quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A identidade paulistana de um compositor


Na abertura do Comunidade Sonora de 2010, gostaria de publicar na coluna um resumo da biografia do Adoniran Barbosa que encontrei no Dicionário Cravo Albin, mostrando um pouco como ele ao longo de sua trajetória vai incorporando a identidade de paulistano. Este ano em que ele completaria 100 anos. Vários eventos estão sendo programados para homenageá-lo, entre eles um em que participarei com a banda Extra Stout e que gostaria de convidar todos os leitores: o Skarnaval. No final, uma coletânea com composições famosas dele e de outros artistas paulistanos (exceção feita a “Filosofia”, de Noel Rosa, onde faço referência ao início da carreira de Adoniran).

Um artista polivalente[1]: compositor, cantor, humorista, ator. Filho de imigrantes italianos. Nasceu em Valinhos em 6/08/1910, ainda menino foi trabalhar com o pai em Jundiaí como entregador de marmitas e varredor numa fábrica. Em 1924, transferiu-se com a família para Santo André, onde exerceu as funções de tecelão, pintor, encanador, serralheiro e garçom. Posteriormente, foram para São Paulo, onde aprendeu o ofício de metalúrgico - ajustador no Liceu de Artes e Ofícios. Foi obrigado a abandonar a função porque seus pulmões ficaram afetados pelo pó do ferro esmerilhado. Empregou-se em outras funções, entre as quais a de vendedor.

Sua vida artística começou nessa época, onde participou de programas de auditório. Foi aprovado no programa de Jorge Amaral, em 1933, cantando “Filosofia”, de Noel Rosa. Entre os anos de 1935 e 1940, atuou na Rádio Cruzeiro do Sul como cantor e animador de programas de discos. Em 1943, foi formado o conjunto Demônios da Garoa e passou a atuar com o grupo. Em 1945, participou do filme "Pif-paf", e em 1946, do filme "Caídos do céu", ambos dirigidos por Ademar Gonzaga.

Em 1951, gravou seu primeiro disco, na Continental, com a marcha-rancho "Os mimosos "colibri", de Hervê Cordovil e Osvaldo Moles e o samba "Saudade da maloca", de sua autoria. Nesse ano, seu samba "Malvina" foi premiado em concurso carnavalesco em São Paulo e gravado pelos Demônios da Garoa e lançado pelo selo Elite Special para o carnaval do ano seguinte.

Em 1953, atuou no filme "O cangaceiro", de Lima Barreto. Em 1955, os Demônios da Garoa gravaram "Saudosa maloca" e "Samba do Arnesto", este, parceria com Alocim, músicas onde firmou seu estilo peculiar de composição, retratando o universo das camadas populares de São Paulo, retratadas com linguajar caipira e paulistano italianado. São essas as características básicas do estilo que tornou Adoniram o compositor mais popular da cidade de São Paulo.

Em 1980, a EMI-Odeon lançou o LP "Adoniram Barbosa" em comemoração aos 70 anos de vida do compositor. Para a ocasião, foram convidados inúmeros intérpretes, entre os quais, Elis Regina, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Djavan, Carlinhos Vergueiro. Nessa época, dividiu com Radamés Gnattali a trilha sonora do filme "Eles não usam black-tie".

Adoniran Barbosa morre em 1982, aos 72 anos de idade.


Comunidade Sonora – janeiro/2010

1- Adoniran Barbosa – saudosa maloca
2- Noel Rosa – filosofia
3- Adoniran Barbosa – samba do Arnesto
4- Geraldo Filme – vai no Bexiga pra ver
5- Adoniran Barbosa – as mariposas
6- Demônios da Garoa – trem das onze
7- Adoniran Barbosa e Elis Regina – tiro ao Álvaro
8- Germano Mathias – minha nega na janela
9- Adoniran Barbosa – luz da light
10- Osvaldinho da Cuíca – batuque de Pirapora
11- Adoniran Barbosa – mulher, patrão e cachaça
12- Paulo Vanzolini – praça Clóvis
13- Adoniran Barbosa – um samba no Bexiga
14- Itamar Assumpção – leva meu samba
15- Adoniran Barbosa – No morro da Casa Verde
16- Beth Carvalho – à luta Vai-Vai
17- Adoniran Barbosa – Quando te achei (c/ Hilda Hilst)
18- Samba da Vela – irmão de fé
19- Adoniran Barbosa – Terreque, terreque (c/ Avaré e Antônio Rago)
20- Rolando Boldrin – boneca de pano
1- Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.










Cícero F. Barbosa Jr., mestrando em História pela PUC/SP, bacharelando em Letras pela USP, músico e artista, escreve às quartas-feiras quinzenalmente no ContemporARTES.

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