Revivendo Josué: Um debate sobre a fome
Coluna Francisco Oliveira
Josué Apolônio de Castro nasceu no Recife em 1908 e se formou em medicina na Universidade do Brasil em 1929. Seu interesse pelo estudo da fome começou bem cedo, aos 24 anos, após entrar em contato com a realidade da maioria de seus pacientes. Nessa época, ele lança sua primeira publicação sobre o tema: “Condições de vida das classes operárias do Recife”.
A obra que tornou Josué de Castro mundialmente conhecido foi “A Geografia da Fome”, traduzida para mais de 25 idiomas, na qual ele mapeia e define a fome no Brasil. Foi a partir dessa obra que o tema da fome ganhou status científico e sociológico.
Hoje em dia, a fome estudada por Josué de Castro ganhou dimensões ainda maiores. De acordo com a FAO (Food And Agriculture Organization) – órgão ligado a ONU(Organização das Nações Unidas) – um bilhão de pessoas (1/6 da população mundial) passam fome pelo mundo. O mapa abaixo traz essa noção claramente, estabelecendo a proporção (em porcentagem) de subnutridos pelo mundo.

Os lugares representados em vermelho são aqueles onde os percentuais de subnutrição são mais altos. Nesse caso, a África aparece como o principal foco de subnutrição no mundo, com a maior concentração de áreas em vermelho, ou seja, índices acima dos 35% de população.
Em comparação com a África, o Brasil possui um percentual bem menor, em torno de 20% da população total, mas isso não significa que a situação esteja tranqüila, pelo contrário, alguns dados mostram que a fome no Brasil também tem proporções muito grandes.
Segundo dados da Fundação Abrinq, 123 mil crianças com até um ano de idade morrem a cada ano no Brasil em decorrência da fome e da falta de amparo. Esse número corresponde a 4 vezes a média da taxa de mortalidade infantil no Brasil, segundo dados divulgados pela UNICEF em 2005 e referendados pelo Ministério da Saúde. Associando a questão da fome à quantidade de miseráveis no Brasil, os números ficam ainda mais alarmantes: 50 milhões de indigentes, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Isso corresponde a quase um terço da população total do país.
O mapa abaixo, desenvolvido pelo IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), traz um panorama da fome de acordo com o conceito de Segurança Alimentar, que nada mais é do que o direito de todas as pessoas à alimentação permanente e de qualidade, sem prejudicar o acesso a outras necessidades, baseando-se em práticas alimentares que promovam saúde, respeitando a diversidade cultural das regiões, sendo ambiental, econômica e socialmente sustentáveis.

Um detalhe claramente mostrado pelo mapa é a desigualdade entre as regiões brasileiras. Os índices mais graves estão nas regiões Norte e Nordeste do país, enquanto que o Sul e Sudeste concentram os índices mais baixos, principalmente o estado de Santa Catarina.
Apesar disso, há um curioso detalhe: nas regiões Norte e Nordeste os índices mais graves de insegurança alimentar estão nas áreas rurais, enquanto que nas regiões Sul/Sudeste e Centro – Oeste, esses índices se concentram mais nas áreas urbanas.
A insegurança alimentar também é maior entre a população negra e parda: 11,5% contra 4,1% da população branca.
Embora os dados mostrem que os índices de fome no Brasil são realmente preocupantes, as medidas adotadas até então se mostram lentas ou de pouco alcance, como o caso do programa FOME ZERO, que atende somente a 905 famílias, que recebem cada uma o valor máximo de 112 reais, metade do valor da cesta básica em muitas cidades brasileiras.
Os números que foram mostrados aqui só mostram que o debate sobre a fome, embora muito freqüente, ainda não se esgotou e está longe de encontrar uma solução definitiva que possa realizar o sonho que Josué de Castro começou: o fim da fome no Brasil e no mundo.
Abraços a todos.
Até a próxima.
Fontes de pesquisa/consulta:
Josué de Castro: http://www.josuedecastro.com.br/
Relator da ONU diz que 1 bilhão de pessoas sofrem com fome http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u624513.shtml
América Latina deve levar 10 anos para reduzir fome ao nível anterior à crisehttp://br.noticias.yahoo.com/s/afp/090904/mundo/am__ricalatina_crise_fome_1
Revista Unicamp:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/nov2001/unihoje_ju168pag08.html
Site da FAO (Food And Agriculture Organization) para o Brasil:
https://www.fao.org.br/
Site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica): http://www.ibge.gov.br/home/
Informações complementares:
Viagens custam mais que Fome Zero – CMI (Centro de Mídia Independente):
http://www.midiaindependente.org/eo/blue/2003/04/252884.shtml
Francisco Oliveira escreve quinzenalmente as Quartas-Feiras no ContemporArtes fran_geo2006@yahoo.com.br
4 comentários:
Falar sobre a fome, para nós q vivemos nas grandes cidades é algo surreal!
23 de setembro de 2009 às 20:03Dificil acreditar que com toda a evolução humana ainda exista essa desigualdade tamanha!
Temos que refletir,discutir e tomar atitudes para q algo realmente aconteça!
Realmente, é uma discução "impertinente", pois está sempre por aí, principalmente em fóruns globais. Belo trabalho de apresentação!
23 de setembro de 2009 às 21:42o mais engraçado é saber que existem mais estudos sobre alimentação, matérias sobre dietas e alimentos saudáveis doque sobre a própria fome!
25 de setembro de 2009 às 02:11"alguma coisa está fora da ordem?!"
ps. belo artigo
Muito bacana seu texto.
27 de setembro de 2009 às 09:10Que ironia ne? Nosso país um dos mais ricos em alimentos...Mas...muitos morrem de fome.
Besos
Patt Baleeira (biologa, especialista em meio ambiente/alimentos e estudante de psicologia tranespessoal/apometria)
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