Coluna Ana Dietrich - Bloco Carmelitas - da Austeridade à alegoria
Viva leitores contemporâneos!Em primeiro lugar, trago novidades do ContemporARTES. A partir de agora, em um passo ousado, não nos denominamos mais como blog, mas como Revista de Difusão Cultural. Isso foi decidido no processo de desenvolvimento do blog e seu amadurecimento ao longo de postagens diárias. Hoje temos ao todo nove colunistas que atuam em diferentes áreas de Artes e Humanidades, como pode ser conferida na programação ao lado. Nessa semana, recebemos a contribuição de três novos colunistas: o poeta Altair de Oliveira, que passa a assinar a Segunda Poética - Poesia Comovida; Simone Pedersen, escritora, que coordena a coluna Bar ContemporARTES e a jornalista Ana Paula Gomes Nunes, que trará as novidades de eventos culturais no Brasil para a coluna Drops Cultural. Sejam bem vindos todos!
Agora passando ao assunto da coluna de hoje, escrevendo diretamente da capital do carnaval, o Rio de Janeiro e mais especificamente do Bairro de Santa Teresa, onde estou hospedada na casa da amiga historiadora Sylvia, escolhi como tema o bloco das Carmelitas, que em 2010 completa 20 anos. O bloco nasceu de uma idéia cheia de brasilidades. Como em Santa Teresa existe um convento das carmelitas, um grupo de foliões inventou a história de uma freirinha carmelita que fugiria do convento na 6a. feira para pular carnaval e retornaria só no final da folia, na 3a feira. A partir daí criou-se o bloco, com duas saídas, às 6as e 3as. A história e o bloco em si brincam com elementos de austeridade como a maneira com a religiosidade é pensada e sua reelaboração dentro da concepção alegórica do carnaval. A ordem das carmelitas é conhecida pela rigidez de suas normas como a clausura de suas monjas. A primeira congregação feminina foi fundada no século XIX. Desde os séculos XVII e XVIII, as ordens religiosas, como a ordem do Carmo, faziam parte de uma estratégia do governo português, que via na religião um instrumento de manutenção da ordem e de ajuda no povoamento local. Convém notar que o bairro do Rio de Janeiro onde está localizado o Convento e de onde sai o bloco tem o nome da sua fundadora, Santa Teresa (Teresa de Cepeda e Ahumad).
As regras de clausura baseiam-se no isolamento, as freiras não deixam o convento a não ser para atividades como ir ao médico e votar. Geralmente não visitam ninguém e quando recebem visitas, o contato se dá através das grades. Para assistir às missas, também usam cantos a elas reservados.
Passando da austeridade à alegoria, tais regras são totalmente quebradas no bloco das Carmelitas. Vendo na TV hoje uma reportagem, um casal de foliões fantasiado que estava no bloco se beijava e dizia que o amor não é pecado. Travestindo-se de freiras, há jovens, crianças, adultos, senhores. Na última sexta-feira, o bloco atraiu 6 mil foliões entre eles essa que vos escreve. Um grande boneco que representa uma freira é uma beleza a parte, e nesse ano, mais uma novidade, era uma freira negra.
Mas, o que fica mais evidente é a maneira "brasileira" de romper com normas e regras, usando a alegoria do carnaval para isso, sem um conflito violento ou político e usando, em primeiro lugar, do humor.
Para saber mais: http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais/st_trab_pdf/pdf_6/graca_st6.pdf
http://www.sincofemar.jex.com.br/geral/freiras+carmelitas+liberdade+na+clausura
Veja também o vídeo: Por que ser uma carmelita descalça?
Ana Maria Dietrich, editora-chefe da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades, escreve quinzenalmente às quartas-feiras no ContemporARTES.
1 comentários:
que maravilha de pesquisa de campo, heim... heheh
17 de fevereiro de 2010 às 12:39Postar um comentário
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