AS LINHAS QUE DESENHAM "ARIANO" E "BALADA DE UM PALHAÇO"
“Balada de um palhaço”, peça de Plínio Marcos escrita em 1986, esteve pelas bandas de Salvador pelas mãos da Cia. Arte e Fatos, da Universidade Católica de Goiás, uma semana depois de “Ariano” (2007), peça com direção de Gustavo Paso, do Rio de Janeiro, sobre a vida e a obra de Suassuna. Uma na Sala do Coro outra no Teatro Vila Velha não se esbarraram, talvez nem soubessem uma da existência da outra, mas alguma coisa de permanente.
Bobo Plin, o personagem que busca incansavelmente a si e a sua “alma” é caracterizado, em sua sublime “alienação” e ingenuidade como aquele que quer romper com a tradição, quer liberdade e respeito ao fazer artístico, quer abandonar a mesmice em que vive e atua em busca de inovação artística. Quer poesia e não tem preocupação com o que é comercial, com os pensamentos cotidianos, materialistas e imediatistas, ao contrário de Menelão, o palhaço-tradição. No final, sobe o monte em busca de sua vocação verdadeira.
“Ariano” mais épico e intertextual dialoga com a estrutura da Divina Comédia, de Dante e revela a saga do próprio Ariano em busca de sua poesia. Paso pontuou toda a peça com um tom fortemente onírico, talvez por saber que só assim poderia fazer com que o autor encontrasse seus próprios personagens. O resultado é uma bela extrapolação do realismo.
Mas o que as duas produções trazem em comum, qual linha desenha essa aproximação? Talvez sua estética metalinguística, mas, sobretudo, o fato de pensarem sobre a arte – e o teatro em particular – através do conceito da formatividade, que permite compreender a gradação infinita que abarca a diferença entre “fazer com arte” e “fazer arte”.
Formas autônomas que, juntas, reforçam em uníssono sua paixão pelo palco, o respeito ao bom teatro.
Cena Final não escrita – um devaneio poético: Bobo Plin, depois que desce o monte encontra Ariano e, juntos, buscam uma forma digna de ganhar o pão.
Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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