quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eu queria voltar a viver!

Coluna Stage Dive


O grito desesperado de Sandro, vocalista do grupo capixaba Mukeka di Rato, na música Voltar a Viver, presente no álbum Carne, foi o que me veio à cabeça na madrugada de segunda-feira (14/09), que por coincidência foi meu aniversário. Estava chegando em meu bairro na avenida principal (Estrada de Itapecerica, SP) quando presenciei uma cena de horror: dois homens espancando uma pessoa com pedaços de madeira em plena avenida. E no ponto de ônibus e numa barraca de pastel cerca de 12 pessoas assistiam de camarote, como em um episódio do seriado de TV Roma da HBO, em que Lúcio Voreno salva seu amigo Tito Pullo da morte, numa arena em que se lutam contra diversos matadores que utilizam espadas, machados e outras armas. O respeitável público romano se delicia com o sangue jorrado. Já as 12 pessoas se comportaram de forma apática, até porque quem é que vai se intrometer numa situação dessa?


Nessas horas surge o medo de mexer com gente errada, como diz a letra de Cidade Alerta do R.H.D. "Não quero me envolver com gente incorreta, não quero minha história no Cidade Alerta(programa sensacionalista de TV)".
Eu fiquei tão chocado que desci rapidamente para a minha casa enquanto ouvia a sirene da polícia. Ao chegar em casa, assustado, comecei a pensar num bocado de coisas. Enquanto muitos falaram que esse seria o século da paz parece que é o contrário. A cada dia temos menos liberdade, ficamos mais desconfiados, temos mais medo. Também não é pra menos.


Vivemos numa sociedade insana, consumista e individualista, onde diferença gera intolerância; ignorância gera homicídio. Crimes, insegurança, corrupção se tornaram coisas normais e corriqueiras. Faltam cultura e educação para as pessoas. Isso contrasta com o progresso e os avanços tecnológicos. Começo a acreditar que as pessoas, preocupadas com dinheiro e status estão regredindo intelectualmente, daqui a pouco todos terão o cérebro do Hommer Simpson( série de desenho na TV). Cresce a insegurança, o medo de morrer na próxima esquina. A vida está se tornando um tormento, por mais que as pessoas se escondam nas grades do condomínio, elas não estão seguras (inclusive parece que a moda agora é assaltar condomínios). Talvez o problema seja o fato de que o crime se qualificou.
É galera ... a coisa tá complicada. Semana passada, assisti uma notícia que não sabia se dava risada ou se tinha outra atitude: um bandido que possuía um verdadeiro arsenal (ele tinha sub-metralhadoras, fuzis) foi rejeitado por uma quadrilha porque no seu curriculum não apresentava grandes crimes. A violência faz cada vez mais vítimas, estamos acostumados com os noticiários, mas ninguém faz nada, nem ao menos demonstra sua indignação. Nem ao menos uma manifestação pacífica, uma passeata, ou qualquer outro evento pela paz. Ninguém participa. Em contrapartida, nesses últimos meses, vi nos jornais protestos de moradores que queimaram ônibus da SPTrans pelas mortes de traficantes. Não consigo ver solução para essas coisas, mas precisamos ter esperança e procurar sempre contestar, nunca fechar os olhos e se conformar. Os capixabas do Mukeka di Rato não se conformam e como sempre, suas músicas cruas descrevem o que está acontecendo e o que eles pensam a respeito. Eu curto demais essa banda, vale muito a pena ir ao show dos caras e comprar ou baixar um play deles, dentre os álbuns destaco o Gaiola (2004) e o Carne, mas os demais (Pasqualim na Terra do Xupa-Cabra, Acabar com Você e o Máquina de Fazer) também são bons.O som do MDR se diferencia das demais bandas de hardcore nacional, talvez, devido às influências das bandas finlandesas de hardcore como Kaaos, Crude SS, Riitetyt , são definidos pela galera da cena como um hardcore simples, cru, tosco e rápido. Então, galera, fico por aqui e vamos tomar cuidado para que a violência não faça mais vítimas.



Voltar a Viver

Eu queria voltar a viver



Eu queria fugir dessa jaula


Eu queria acabar com esse transe


Eu queria serrar essas grades
Eu queria não ter um blindado



Eu queria não ter esse medo


Eu queria sonhar sem segredo


Eu queria voltar a viver
Se portas não travassem com a presença de um simples metal



Se portas não travassem com o negro da minha cor


Se portas se abrissem,se eu tivesse mais liberdade


Quem sabe eu voltaria a viver


com os seres humanos



Existiu, está escrito nos livros


Mas talvez seja ficção


Que um dia a espécie humana


Caminhou sobre duas patas


E criou artifícios imundos


Que matou semelhantes por nada


Que espalhou o ódio na Terra


Que espalhou o medo da vida



Já passou onze horas da noite em uma rua escura?


Já parou o seu carro sozinho num lugar deserto?


Já estendeu a mão a uma pessoa estranha?


Cuidado, meu amigo, você pode se machucar
Eu queria voltar a viver...



Mas com esse tipo de gente


É difícil de sobreviver





Dicas Stage Dive


Visite o o myspace da banda


http://www.myspace.com/mukekadirato





Dennys Felipe Nascimento de Oliveira escreve quinzenalmente às quintas-feiras no blog ContemporARTES
dennys_bangerkill@hotmail.com

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei do texto pq envolve de uma maneira bem direta música e violência na sociedade contemporânea. Parabéns! ana

24 de setembro de 2009 às 00:29
Laritz disse...

Já favoritei o blog e me tornei seguidora! Beijos!

24 de setembro de 2009 às 17:31
Ana Lúcia disse...

Dennys vc naum escreve... as palavras fogem naturalmente... maravilhoso!!! cada vez que venho aqui fico mais impressionada! vc esta de parabens mesmo viu, espero que vc continue escrevendo dessa maneira maravilhosa que me faz viajar toda vez que venho aqui!!! e parabens pelo aniversario!!!
[Analú]

2 de outubro de 2009 às 00:16

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