quinta-feira, 6 de maio de 2010

A História das Pioneiras


Numa época histórica conturbada, onde imperava o fascismo, Annemarie Schwarzenbach, foi mulher, escritora, jornalista e fotógrafa. Escolheu viver uma vida repleta de aventuras e perigos, desafiando-se a si própria, retratando o mundo, descrevendo o que vivia e o que sentia.

A sede de viagens, fez com que percorresse vários países retratando as suas realidades históricas e culturais e descrevendo as suas próprias vivências. Uma mulher atraída pelo perigo e que vivia sobre o limite do risco. Uma vida difícil, um testemunho que é caracterizado pela coragem de simplesmente se ser o que se é. O poder da imagem e da palavra foi o bem mais valioso que entregou ao mundo.

Annemarie Schwarzenbach, nasceu em Zurique a 23 de Maio de 1908. Proveniente de uma família abastada e conservadora, frequentou escolas particulares, explorou a vertente artística musical e, mais tarde, veio a obter o doutoramento em história pela Universidade de Zurique.

Rompeu a regra e fez parte do grupo das primeiras mulheres a obter este status universitário. Descobriu cedo a sua vocação para a escrita, tendo publicado o seu primeiro romance em 1931, "Amigos à volta de Bernhard", mal terminou os estudos. Ao dom da palavra escrita juntou-se a profissão de Jornalista que iniciou ainda enquanto estudava.

A vida de Annemarie, foi recheada de conflitos interiores e descobertas. Numa época em que se propagava a ideologia Nazi e Fascista, criou amizade com judeus e refugiados políticos alemães, entrando em conflito com a ideologia da própria família.

Assume-se como homossexual, atraindo no entanto, homens e mulheres, devido a sua beleza andrógina, e ao seu estilo de vida invulgar que a caracterizava. Em Berlim, na companhia de Klaus Mann, seu grande amigo, Annemarie adota um estilo de vida boêmio. Círculos artísticos, contato com drogas, estados de embriaguez frequentes, faziam parte da sua vida noturna, vivendo perigosamente e tornando-se, mais tarde, tóxico-dependente.

Ao longo da sua breve vida (1908-1942), Annemarie Schwarzenbach, efetuou numerosas reportagens fotográficas pela Europa, Oriente Médio (Irã, Iraque e Afeganistão), África e América do Norte, destacando-se a sua passagem por Lisboa durante o Estado Novo.

As suas reportagens fotográficas, textos jornalísticos e literários, desempenharam a função de nos permitir entender o que era o mundo entre as duas Grandes Guerras. Foi-nos deixado todo um legado de imagens reais e estados de alma genuínos. Muito da personalidade de Annemarie consta nas suas obras, como por exemplo, “A morte na Pérsia”, obra que escreveu após ter enfrentado o isolamento no seu percurso pelo país.

Durante sua trajetória de vida casou com um amigo homossexual apenas por conveniência, e viveu algumas relações com mulheres, que resultaram em relações frustradas, sobretudo devido à sua dependência em relação às drogas. Travou lutas constantes contra essa dependência e contra a depressão. As viagens, assumiam uma forma de escape, e a fotografia e a escrita uma forma de entrega pessoal para com o mundo.

Annemarie Schwarzenbach morreu em 1942, vítima de uma queda de bicicleta, e de um diagnóstico equivocado. Deixou-nos um legado de imagens e textos literários que nos enchem a alma, um testemunho de vida surpreendente, recheado de coragem, e uma visão histórica de épocas difíceis de serem vividas.

Após a sua morte a mãe destruiu imediatamente os diários e as cartas de Annemarie. As fotografias e os trabalhos literários ficaram aos cuidados de um amigo e foram posteriormente arquivados no Arquivo de Literatura da Suiça, em Berna.

A sua vida e obra personificam a história de toda uma geração européia, que viveu entre as duas Grandes Guerras, num ambiente hostil, em que as interrogações existenciais conviveram com um mundo conflituoso e trágico. O legado desta autora contribui, assim, para entender a realidade e a imagem do mundo contemporâneo.
"Não tenho profissão. Poderia exercer qualquer uma. Viver em todas as cidades. Sentir-me em casa em todos os países." (Annemarie S.)

Fonte: Obvious, um olhar mais demorado...

Izabel Liviski, Mestre em Sociologia na linha de Imagem e Conhecimento pela UFPR e consultora da Contemporâneos, escreve quinzenalmente às 5ªs. no ContemporARTES.

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