sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Universo Paralelo




Dentro de um transporte coletivo, de tudo se ouve. Já ouvi muita coisa estranha ,absurda; mas nenhuma até agora me estarreceu tanto, quanto a seguinte frase : ”não acredito que livros venham a mudar minha vida... ” Pela formulação da frase percebe-se que essa pessoa acreditava ser bem formada e interada de muitos assuntos. Em suma, um ser moderno que acima de tudo acreditava ser uma Criatura pensante...

O pequeno grupo dirigia-se a uma rave (psy) e estava bem animado... falando, rindo,,. Porém, quando a fatídica frase foi proferida, todo o grupo ficou em silêncio e todo o ônibus pareceu parar e ouvir aquela sentença.Ninguém parecia acreditar que aquele Ser alto, esguio, de cabelos com uma coloração não muito definida, um tanto deslocado naquele local, pois pertencia a outra camada da sociedade, não mais alta ou mais baixa melhor ou pior, mas daquela seleta parcela dos seres que vivem no planeta Terra e no entanto não pertencem ao mundo real, vivem num universo paralelo e quando por algum erro no caminho (carro quebrado, fim da mesada...), aportam nesse universo paralelo chamado estranhamente de realidade, começam a agir de modo estranho. Quer dizer, ignoram que existam outras coisas no planeta, outras formas de vida, onde seres humanos que possuem um cérebro e que antes de mais nada querem expandi-lo ou ao menos tentam, numa tentativa de se integrarem a esse curioso mundo, diverso da cibernética e de tão variadas tecnologias. Não que este Universo ignore ou rejeite tais preceitos, muito pelo contrário, toda inovação é bem-vinda, só estas “evoluções” (se é que se pode chamar assim) não deixam para trás o que permitiu que tudo chegasse onde chegou- os meandros percorridos, tudo é válido...

Outras “pérolas” da “ingnorância” daquele Ser foram saindo de sua boca, como se estivesse fora de controle. O silêncio e expressões de choque, interpretadas como parte do sucesso e aceitação de seus dizeres, só serviram para estimular tal criatura, como se em seu mundo, ninguém ouvisse ou prestasse atenção a qualquer coisa que não fosse si mesmo e isso certamente faz falta, a todos os seres humanos (mesmo a esses).

Num dado momento, um de seus amigos tentando amenizar a situação, perguntou-lhe sobre os programas que assistia, se havia assistido ao filme “Matrix”. Ao ouvir a resposta os amigos ficaram um pouco aliviados, afinal nem tudo estava perdido (foi o que pensaram...) :

“- Ai o Keanu Reaves estava ótimo !!! Já assisti umas 8 vezes !!!!

Novamente silêncio. Esse mais denso que o anterior. Após 8 sessões do mesmo filme, a Criatura só conseguia enxergar o ator principal. A coisa estava ficando cada vez mais crítica. Porém, o apogeu foi no momento em que, empolgada por esse novo silêncio, resolveu falar sobre programas de televisão. Só coisas que “alimentam” os neurônios...como seriados americanos, com situações impossíveis... passatempo... internet... Não se deixem iludir, nada que possa levar ao menor estimulo neural. Afinal, a cada vez que seu pobre cérebro tentava qualquer interação com o neurônio vizinho, os sintomas eram imediatos, náuseas, dores de cabeça (devido ao supremo esforço)... o mais terrível era sempre que se aproximava de um livro. Esse sim era seu maior inimigo. Dores de cabeça terríveis... que só poderiam ser curadas com muito psy na cabeça. O maravilhoso mundo da televisão ou virtual, onde não seja necessário pensar, nem por um instante .Afinal como afirmara “pensar além de dar muito trabalho, dá uma dor de cabeça danada ! “

Em meio a todo esse mar cultural que me vi obrigada a participar, mesmo por osmose, uma pergunta ficou sobrevoando minha deficitária mente, que a muito custo tentar articular pensamentos (nem sempre felizes): - O que faria um Ser desse se por qualquer motivo acabasse a energia elétrica ? Quanto tempo suportaria ? E se por alguma punição fosse obrigada a viver para sempre nesse Universo Paralelo? Não consigo imaginar nada. É, isso continuaria sendo um nada, o que não é diferente de sua atual situação.

Como viver num mundo onde a televisão, dá tudo pronto sem usar a imaginação para dar continuidade a uma estória ? É muito melhor olhar o mundo pela televisão, num segundo... livro? que bicho é esse ? é uma marca nova de botas? de óculos escuros?

Mas, diga uma coisa: Pensar pra quê afinal?músicas com letras e melodias? Um amontoado de folhas grudadas umas nas outras, com letras espalhadas e sem FIGURAS ?!!! que coisa mais primitiva?!!!! É por essas e outras que o Brasil não vai pra frenti !!!

É muito mais fácil viver num mundo de fantasia, onde os fantoches são orquestrados pelo mundo da televisão. Recheados de botas, óculos escuros, roupas brilhantes, uma realidade montada. Fantasiada como um conto de fadas, sem moral da história. Onde se repetem incontáveis vezes: “moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza ...” o que mais alguém precisa saber e querer... é ... realmente nenhum livro pode proporcionar tal coisa,pois, ao abrir um livro somos transportados para outros lugares imaginários(ou não), mas ao fechá-lo retornamos ao Universo Paralelo, transformados de algum modo; levados pela reflexão de tudo escrito e interação com tudo que nos cerca. Realmente, livro algum pode mudar a vida de alguém. Sozinho um livro é somente um amontoado de folhas impressas, sem alguém que o toque, que o leia, que o sinta, não tem o menor sentido.Não é livro que modifica as pessoas, seu poder está em auxiliar o desenvolvimento, levando a um desbloqueio cerebral. Coisa que sozinho um livro não pode fazer.Não é ele que vai atrás de ninguém, no entanto, ao ser procurado, não fecha suas páginas a ninguém, nem mesmo a inúmeras “Poucas, Pequenas” espalhadas por aí.

Giliane Silva de Moura é coordenadora do blog Contemporartes e escreve às sextas-feiras

Contato: rockgirl611@hotmail.com


2 comentários:

Ana Dietrich disse...

bom passar HORAS a seu lado Gi, parabens pela coluna...

11 de setembro de 2009 às 11:55
Anônimo disse...

Belo trabalho, Gi

Francisco

11 de setembro de 2009 às 12:28

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