Coluna Ana Dietrich - A fabricação virtual do corpo feminino
Prezados leitores e seguidores do ContemporARTES,Dando seguimento à discussão do uso da imagem da mulher na mídia, especificamente às questões levantadas em minha última coluna (“Qual imagem fazem de nós mulheres?”), hoje apresento o pequeno ensaio de Maisa Freitas. Ela discute o uso das tecnologias para a fabricação de um tipo de representação estética da mulher contemporânea que se deseja e é constantemente repetida pela grande imprensa e mídia em geral. Maisa é estudante de Geografia da Universidade Federal de Viçosa e uma mulher contemporânea muito especial, sensível e inteligente.
Ana Maria Dietrich, editora-chefe da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades, escreve às quartas-feiras, quinzenalmente, no ContemporARTES. contemporaneosufv@yahoo.com.br
A fabricação virtual do corpo feminino
Já ouviram falar das Mulheres Girafas da Tailândia? Elas são chamadas assim devido às argolas metálicas que usam no pescoço para deixá-lo bem alongado. Essa prática representa, dentre outros motivos, um padrão de beleza a ser seguido. Apesar do incômodo, quanto mais argolas elas tiverem no pescoço, mais atraentes as mulheres serão. Muitos de nós que já vimos as Mulheres Girafas pela televisão ou em revistas, reagimos de maneira incrédula a essa cultura tão distinta da que vivemos. Chegamos a exclamar: “pobre delas, isso é um covardia, uma tortura com os seus corpos!”. Mas já pararam para pensar que a nossa cultura submete a mulher a um padrão de beleza que também se pode dizer covarde e torturante?
Pois bem, os padrões de beleza femininos já conhecidos por todos e que infelizmente estamos habituados, estão sendo reforçados pelo auxílio da tecnologia dos photoshops, ou seja, a virtualização do corpo feminino através da manipulação de imagens feitas por programas de computador. Vemos constantemente fotos de mulheres que aparecem simplesmente perfeitas nas revistas e caímos na ilusão de acreditar que esse é o tipo ideal de beleza. Nesse sentido, um dos grandes problemas enfrentados por essas mulheres no século XXI, é a tentativa frustrante de alcançar um padrão de beleza que se revela praticamente inatingível, principalmente quando se trata da inexistência de rugas, celulites, e pequenas gorduras localizadas.
Muitas de nós acreditamos nas imagens que vemos e ao nos depararmos com uma bela modelo “capa de revista”, nos sentimos inferiorizadas, por não termos uma aparência semelhante. Ridículo, não acha?
Por mais que uma mulher seja bonita, é impossível ela competir com as técnicas de photoshop. Até mesmo as célebres mulheres que aparecem nas revistas sofrem com isso, pois são massacradas pela mídia quando aparecem em circunstâncias casuais, de “cara lavada” em fotos divulgadas por paparazzi indiscretos. São muitos os comentários grosseiros e maliciosos que elas recebem quando não estão mais escondidas por trás dos efeitos do computador. Como podemos aceitar tanta artificialidade?
Nós mulheres, temos o direito de nos sentir bonitas, de nos arrumarmos, e até mesmo de nos beneficiar da tecnologia empregada nos produtos de beleza, mas desde que seja sem exageros e sem esquecermos a nossa essência. Devemos ter a consciência da nossa realidade e aceitá-la sem constrangimentos, independente das técnicas utilizadas pelos photoshops. Caso contrário, as Mulheres Girafas talvez diriam: “pobre delas, isso é uma covardia, uma tortura com os seus corpos!”.
Maisa de Freitas é graduanda do curso de Geografia pela Universidade Federal de Viçosa.
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