A morte, a partida, a saudade, a despedida... visões poéticas de Daise Assumpção, de Mauá (livros publicados) e Adilson Alchuy, de Santo André
ENTERRO
dia de finados
os fiéis
rampa abaixo
forçando os quadris
em estacada subida
o morto se infiltra
na missa
desloca o silêncio
de campainha litúrgica
com carro funerário
parentes descarregando-o
e uma coroa de flores
a mais barata, rateada
dá volta ao altar
posta-se na capela
e faz mais presente
a morte de Cristo
fecha-se a urna
uma última vez
na parte mais alta
do campo sagrado
socializam covas
e parentes de outros
garimpam
placas com nomes
(que ele ainda não tem)
a mãe – a última
nariz e olhos imunes
(como os do morto)
ao cheiro e fumaça
dos pés do cruzeiro
derretendo-se em velas
ladeia as campas
onde jazem famílias
(de umas migraram
mortos e vivos:
já tem a cidade
cemitério privado)
antes do portão
desvia-se
viceja o caminho
gramado em ex-túmulos:
o muro comunitário
o retrato oval
pequeno amarelado
resto dos restos
do amor que a emprenhou
do filho
Deise Assumpção
a quem morrer primeiro...
diga ao bicha
do Ginsberg dando o rabo no céu
que não era preciso esgotar o sangue de Denver
nem injetar a noite na jugular das dançarinas
no palco inventado de todas as alucinações...
patearam no capô do Ford verde
atravessando o Texas até a fronteira do México
movido pelo uísque, emoções, cheiro de tequila
e histórias mortas em trilhos de trens que já não trafegam
entre Oklaoma, Frisco, Acapulco e Guadalupe...
diga ao viado que há fantasmas na galeria
declamando poemas apaixonados por Neil Cassidy...
e que do inferno podemos ouvir do anjo Kerouac
os segredos da estrada do universo sem beiras/
no infinito de nossa loucura ultrapassada de puras eternidades...
Adilson Alchuy
1 comentários:
ótimos poemas ....parabéns
21 de setembro de 2009 às 16:01Postar um comentário
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