terça-feira, 22 de setembro de 2009

Bar ContemporARTES - apresentando Cleo Mattos












...palavras on the rocks, bacos e apolos, poetas e prosadores, anjos e demônios fazem encontros marcados para essa conversa de bar virtual. Sempre às 3a. feiras no ContemporARTES









Quem aos Porcos se mistura farelo come

Alguns dias atrás, assistindo a um programa na televisão, fui surpreendida com uma resposta sobre o Brasil de um profissional da alta costura européia, que me deixou constrangida e, ao mesmo tempo, furiosa.
Senti-me como uma mãe que ouviu alguém falar mal de seu filho, ou melhor, aflorou em mim, o mais puro sentimento nacionalista.
Após o término de um dos desfiles mais prestigiados de roupas de grifes da Europa, a repórter brasileira, toda simpática, fez perguntas sobre o evento e aproveitou para perguntar - quando o famoso estilista viria ao Brasil. Ele respondeu que gostaria muito, mas, o seu seguro não cobriria a viagem ao Brasil.
A questão é: O que levou este famoso estilista a dar esta resposta, ou, o mais importante, por que um seguro milionário não cobre esta viagem ao seu segurado?
Suponho que não seja o fascínio que o europeu tem por nossas belezas naturais, com um litoral maravilhoso, praias paradisíacas, e o fato de sermos premiados com um território gigantesco e, por este motivo, aqui querer se instalar. Então, se não é o fascínio, presumo que seja o medo.
Sim, é o medo de ser roubado, seqüestrado ou até mesmo assassinado pelos filhos de nossa pátria. O medo que o estrangeiro tem de ser surpreendido com o nosso mau comportamento, pois somos estigmatizados como um povo de má conduta, sem ética. O estereótipo de alegre e receptivo não consegue se sobrepor ao estigma.
O Povo sou eu, você, nossos amigos, nossa família etc.
Estamos envoltos sob um manto da ilegalidade, com o qual somos coniventes, olhando de longe, não dá para separar o joio do trigo.Neste ponto, percebe-se que a individualidade se perdeu. E não dá para dizer, mas:- eu não sou assim.
Há um ditado que diz: que, quem aos porcos se mistura , farelo come.
Sinto-me, tentada a acreditar que realmente isto é uma máxima.
O meu consciente, não consegue identificar esses porcos com toda a clareza necessária para descrever seus nomes, endereços, profissões etc.
Às vezes, abstrato, outras como um monstro que se personifica com tal grandeza que me deixa completamente à mercê dele.
A falta de valores existentes atualmente, em toda a nossa sociedade, nos levou a ser quem somos, mudaram-se os conceitos, o importante é se dar bem, não importa como. Ser corrupto é sinônimo de esperto, e ser honesto, está fora de moda, é o babaca de plantão.
Em função da mudança de conceitos, nosso senso de justiça também mudou. Ele se tornou variável, não seguimos uma regra padrão.Ou seja, aos amigos tudo, aos inimigos a lei. Nosso senso de justiça oscila de acordo com nossos interesses.
Essas atitudes tornam-se visíveis, mesmo em nosso dia a dia, quando às vezes, privilegiamos nossos filhos, passando–lhes a mão na cabeça, ocultando algo errado que os mesmos cometeram, só porque são nossos filhos, independente de ter prejudicado terceiros . Colocamos, em primeiro lugar, nossa relação de amor. O que é de certa forma , compreensível, mas não correto.
E os homens que estão no poder!!!. Esses então, envolvidos em escândalos todos os dias , os piores em sua maioria. Os mesmos, que criam as leis, não as aplicam com imparcialidade, favorecem sempre seus pares em decorrência do grau de promiscuidade que permeia toda nossa sociedade. Dando a entender que a lei existe, mas seu olhar é direcionado dependendo do lado que você está.
Permitimos essas distorções, aceitamos gradativa e passivamente essa inversão de valores. Não nos damos conta, de quando começou, mas no estágio em que se encontra, tudo indica que o processo já vem se desenvolvendo há muito tempo. Quando vai terminar, é uma questão de mudança de atitude.
Tenho conhecimento desta imagem, que infelizmente não posso dizer que está equivocada, mas, ver ao vivo e em cores me constrangiu. Pensei... Que coisa mais desagradável . Então, lembrei-me do ditado do tal farelo
Essa falta de regra que envolve todos nós, o povo brasileiro, somente depõe contra nós. Somos a décima economia do mundo, por que somos considerados terceiro mundo?
Precisamos deixar de lado a lei Gerson, a de ser o país do jeitinho, para agir com responsabilidade ; aprimorando nosso senso de justiça; nos tornando respeitadores de nossos deveres; e exigentes de nossos direitos.Ter a consciência de que neste contexto não somos vitimas. Somos todos culpados.
Pequenos delitos sem a devida punição, dão margem para que se cometam grandes delitos. Precisamos resgatar nossos valores a começar pela educação que damos aos nossos filhos, mostrando a eles a real noção do certo e errado. Essa tarefa não requer poder econômico, ou interferência política, basta dedicação e exemplo.
Posso dizer que sou uma sonhadora, ainda vislumbro no horizonte uma grande mudança que nos tornará respeitados como a maioria do povo brasileiro merece.




Cleo Mattos
Bacharel em Relações Públicas, exerce cargo administrativo há mais de 20 anos em empresa da região. Além de mãe, esposa, irmã e amiga.






cleomattos@yahoo.com.br


2 comentários:

Ana Dietrich disse...

querida cleo, sinta-se bem vinda... gostei da chamada que deu na conversa de bar... uma chamada para a responsabilidade social. Saiba q nesse sentido, me junto ao john lennon, para dizer, que vc. é uma sonhadora, mas não a única.
bjsssssssssss e obrigada pela colaboração

22 de setembro de 2009 às 22:01
Irací disse...

Cleo, amei cada palavra q vc escreveu.
Sem ser omissa, nem tao pouco fora da realidade, vc se disse uma sonhadora, pode ser, mas vc não sonha com um País chamado Shangrila, vc sonha com um País chamado Brasil. Vem trabalhando pela construção desse país, à medida que vc não aceita as coisas "ajeitadas". Seu trabalho pode ser de formiguinha, mas cada um que realiza um trabalho de formiguinha esta contribuindo para a realização do seu, do nosso sonho de um país onde as pessoas sintam orgulho de ser brasileiros e não queiram viver em outras paragens, iludidas ou ate mesmo realizando sonhos de uma vida mais digna.
Amei seu texto pela coerencia e pela verdade sem hipocrisia, dita em cada palavra.
Beijos

27 de setembro de 2009 às 20:54

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