segunda-feira, 19 de abril de 2010

TENTÁCULOS IMAGINÁRIOS












O polvo é um animal assustador:com tentáculos compridos, parece capaz de estrangular-nos em segundos. Sempre que algo não funciona, eu me lembro desses gigantes moluscos. A tecnologia é como um polvo: cheio de braços com aderentes ventosas. Os braços são telefones celulares, computadores, televisões e máquinas fotográficas digitais, internet sem fio, caixas automáticos, leitores ópticos e iphones.Poderia dar mais braços ao meu polvo, mas sei dos meus limites: não dou conta nem desses.Sem falar nos filhotes: emails, Orkut, Facebook, Blog, site...

Por um lado, a vida moderna é mais simples. Pela internet ou celular falo com amigos do mundo todo.Aliás, os vejo pelo Skype.O iphone tem GPS.Pago minhas contas sem sair de casa.Faço compras, pesquiso preços por sites de comparação e digito o numero do cartão de crédito para efetuar o pagamento. Carnê de crediário, quem ainda se recorda deles e das filas para cadastro, quando hoje podemos pagar com cartão de crédito com chip?Cheques, quem ainda perde tempo os preenchendo se podemos usar o cartão de débito ou simplesmente mostrar o celular em alguns países? Transferir valores para o exterior chegam em poucas horas. Posso tirar uma foto minha agora e divulgá-la mundo afora. Com o Photoshop, me transformo em Gisele Bündchen ou Naomi Campbell. O controle remoto muda canais, troca CDs, abre portões, cortinas. Hoje, casas com ar condicionado e até elevadores não são raridades.



No Japão, robôs fazem serviços domésticos. Igual aos desenhos da Família Jetson, você se lembra? Quem dirige em São Paulo sabe que helicópteros pessoais são cada vez mais comuns. Costumo brincar com meus filhos, nas marginais paulistanas, onde contar mais de vinte helicópteros e uma dezena de aviões não é novidade. Antigamente contávamos pássaros. Seria maravilhoso se tudo funcionasse sempre. Mas quando o sinal da internet cai, o celular não conecta, o controle remoto do portão quebra em um dia de chuva, quem acha que a tecnologia é o doce Bob Esponja? Quando o cartão não “passa” e não temos dinheiro na carteira, o que fazer?Usar as ferramentas tecnológicas para o nosso bem é uma arte. Precisa de parcimônia. O homem usa a inteligência para criar , mas se não usar a sabedoria para impor limites, será devorado pelos predadores que ele mesmo inventou. Dependência e vício nunca são saudáveis. Busco sempre alternativas. Carrego um pouco de dinheiro, uma chave extra, um cartão telefônico. Quebrou o carro? Vou a pé, taxi ou ônibus. O polvo só devora quem fica imóvel.




Simone Pedersen, escritora. Cronista da Folha de Vinhedo. Autora dos livros infantis: Vila Felina, Vila Encantada, Sara e os óculos mágicos e O Conde Van Pirado. Para adultos, estão no prelo Fragmentos e Estilhaços com crônicas e poemas e Colcha de Retalhos com poemas.

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