censura – Raul pode ter sido um dos artistas que mais teve problema com a censura. Segundo o próprio, 11 canções de sua autoria foram vetadas antes de serem gravadas. Porém, algumas delas foram relançadas com outra letra, como o caso de “Check Up” e “Gospel”.Na primeira, Raul simplesmente trocou pedaços da letra que se referiam a remédios e conseguiu a aprovação. O caso de “Gospel” é interessante: ela foi composta originalmente para fazer parte da trilha sonora da novela O Rebú (1974). Porém o regime vetou(provavelmente pelo verso “por que tanta honestidade no espaço se perdeu?”) . Raul refez a letra , mudou o titulo para “Porque” e a canção acabou sendo interpretada por Elza Soares. Recementemente, o produtor Marco Mazzola resgatou a canção original e deu nova roupagem.
“Gospel” e plágios – A canção “Gospel” foi trazida á público com sua letra original e nova roupagem pelo telejornal dominical “Fantástico” , marcando os vinte anos de falecimento de Raul Seixas. Todavia, os arranjos dessa canção foram inspirados em uma canção de Elvis Presley chamada “Working On The Building”, de 1966 – do álbum “His Hand In Mine”.
Outra canção de Elvis que inspirou Raul Seixas foi “I Was Born Ten Thousand Years Ago”, que originou a clássica “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”. Nesse caso, a única cópia foi na letra que, por sua vez, era de dominio público (sem autor conhecido). Veja abaixo a comparação:
ELVIS: “Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba”/Eu estava lá quando Moises construiu a Arca”
RAUL: “Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais./ Eu vi a arca de Noé cruzar os mares”.
Pra encerrar esse item, uma pergunta: será que o plágio em “Gospel” foi mesmo de Raul Seixas? Ou foi de Marco Mazzola, que refez grande parte da canção?
Vasta obra – A discografia de Raul inicia-se em 1973 e vai até 1989. Por isso mesmo é difícil classificá-lo em algum gênero especifico. Sendo assim, fica o convite para que as pessoas conheçam mais desse cantor e compositor baiano que foi mais que o “maluco beleza”.
Encerro minha coluna deixando um agradecimento à Maria Nívea Cerqueira Cesar Pereira Martins, que conviveu com Raul nos anos 80 e ajudou muito com informações respeito dele.

Um forte abraço a todos.
Até a próxima!

Confiram abaixo alguns vídeos que serviram de base pra essa pesquisa:

Um dos maiores sucessos de Raul Seixas foi inspirado em Elvis Presley:
http://www.youtube.com/watch?v=GhtIGvM1BDA&feature=related

Working on the building: http://www.youtube.com/watch?v=ek3_HGt0uGw

Fantástico: Ouça a música "Gospel", a canção inédita de Raul Seixas na integra:
http://www.youtube.com/watch?v=T39euRB1ssM&feature=related

Raul Seixas - Gospel (Reportagem completa Fantástico) 16-08-2009:
http://www.youtube.com/watch?v=R_rW-giSTbA

Fonte Impressa:
Revista Rolling Stone, Nº35, Agosto de 2009.


Francisco Oliveira escreve quinzenalmente ás Quartas-Feiras no ContemporARTES

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns, Excelente matéria do Raulzito!!!

26 de agosto de 2009 às 17:29
Isabel disse...

Excelente timing para uma coluna sobre Raul Seixas... Parabéns, está muito bem escrita!!!
Bjs

26 de agosto de 2009 às 23:21
Ana Dietrich disse...

Muito bom, francisco, muito informativa e elucidativa. Continue assim, o fãs de raul agradecem!

abraços

27 de agosto de 2009 às 11:47
Nízea Coelho disse...

Parabéns Francisco!

Olhar as coisas por outro ângulo é sempre mais interessante.

27 de agosto de 2009 às 16:03

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