sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Despertar

Coluna As Horas

Vamos refletir sobre o que fazemos e o que deixamos de fazer em nossas vidas, achando que vai dar tempo...a quetão é...nem sempre dá..



Inquieto como um grilo, apesar da idade avançada, sua mente arguta como uma raposa matreira. Sentado em seu sofá puído sonha. Leões, girafas, morcegos, um barco, mar enfurecido, ondas elevadíssimas, o velho entorpecido diante tudo. O sol, lago, tempestade, negro céu sem estrelas. Calmaria muitas vezes pior que a torrente. Esquecimento solidão. Um susto desperto. Levanta-se, dirige-se até a estante, pega um livro qualquer, folheia-o e, para seu espanto, as páginas estão em branco, fecha o livro assustado, mas como se estivesse hipnotizado abre-o bruscamente. Olha o título e ali lê seu nome, tomado e uma curiosidade incontrolável, senta-se e começa a lê-lo avidamente; naquele livro está sua história de sua vida. Um dente que caí, a primeira namorada, seu adeus, o primeiro carro, viagem com o amigo, o mar bravio, chuva, neblina espessa, que impede a visão. Grito de quem precisa de ajuda urgente, que não vem. Silêncio angustiante... Pesadelos constantes. Um tempo. Fecha-se em seu mundo, pensa que o mundo não mais o quer. Calmaria.
O sol, o relógio, o trabalho, sua casa. Luz apagada, mas várias velas acesas. Sobre a mesa uma garrafa, ao lado um copo. O Olhar vago, música distante, momentos. Uma tristeza constante e crescente. Passos, a porta, alguém que chega e vai. Indecisão angustia solidão. Culpa totalmente sua, não pôde abandonar certos medos. Uma grande covardia. Rotina, apenas uma desculpa falha, não convence nem mesmo ele. Sonhos, realidade dura, cruel e infalível. O fim, a paz, desespero, a consciência. Talvez sua única e última felicidade, a visão de um pássaro numa árvore cantarolando. Resolução, coragem, liberdade, vôo, janela aberta, vento forte, papéis, relógio parado, caído. Dor dilacerante, inesperada. Vela finda. Uma vida não vivida... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

Chuva, vento, frio, algo que se rompe sem silêncio. Um pensamento. Uma lágrima. Um gesto, um toque tímido, um olhar, o esboço de um sorriso. Uma janela que bate com o vento . Fúria. O Tempo. O vento, lufada de vento, uma leve brisa; o céu azul, borboletas, nuvens, pardais, folhas, um cão a seus pés, uma cadeira de balanço e seu ranger que agrada os ouvidos. Certo alguém que chega um olhar cúmplice, uma mão, um ruído, sorrisos simultâneos, novo ranger, dessa vez, porém mais suave. O Sol beija a noite e segue seu caminho, preparando - se para o renascer.



Giliane S. de Moura escreve semanalmente no ContemporArtes



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