Bar ContemporARTES

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Simone Pedersen é aluna de pós-graduação em Direito, escritora, poeta, com coluna semanal de crônicas no jornal de Vinhedo(SP).






ÓRFÃOS DE TODOS NÓS

Após vinte dias do terremoto no Haiti, as notícias desaparecem das manchetes. O mundo deveria ficar em luto por mais tempo. Chegaram à França e à Holanda, na semana passada, 142 crianças haitianas adotadas, após longos três anos de burocracia. Onde e como viverão as centenas de órfãos, nos próximos anos, enquanto aguardam por novos pais? Uma haitiana, mãe solteira, levou oito crianças da vizinhança para a sua casa, onde ela antes mal podia alimentar os três filhos. As autoridades divulgam que a prioridade de adoção será dada às famílias nacionais, sendo que famílias comprovadamente bem-intencionadas em outros países, com toda estrutura econômica e emocional, aguardam há anos. Atualmente, quem quer engravidar dispõe de uma série de tratamentos modernos, cujo custo é elevadíssimo. Eu sei, fiz alguns deles. Eu não fui uma pessoa iluminada que optasse por adotar uma criança. O mundo está repleto de crianças que sofrem maus-tratos, passam fome e não recebem medicamentos quando necessitam. Na África, quinze milhões de crianças perderam seus pais para a AIDS ou em combates étnicos, muitas vivem sem supervisão de um adulto, alimentando-se dos restos que encontram nos lixos ou recebem dos vizinhos. Como animais abandonados, perambulam pelas ruas, sem destino. Na China, milhares de recém-nascidas indesejadas são jogadas no lixo ou largadas em orfanatos onde passam os primeiros anos dentro de um berço, sem receber um carinho sequer, enquanto suas pernas atrofiam. Não precisamos ir tão longe, em qualquer cidade do Brasil encontramos crianças que viveriam com mais dignidade e saúde se fossem adotadas. Está na hora de modernizar a legislação de adoção em muitos países, para que haja menos sofrimento no mundo. E nós, que não temos a capacidade de adotar uma criança necessitada, podemos ao menos doar nosso tempo, participar de campanhas de arrecadação, denunciar maus-tratos e negligência. Os nossos futuros governantes e governados são crianças hoje. Melhor cuidarmos bem delas. Para ajudar as vitimas do Haiti e de outros países, visite o site da UNICEF: www.unicef.org/brazil