C H E I R O D E I N F Â N C I A
Quando eu era pequena, adorava tomar banho na casa dos meus avós paternos. Eles usavam um sabonete diferente, escuro com perfume de pau-rosa misturado com essências de sândalo, canela de Madagascar e cravo da índia.
Na mesma época, adorava visitar minha avó materna, cujo caminho era florido com os cheiros de seus assados: empadas, frango e panetones.Era ela dar uma saidinha que eu e minhas primas pegávamos algo e corríamos para saborear escondidas no terraço de chão vermelho.
Depois explorávamos os jardins à busca de bananinhas, uma minúscula planta verde que tinha frutinhas nesse formato, mas eram bem azedas. Ou pulávamos o muro para pegar limões na casa da vizinha. Quando não levávamos caixas de papelões para escorregarmos pelos barrancos do “Barreiro”, onde hoje fica um lindo e imenso parque, o Chico Mendes.
Bons tempos aqueles. Ainda me lembro das chuvas de verão, quando eu e uma amiga andávamos descalças pelas ruas, sentindo o cheiro de asfalto quente que subia do chão, misturado ao cheiro de terra bem marrom das praças. Roubávamos flores das praças para presentear nossas mães. Depois sempre vinha aquele sol de novo, e inocentemente, dávamos gargalhadas molhadas ao citar que era dia de casamento de viúva.
Chegando em casa, a bronca da mãe e o banho bem quente para tirar a friagem. Pura molecagem!
Os adultos discutiam seus problemas, ofereciam ajuda uns aos outros, procuravam alternativas. Muitas sociedades nasceram em tardes de domingo.Muitos casamentos também. Enquanto os adultos confabulavam e os pequenos brincavam, os adolescentes entreolhavam-se entre sorrisos tímidos. Afinal, sempre havia amigos e amigas visitando também.
Hoje, aos domingos, as famílias ficam em suas casas, assistem futebol ou um programa qualquer na televisão.
Crianças jogam videogames.Parentes ficam sabendo que o sobrinho foi internado depois de sair do hospital, que a prima repetiu de ano na segunda vez e que os medicamentos para depressão finalmente começaram fazer efeito para a vovó. Não existem cheiros. Nem afagos. Nem a cumplicidade que só se encontra em família.
Mas não precisa ser assim. Podemos ser espontâneos. Podemos perfumar a memória dos parentes e deixar pegadas marcadas em seus corações, com o sabor do nosso carinho.
Simone Pedersen, escritora, morou onze anos no exterior onde teve vivência multicultural e conheceu diferentes estilos linguísticos.Desde essa época já escrevia crônicas para os amigos sobre a diversidade que vivenciava. Atualmente reside no interior de São Paulo e, há dois anos, participa ativamente de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior.Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. É colunista do Folha de Vinhedo.
Seus lançamentos literários para esse ano são: Infantis “Vila Felina”, “Sara e os óculos mágicos”, “Conde Van Pirado” e “Vila Encantada”. Adultos: “Colcha de Retalhos” com poemas e “Fragmentos e Estilhaços” com crônicas e poemas.Blog: http://www.simonealvespedersen.blogspot.com/
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