sábado, 16 de janeiro de 2010

ANTÓNIO BOTTO


Nesta minha segunda coluna aqui no ContemporARTES quero dar continuidade a meu projeto de divulgação dos grandes autores (para mim) da Literatura de Língua Portuguesa. Um tanto quanto pendente para lado lusófono, minha paixão pela Literatura me leva hoje a falar a vocês acerca de um poeta português, um tanto quanto desconhecido por nós brasileiros, mas que produziu poesia de altíssimo refinamento: ANTÓNIO BOTTO.

Na palavras do grande mito Fernando Pessoa “A originalidade de génio de António Botto está bem nítida nas suas prodigiosas canções e nos seus contos infantis”.Melhor apresentação do que esta acho impossível que eu a faça e agora que já instiguei os leitores acerca deste poeta, vale a pensa contar um pouco de sua história.

António Tomas Botto nasceu em Concavada, Portugal, a 1 de Agosto de 1897, em 1908 se mudou para Lisboa, cidade na qual travou conhecimento com muitas personalidades literárias da época (inclusive Fernando Pessoa).

Em relação a sua vida pessoal e influencia desta na vida literária, António era homossexual. Ele era visitante regular dos bairros boêmios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava da companhia dos marinheiros, tantas vezes temas de suas poesias.

Por motivo de perseguição (porque não preconceito?), muitas vezes este poeta era motivo de troça quando entrava em cafés, livrarias e teatros portugueses. Cansado deste tipo de violência, ele se mudou para o Brasil, com sua mulher, em 1947, viveu 4 anos em São Paulo e depois foi para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1959, quando ao atravessar a Avenida Copacabana foi atropelado por um automóvel do governo. Cerca das 17h00 de 16 de Março de 1959, no Hospital da Beneficência Portuguesa, Botto, mal barbeado e pobremente vestido, expira, abraçado pela sua inconsolável mulher, que o chora perdidamente.

Em 1966 os seus restos mortais foram trasladados para Lisboa e, desde 11 de Novembro do mesmo ano, estão depositados no Cemitério do Alto de São João. Somente após sua morte, este autor teve reconhecimento em Portugal acerca da contribuição literária que trouxe a este país.

A obra mais conhecida e também mais polêmica de António Botto é o livro de poesia Canções (1921), que por seu caráter abertamente homossexual causou agitação por parte dos meios religiosos conservadores portugueses. A sua obra poética, Canções, pode ser considerada o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa, além de ser um grande culto ao corpo masculino (descrito a todo momento de maneira muito sensual).

É necessário ressaltar que Canções teve tradução para o Inglês em 1930, tradução esta feita por Fernando Pessoa, um dos que admiravam a coragem e a poesia de Botto. Para instigá-los ainda mais, apresento a vocês o poema “Envolve-me amorosamente”:

Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!

Vai a penumbra desabrochando
Na alcova
Aonde estou aguardando
A tua vinda...
Não tardes, amor ausente!
Anoitece. O dia finda...
E as rosas desfalecendo
Vão caindo e murmurando:
- Queremos que Ele nos pise!
Mas, quando vem Ele, quando?...

Hoje, no Brasil, para se conseguir um exemplar de Canções e de outras obras do autor em questão não é nada fácil. Quem desejar se deleitar com a poesia de António Botto deve importar suas obras, procurá-las nos sebos brasileiros, ou ainda, buscá-las em sites da internet. Uma dica valiosa: algumas poesias deste autor podem ser lidas no site http://www.triplov.com/poesia/Antonio-Botto/index.htm.








Rodrigo Machado é Graduando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa e escreve aos sábados no ComtemporARTES.

1 comentários:

Ana Dietrich disse...

caríssimo contemporâneo rodrigo, estou vendo que estás fazendo jus ao espaço q lhe foi dado, seus escritos estão belos e instigantes. Não conhecia antonio botto, me chamou a atenção o rol de múltiplas identidades que se envolve...
inclusive a de homossexual.
parabéns e se possível, como sugestão, publique a continuidade desse relato, com algum diálogo entre ele e fernando Pessoa... fiquei curiosíssima.
Um bj grande e q esse sorriso continua radiante em 2010

19 de janeiro de 2010 às 12:46

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